O meia Elano revelou detalhes dos bastidores da final do Mundial entre Santos e Barcelona (Crédito: Joshua Law/YG Football)

 

Entrevista de Bruno Freitas e Joshua Law

Se o Santos foi dominante no século XX, o Barcelona é, para muita gente, o melhor time do planeta de 2001 para cá. Bom, pelo menos aquela versão que ainda tinha Xavi e Iniesta. E, por capricho do destino, as duas equipes se encontraram na final do Mundial de Clubes de 2011 – na partida que o técnico Pep Guardiola rotula como a melhor de seus gloriosos anos à frente do Barça.

“Eu cheguei a pedir para o Messi em campo: ‘pelo amor de Deus, dá uma segurada aí’”, contou Elano, na lembrança da goleada de 4 a 0 sofrida em Yokohama.

E Messi respondeu ao brasileiro: “Ele falou: ‘nós vamos ficar tocando a bola aqui. Se vocês não jogarem nós vamos para dentro’. Ele não falou que vai fazer ou não vai fazer. Falou: ‘vamos jogar’.”

O episódio relatado acima por Elano está presente na entrevista do ex-jogador para o Yellow and Green Football, site que cobre a atualidade do futebol brasileiro em inglês e que publica parte do conteúdo com o ídolo santista aqui, em uma parceria com o Diário do Peixe.

Elano também relatou que conversou sobre aquela final de 2011 com Guardiola, durante um breve estágio que realizou no Manchester City no ano passado, em sua preparação para atuar como treinador.

“O Guardiola até brincou na nossa conversa: ‘vocês correram pra caramba, né? É, meu time era muito bom’. Acho que qualquer time perderia aquela final para o Barcelona”, afirmou o bicampeão brasileiro de 2002 e 2004.

Confira abaixo parte das respostas de Elano. Para a entrevista completa, em inglês, acesse o Yellow and Green Football. Na íntegra do papo, o ex-jogador ainda analisa a fase atual do amigo Neymar e revela que recebeu uma sondagem do Real Madrid antes da partida em que se lesionou na Copa de 2010.

Apesar de estar trabalhando como comentarista na ESPN, o foco agora é a carreira de treinador?

Minha carreira de atleta teve muitas experiências dentro de campo, muitas experiências táticas. Minha carreira foi muito tática, hoje consigo analisar friamente. Quando eu retornei para o Santos em 2015, eu fiquei mais na retaguarda, internamente. Aquilo me fez pensar que era aquilo que nasci para fazer, aquilo que gosto. Minha experiência na ESPN tem sido fantástica, eles me deram a oportunidade de falar sobre os meus conceitos de futebol. O meu conceito de futebol é extremamente simples. Acho que a gente precisa gostar daquilo que faz, se dedicar e se preparar. Esse ano é propício para iniciar um trabalho. Já me sinto pronto. Claro que tenho muito a evoluir, mas já me sinto preparado.

Muito se falou sobre um convite do Santos para você assumir a equipe Sub-20. Por que isso acabou não acontecendo?

Eu sou um cara que não quero assumir um trabalho pela metade. Quero assumir pelo começo. Tenho uma equipe de pessoas comigo que entendem a minha linha de trabalho. Fazemos um projeto, não entrar para trabalhar dois ou três meses. Tenho 21 anos de atleta e acho que posso passar muitos conteúdos além do trabalho de técnico, conteúdos bons para o clube. Com o Santos, foi o seguinte: eu queria sentar na mesa com eles para explicar os conceitos do meu trabalho. Não houve essa conversa, por isso que não houve o acerto.

Como foi sua experiência no ano passado no Manchester City, clube em que você jogou? Você esteve lá com o Guardiola. Chegou a fazer um estágio, acompanhou os treinos de perto?

Eu tinha muitas saudades da Inglaterra, tenho uma relação muito forte com o país. Minha segunda filha nasceu lá. As portas do futebol europeu foram abertas ali. Meu time na Europa é o Manchester City, minha filha torce pelo City. Eu fui para lá ano passado para trabalhar, mas também para curtir a cidade, que não aconteceu quando estava lá como jogador. Fiquei dez dias no City e foi fantástico. Pude ver o melhor treinador do futebol europeu. É uma simplicidade de trabalho impressionante. Mas é um cara que cobra muito. Vi o Guardiola pegar o cara pelo braço, balançar a cabeça. Mas dentro de um conceito de respeito de trabalho. E depois do treino tive a oportunidade de conversar 30, 40 minutos com ele. Me receberam de braços abertos.

Eu fiquei dentro de campo vendo o treino, vendo tudo que o Guardiola fazia. E depois ficamos 40 minutos falando sobre futebol. Nós falamos sobre tática, sobre o time dele. Eu tirei algumas dúvidas sobre a pessoa. O Guardiola é o Guardiola, eu não vou conseguir fazer tudo do jeito que ele faz. Mas tem alguns conceitos que são fantásticos, que trouxe para a minha ideia de trabalho. Fiquei só dez dias, não posso dizer que é um estágio, mas trouxe conceitos.

Nós conversamos sobre a final do Mundial de Clubes, Barcelona x Santos, que ele fala que foi o melhor jogo que ele viu o Barcelona fazer. Eu brinquei com ele: infelizmente eu era o cara do outro lado. Falei para ele que estava começando como treinador, da minha experiência de nove jogos como interino no Santos, com seis vitórias. Ele me perguntou: “Você gosta?”. Eu disse: “eu amo”. Ele vibrou: “que maravilha, mais um que gosta”.

Você mencionou que conversou com o Guardiola sobre a final do Mundial de 2011. Você foi muito importante na Libertadores daquele ano, mas o Muricy resolveu te tirar do time contra o Barcelona no Japão. Foi muito difícil para você ter ficado fora naquele momento?

Nosso time era muito bom, além dos titulares tínhamos reservas muito bons. Na final do Mundial não esperava que saísse, porque tinha jogado a partida anterior. Mas foi bacana, porque ele (Muricy) me parou na saída do ônibus. Falou que me respeitava como profissional, mas que precisava mudar. Respondi: “agora não é hora nem de falar, professor. Vamos para o jogo”. Eu gosto de trabalhar com gente direta assim. Não teve problema nenhum. Não fiquei contente de estar no banco, até porque eu vinha jogando. Mas eu tive que entrar com 20 minutos, em uma necessidade do time. Aí não sabia se estava triste ou contente, já estava 2 a 0. Ele entendeu que aquela formatação de jogo seria melhor, faz parte.

Dentro de campo deu para ter a noção que era um dia iluminado do Barcelona, que não tinha nenhuma condição de vitória?

O (lateral direito) Pará estava do meu lado no banco. Na primeira bola do jogo, o Neymar e o Borges fazem uma jogada e chutamos uma bola por cima da trave. O Pará falou: “irmão, hoje vai dar a gente”. Aí os caras pegaram a bola na saída e já marcaram. Eu falei: “realmente, Pará, vai dar a gente”. Não dava, você não conseguia nem chutar os caras. Como o Guardiola fala no livro dele, é o melhor jogo que ele viu como treinador do Barcelona. Era um time muito qualificado. Eu conversei sobre isso com o Guardiola. Eu cheguei a pedir para o Messi em campo: “pelo amor de Deus, dá uma segurada aí”.

E o Messi chegou a te responder?

Falou, falou. Ele falou: “nós vamos ficar tocando a bola aqui. Se vocês não jogarem nós vamos para dentro”. Ele não falou que vai fazer ou não vai fazer. Falou: “vamos jogar”. Mas é difícil, estava 4 a 0. O Guardiola até brincou na nossa conversa: “vocês correram pra caramba, né? É meu time era muito bom”. Acho que qualquer time perderia aquela final para o Barcelona.