Pep Guardiola, Lucas Matheus e Carles Planchart, analista de desempenho do Manchester City (Crédito: Divulgação/Santos FC)

Eu estava lá, sentado no banco de reservas bem próximo ao campo onde os jogadores treinavam. Por mim, eu estaria escondido atrás de alguma árvore para não atrapalhar o treino, mas eles insistiram e me colocaram ali. À frente, um time de uniforme azul celeste corria. Três poltronas ao meu lado, sentava-se mister Pep Guardiola. Não foi nesse momento, mas eu chorei.

Chorei porque voltei no tempo, para Goiânia, de onde saí em busca do meu sonho: ser jogador profissional. As coisas nunca foram fáceis e eu só vim parar no Santos porque o meu primo, Crystian, teve uma chance na base e me trouxe junto. Não demorou e eu já estava no profissional, mas não para jogar: para arrumar computadores e celulares dos jogadores. Eu cresci em uma lan house e sempre fui ligado nessas coisas, então aproveitava para fazer uma graninha extra e mandar para a minha família.

Léo, Danilo, Edu Dracena e Arouca eram meus clientes. Quando descobriram o que eu estava fazendo, eu fui chamado pelo Sandro Orlandelli, pelo Zinho e pelo Sérgio Dimas para conversar. Quando entrei na sala, eles me pediram para desistir do meu sonho em prol de outro: fazer parte da comissão técnica do Santos. O meu sonho se tornou maior do que eu havia sonhado.

Naquela época, eu já fazia um relatório que desenvolvi com o Arzul em troca de ingressos para ver os jogos. Ele me dava uma entrada, eu ia para a arquibancada da Vila e anotava cada ação do goleiro em uma caderneta: passe, tiro de meta, defesa alta ou baixa. Eles gostaram e eu fui, então, o primeiro analista do Santos. Eu não tinha uma sala e sequer um computador.

E então entraram três clientes meus: Léo, Ricardo Oliveira e Danilo. Meu primeiro computador foi doado pelo Léo. Depois, o Ricardo Oliveira me deu uma máquina mais avançada. E então, com o Danilo, a história de Manchester começou. Eu entrei em contato com ele e perguntei se havia possibilidade de conhecer o Pep Guardiola. Ele me respondeu que não tinha problema e que era só escolher a data. Quando soube que eu estava juntando dinheiro para poder viajar a Inglaterra, ele comprou minha passagem. Mesmo assim, eu continuei juntando para me hospedar por lá e, então, uma nova surpresa: os jogadores do Santos se juntaram e pagaram minha hospedagem. O Sasha até me deu uma nota de 100 euros e, sinceramente, eu nunca tinha visto uma daquelas. Perguntei o que era e ele riu.

Os treinos do Manchester City são muito restritos e, mesmo assim, lá estava eu, sentado do lado de Pep Guardiola assistindo a tudo. Cortesia do analista da comissão, Carles Planchart, que eu vi assim que cheguei ao CT, chamei-o e expliquei de onde eu vinha. Não só ele, como toda a comissão me adotou. Foi uma recepção que eu não esperava, todos são muito humildes. Ouvi muito. Perguntei muito. Tive vergonha de ser chato, mas não parei. O respeito, a educação e a dedicação dos atletas tanto fora de campo quanto dentro, cumprindo seu papel tático a todo custo, me chamaram muita atenção.

Então, eles me levaram para a sala do mister Pep. Entreguei a ele uma foto do Serginho Chulapa autografada, pois ele é fã da Seleção Brasileira de 1982, e uma camisa do Renato de presente. Ele olhou e, incrédulo, disse: ‘Renato Florêncio? Do Sevilla? Quantos anos?’, ’38’, eu respondi. ‘Em alto nível? Ele é um clássico. Jogou contra o meu melhor Barcelona’. Nessa hora eu dei um abraço nele. Sim, foi aí que eu chorei.