A terceira passagem do técnico Cuca pelo comando do Santos repete o cenário da segunda e deixa claro uma característica do treinador: ele precisa trabalhar em meio ao caos para dar resultado.
Em 2018, Cuca assumiu com o Santos na zona de rebaixamento do Brasileirão. Antes da partida contra o Botafogo, pela 17ª rodada, o Peixe tinha 16 pontos e ocupava a 17ª colocação na classificação.
Com aquele discurso de família, treinos com ciranda cirandinha, disputa “nós” (jogadores e comissão) contra eles (presidente e diretoria), o Santos chegou até a sétima colocação após a 31ª rodada, com 46 pontos ganhos. O sonho da Copa Libertadores ficou mais perto.
Era o momento em que Cuca precisava ser técnico. Não estava mais no caos, estava brigando pelas primeiras colocações do Campeonato Brasileiro. O elenco tinha Bruno Henrique, Gabigol e Rodrygo no ataque. Mas o Santos só ganhou quatro pontos nas últimas sete rodadas e terminou o campeonato bem distante da zona de classificação para a Copa Libertadores, na décima colocação.
Neste ano, Cuca chegou após a eliminação vergonhosa no Paulista, com os torcedores colocando como meta 45 pontos no Campeonato Brasileiro para escapar do rebaixamento, sem poder contratar e com presidente em meio a um processo de impeachment.
Voltaram os treinos com ciranda cirandinha, o discurso de família, a blindagem ao elenco, que o tratava como “presidente”, como disse o atacante Marinho em entrevista ao programa Bem Amigos.
O Santos rapidamente conseguiu bons resultados e entrou novamente na briga por uma vaga na Copa Libertadores. Em paralelo a isso, houve uma mudança na presidência, o pagamento de parte das dívidas, chegaram profissionais para, em teoria, organizar o departamento de futebol do clube.
Se o caos não acabou, ao menos diminuiu. E o Santos começou a precisar do Cuca técnico e esse tem falhado constantemente, como em 2018.
Contra o Fluminense, uma escalação sem qualquer sentido. Só para colocar Laércio, o Felippe Cardoso de 2020, em campo, Lucas Veríssimo, um dos melhores zagueiros do Brasil, foi para o lado esquerdo da zaga e Luan Peres para a lateral. No ataque, para acomodar Lucas Braga, Marinho, um dos destaques do Brasileirão, foi para o meio.
Claro que não funcionaria. No intervalo, Cuca já tirou Laércio para corrigir o primeiro problema na zaga, mas acertou apenas na saída, não na entrada. Com Jean Mota e Lucas Lourenço no banco, ele optou por Arthur Gomes. No ataque, manteve Lucas Braga.
Com 14 minutos do segundo tempo, Cuca tirou Lucas Braga para colocar o garoto Ângelo, que entrou para fazer história (e um marketing). O garoto superou Pelé e tornou-se o segundo mais jovem a estrear pelo Santos, que já perdia por 2 a 1 para o time carioca. Claro que ele quase não tocou na bola e depois do jogo Cuca pediu paciência.
Contra o Ceará, Cuca começou o jogo com Jean Mota (aquele que não entrou no domingo na meia) e trocou a posição de Lucas Braga com Marinho no ataque. Lucas Braga, mais uma vez, foi uma figura nula em campo.
Com a expulsão de Lucas Veríssimo, Cuca tirou Jean Mota para a entrada de Luiz Felipe e o Santos ficou completamente sem meio-campo. E Lucas Braga lá no ataque sem qualquer participação.
O Ceará cresceu muito no começo do segundo tempo e Cuca viu que precisava de mais força no meio. Tirou Jobson para a entrada da Sandry e Lucas Braga continuou no ataque sem qualquer utilidade. Defensivamente, o time melhorou com a entrada de Sandry, mas não teve qualquer força ofensiva.
Quando tentou melhorar o ataque, Cuca, enfim, tirou Lucas Braga e Soteldo e colocou em campo Arthur Gomes e Tailson.
Hã?
Tailson? E o Ângelo?
Ah, já bateu recorde. Vamos ter paciência com ele.
O Santos ficou 12 jogos sem perder na temporada. Saiu do caos. Ns últimos cinco jogos, são duas vitórias, duas derrotas e um empate.
O elenco não é grande e muito bom, mas o time (os 11) é muito competitivo. É melhor que o do Atlético-GO (derrota na Vila), que do Fluminense (derrota no Rio) e que o do Ceará (empate na Vila).
Agora o Santos precisa do Cuca técnico. E não acredito que ele vai entregar algo muito produtivo.
Com ele, o cenário precisa ficar bem pior antes de melhorar.