Holan fez estreia pelo Santos neste sábado (Crédito: Ivan Storti/Santos FC)

Perder nunca é bom, perder um clássico é pior ainda, perder um clássico por goleada é motivo para uma profunda reflexão. A estreia do técnico Ariel Holan frustrou a alta expectativa do torcedor do Santos, mas ela precisa ser entendida dentro de um contexto.

O técnico argentino comandou apenas quatro treinos no clube. Não contou ao menos com três titulares (Pará, Marinho e Kaio Jorge), os titulares que entraram em campo estavam de volta após uma folga de dez dias e o gramado não oferecia a menor condição de jogo no início da partida.

Logo, não dá para analisar as ideias do treinador, mas podemos comentar as decisões tomadas por ele. E a primeira decisão de Holan para o jogo foi altamente positiva. O treinador sequer relacionou Tailson e Arthur Gomes para o clássico. Era algo que os torcedores pediam há tempos e o argentino atendeu logo em sua estreia.

No gol, ele escolheu John para ser titular muito porque ele tem uma qualidade melhor para jogar como os pés (o mesmo argumento de Jorge Sampaoli para utilizar Everson). Holan abriu mão de João Paulo, um goleiro, na minha opinião, melhor embaixo das traves, um goleiro que eventualmente faz milagres.

Com o tempo, Holan terá de pesar o que terá mais impacto para o time: a capacidade de John jogar com os pés ou as defesas milagrosas de João Paulo.

Qualquer que seja a escolha do treinador para o futuro, ele terá de conversar com o preparador de goleiros, Arzul, para pedir mais trabalho na saída do gol, tanto por baixo quanto por cima. Parece que os goleiros do Santos não tem leitura de jogo, é uma deficiência crônica, desde Vanderlei, passando por Everson e os três atuais (e podem trabalhar cobranças de pênalti também).

Na defesa, Holan optou pela experiência de Luiz Felipe em detrimento ao garoto Kaiky Fernandes. Talvez tenha sido o maior erro do técnico, compartilhado com o clube. Se o Santos havia decidido emprestar Luiz Felipe para a Chapecoense (e o acordo não saiu porque o jogador pedir para ficar), não fez o menor sentido colocá-lo em campo com titular no clássico. E o erro custou caro por mais uma atuação muito ruim do defensor.

Se fosse diretor do Santos, já teria feito durante a semana. Depois do clássico, é ainda mais urgente. Alguém precisa sentar com o zagueiro e falar claramente: é Chapecoense ou Sub-23. No profissional não dá mais.

Na lateral, Sandro fez um bom primeiro tempo, mas falhou muito no segundo e comprometeu. Aqui não tem culpa nem do técnico e nem do atleta. Era a melhor opção possível para o momento e, no processo acelerado de utilização de jogadores da base (pelo momento do clube), os erros naturais do aprendizado vão aparecer. Esse é o maior problema de acelerar a promoção de alguns garotos. Algumas respostas podem demorar mais que outras.

No meio-campo, Holan começou com Alison, como já era esperado. Sampaoli começou a temporada com Alison como titular também, mas aos poucos ele foi perdendo espaço e atuou em partidas específicas. Acredito que acontecerá a mesma coisa com Holan.

Holan também deu algumas broncas e e chamou a atenção em Sandry, o que me parece um grande acerto. O garoto tem uma capacidade muito acima da média, uma qualidade de passe incrível, mas me parece que um misto de soberba, auto-confiaça e displicência algumas vezes fazem o jogador forçar passes sem necessidade. Em um deles, o erro originou um dos gols do São Paulo. Acho que Holan vai contribuir muito com o crescimento de Sandry, que provavelmente será o primeiro volante do time (como foi Pituca com Sampaoli).

No ataque, a decisão de Holan antes do jogo também foi elogiável. Ele decidiu escalar Bruno Marques na vaga de Gabriel Pirani em cima da hora pela condição do gramado (Pirani chegou a aparecer na escalação oficial). E no primeiro tempo, com o campo sem condições de jogo, a força física de Bruno Marques ajudou o Santos a ser levemente superior ao São Paulo.

No segundo, com o campo pedindo mais jogo e menos briga, o rendimento do atacante caiu, o que é normal. E Marcos Leonardo entrou sem ter feito ao menos um treino com o Holan (ele estava com a Seleção Sub-18).

A última decisão de Holan foi pós-jogo e levanta uma certa preocupação. O técnico falou claramente que o Santos perdeu por erros individuais. Quem viu o jogo sabe de quem foram os erros. Esse tipo de atitude normalmente repercute mal nos vestiários e não podemos esquecer que o vestiário estava acostumado com um paizão e não com um técnico de verdade.

Não foi uma grande estreia, mas também não podemos esquecer que o São Paulo está trabalhando com Crespo há muito mais tempo, está em um momento de trabalho mais adiantado. E Crespo, como defendo desde o meio do ano passado (bem antes de ser modinha), é (ou ainda vai ser) um grande técnico.

Esperamos que na terça, com mais tempo de treinar, sem Luiz Felipe e com o gramado em condições, a gente possa analisar as ideias de jogo do treinador e não apenas as decisões de Holan.