O atacante Kaio Jorge assinou um pré-contrato com a Juventus (Crédito: Ivan Storti/SantosFC)

O advogado Marcos Motta, um dos principais em direito esportivo no Brasil, tem uma frase para negociações como a do atacante Kaio Jorge, do Santos.

“Quem controla o jogador, controla a operação”.

Infelizmente, pelo cenário fragilizado do futebol brasileiro e de todos os seus clubes, o “controle” dos jogadores não está com as agremiações. Ele passou para os empresários de futebol, um player inevitável do mercado, mas que ganhou superpoderes pela péssima administração esportiva brasileira.

O caso de Kaio Jorge é um exemplo clássico. Sem dinheiro, o Santos, na gestão de Modesto Roma Jr, pediu um empréstimo milionário para Giuliano Bertolucci, que tinha acesso aos principais destaques das categorias de base do Peixe. Ele tinha Giovanni (que já saiu praticamente de graça), tem Sandry, Kaio Jorge, Kaiky, entre outros.

Para piorar, José Carlos Peres, que vivia com o discurso de que não conversava com empresários, não pagou o empréstimo durante a sua gestão e, claro, inviabilizou qualquer conversa para a renovação contratual do jogador.

No início da gestão de Andres Rueda, o Santos se reaproximou de Bertolucci. Negociou a dívida, conseguiu a renovação de Sandry (lesionado), contratou Vinícius Zanocelo e Fernando Diniz com a participação do empresário, o primeiro pagando um empréstimo de R$ 500 mil (valor alto para o momento do clube).

O Santos, então, acreditou que tinha em Bertolucci um parceiro. E o presidente Andres Rueda deu diversas entrevistas dizendo que estava confiante na renovação. Quando percebeu que estava sendo “cozinhado”, o Santos negociou de clube para clube com o Benfica e conseguiu uma ótima proposta pelas circunstâncias do contrato.

Aí eu me lembrei da fábula do escorpião e do sapo. Os dois precisavam cruzar um rio. O escorpião pediu ao sapo para levá-lo em suas costas. O sapo recusou, dizendo que seria ferroado durante a travessia. O escorpião, então, retrucou dizendo que, se fizesse isso, ele também morreria afogado. O sapo topou a proposta e, no meio do rio, foi ferroado e os dois morreram afogados.

A moral da história é de que o escorpião não pode fugir da sua natureza.

Giuliano Bertolucci não gostou do acordo com entre Santos e Benfica e conseguiu um pré-contrato para Kaio Jorge com a Juventus, que deve oferecer uma bala jujuba para o Peixe para levar o atacante agora em agosto.

Nada do que foi descrito acima é ilegal, faz parte do jogo, do mercado.

Agora, a decisão que o Santos precisa tomar pode dar uma clara sinalização para o mercado. Se ficar com a bala jujuba e liberar Kaio Jorge, o clube vai confirmar a situação de inferioridade nessa relação, que hoje só tem ônus para os clubes e bônus para os empresários.

Se recusar a jujuba e mantiver Kaio Jorge, independentemente dele jogar ou não (eu colocaria para jogar na Copa Paulista), o Santos pode dar um primeiro sinal de força ao mercado. Vai deixar de ganhar uma “esmolinha” na transferência, mas deixará claro para todos os players que a decisão final sobre os seus atletas pertence ao clube.

O Santos caminha em um processo de profissionalização muito interessante com Andres Rueda. Acredito que não precisará de empréstimos de empresários e espero que realmente crie mecanismos para impedir que destaques da base tenham brilho no profissional em condições delicadas de contrato.

O PSG deu um recado claro ao mercado recentemente. Neymar queria ir e acertou um contrato com o Barcelona, que ofereceu alguns caminhões de balas jujubas ao clube francês. O PSG não aceitou, manteve Neymar e até conseguiu uma renovação contratual.

Claro que a recusa só foi possível pela situação financeira do clube. Por isso que é preciso fortalecer a instituição Santos. Quanto mais forte ela for, mais cartas o clube terá na mesa nas negociações (em todas elas).

Só assim para o Santos, realmente, poder controlar os jogadores e as operações.