Lisca foi um dos palestrantes (Crédito: Guilherme Lesnok)

O técnico Lisca participou do evento Brasil Futebol Expo, em São Paulo, palestrando no painel “Desafios para se tornar um vencedor. Ao lado do ex-jogador Edmilson e de Mizael Conrado, atual presidente do comitê paralímpico brasileiro, o treinador parecia incomodado com a derrota para o Goiás, na segunda.

Ao ser chamado por Gabriel Bussinger, ex-treinador do próprio Peixe e que foi responsável por ministrar o painel, recebeu aplausos do público e, em seguida, agradeceu o convite.

“Agradeço pelo convite, principalmente depois da porrada de ontem, perder o jogo da forma que foi. Pensei em casa sobre vir, um dia não muito bom. Mas confesso que a energia mudou quando cheguei aqui, com o carinho do público. Encontrei vários amigos”, disse Lisca.

Com o tempo, o treinador foi se soltando, contou histórias, fez imitações e arrancou risadas de quem esteve presente. Em certo momento, Bussinger elogiou o treinador e disse que já o considera “campeão” por ter saída da Série D para um clube de Série A.

E o tão sonhado título?

Lisca, apesar de agradecer, diz que chegou o momento de “levantar uma taça” de campeão após tanto tempo no dia a dia. Ele chegou a contar um pouco de sua história e passagens por outros clubes, como Internacional, Ceará, América-MG, Vasco da Gama e Sport.

“São 33 anos de carreira abrindo mão de muita coisa. Quando eu tinha 18 ou 19, meus amigos estavam nas festas e eu estava dormindo porque tinha jogo cedo. Nunca tive fim de semana na vida. Para quem trabalha com futebol tem que se dedicar e abrir mão de muita coisa para chegar entre os melhores. Sou um cara realizado na minha vida”, disse o treinador.

“Futebol é muito mais do que ganhar, empatar ou perder: é sonho, amor e compaixão. O futebol é um reflexo da vida. Aprendi muito com ele, mudou minha vida, me fez ter contato com as mais diversas pessoas das mais diversas classes sociais. Foi com o futebol que passei a ter consciência do mundo e da vida. Sou grato ao futebol por isso. Para você ser um campeão é um trabalho árduo, mas prazeroso. Pretendo um dia me tornar um grande campeão também”, completa.

O que vale mais que ser campeão? 

Lisca conquistou alguns títulos: Campeonato Gaúcho Segunda Divisão de 2009 (Porto Alegre), Copa Governador de Mato Grosso e Copa Pantanal em 2011 (Luverdense), Copa FGF em 2012 (Juventude) e Taça Asa Branca em 2016 (Ceará).

Nenhuma dessas conquistas são consideradas grandes em território nacional. Mas Lisca vê o futebol “além” de títulos e cita o exemplo em que viveu no Ceará, escapando do rebaixamento.

“Tenho uma história linda no Ceará. Tínhamos mais de 90% de chances de rebaixamento e nos mantemos na Série A. A torcida fez a música que todos vocês conhecem e eu ganhei um busto no clube: “Lisca Doido, uma história que jamais será esquecida”. Me fala um título que vale mais do que isso”, comenta.

Gritos de “burro” no Mato Grosso:

O Santos empatou em 0 a 0 com o Cuiabá, fora de casa, e recebeu muitas críticas. Isso porque, na reta final do confronto, sacou o venezuelano Soteldo do time para “fechar” melhor a marcação da equipe. A reação negativa foi instantânea.

“Eu olhei para o Soteldo. Ele não estavam conseguindo respirar, então decidi me fechar nos últimos cinco minutos. E aí resolvi tirar o Soteldo, que estava cansado. Que cagada que eu fiz. O estádio veio abaixo lá no Mato Grosso me chamando de burro, burro, burro”, brinca.

Qual o segredo para conquistar os jogadores, Lisca?

O dia a dia do futebol vai muito além do que está ao nossos olhos. Lidar com um elenco cheio, sabendo que apenas 11 jogadores entram em campo, não é uma missão fácil. E é isso que Lisca defende em seu trabalho: a lealdade.

“Jogador de futebol gosta da verdade, lealdade e de critério. Tudo que é combinado com jogador não custa caro. Os jogadores precisam de carinho e compaixão, principalmente. Compaixão é se botar no lugar do jogador. Muitas vezes o treinador toma atitudes sem ver o lado do jogador, como recebe uma determinação, não ser convocado ou não entrar no jogo. Os treinadores são chatos da turma, colocamos 11 e substituímos cinco. São 16 ou 17 sem jogar. E eu dedico meu maior tempo a eles, os que não jogam. É o mais importante para um gestor de qualidade. Eu sempre prezei por isso na minha carreira”, afirma o treinador.

E o trabalho do técnico Lisca na base?

O Santos é um time conhecido mundialmente por revelar grandes promessas. Lisca revelou que, recentemente, em conversa com garotos da base e falou sobre salários de grandes astros do futebol. A resposta surpreendeu.

“Conversei com os meninos do sub-17 há 15 dias e perguntei se eles tinham noção de quanto ganhavam destaques que surgiram no Santos, como Neymar e Gabigol. E um dos meninos falou 80 mil reais por mês. O menino não tinha noção. Temos que ajudar a mostrar o caminho. Ajudar a ser um cidadão do mundo, principalmente um pai de família. Somos privilegiados, trabalhamos com o nosso hobby, com a nossa paixão. Dentro da realidade do país, quem trabalha nas séries A e B recebe muito bem. É uma minoria. A maioria é salário mínimo”, comenta.

Celular tocou:

Não é de hoje que o treinador elogia a gestão do presidente Andres Rueda. Antes de seu painel, Lisca compareceu ao encontro entre os presidentes Julio Casares, do São Paulo, Thiago Scuro, presidente do Red Bull Bragantino, e Andres Sanches, ex-mandatário do Corinthians. E brincou com a situação.

“Estava vendo a palestra do presidente Andres Rueda e vi meu celular, pipi, a notificação do salário. Mesmo com a derrota de ontem, o salário caiu. O presidente preza por isso, pelo cumprimento. Está resgatando o Santos. Os profissionais vencedores precisam se associar a pessoas e clubes com essas premissas”, comenta o treinador.

Em que divisão o Santos está, Lisca?

Em uma das respostas, Lisca foi fala sobre uma situação em que viveu na Vila, na derrota para o Goiás. Mas, o fato curioso, é que o treinador errou a divisão em que o Peixe está. Como de costume, encarou a situação com bom humor.

“A torcida que tirar o Madson de qualquer jeito. Ontem me diziam para tirar ele e o Felipe Jonatan. Quase que eu olhei e disse: ‘Vocês sabiam que o Santos tem a melhor defesa da Série B?’. Ops, Série A. Se o presidente ouve isso eu tô roubado (risos). Corta essa parte”, afirma.

O Lisca é doido?

Lisca ainda revelou que passou a noite em claro após a derrota para o Goiás. Sem sono, acompanhou a partida de tênis entre o espanhol Carlos Alcaraz e o croata Marin Cilic. Por fim, voltou a reafirmar uma frase importante dita  ainda em sua apresentação.

“Eu não sou doido, não rasgo dinheiro, não como grama e não vou sair pelado por aí”.