
Sampaoli fez 65 jogos no comando do Peixe (Crédito: Ivan Storti/Santos FC)
Chegou ao fim a passagem de Jorge Sampaoli pelo Santos. O ano de 2019, com o comando do argentino, foi de bom futebol, alegrias, goleadas sofridas, eliminações, carinho da torcida e brigas nos bastidores. O treinador deixa o clube sendo muito querido pelo torcedor.
Sampaoli comandou o Santos em 65 partidas, foram 35 vitórias, 15 empates e 15 derrotas, um aproveitamento de quase 77% dos pontos. Nas 65 partidas que fez na temporada, foram 93 gols marcados e 56 sofridos. Além dos números, foi o futebol bonito que fez Sampaoli conquistar o coração dos torcedores. O Peixe fez ótimas partidas ao longo do ano, incluindo a última, contra o Flamengo.
Se os números e o futebol agradaram, faltaram títulos para coroar a temporada do Santos de Sampaoli. A equipe amargou três eliminações ainda no primeiro semestre. O Peixe caiu para o Corinthians na semifinal do Paulistão, para o Atlético Mineiro nas oitavas da Copa do Brasil e para o River Plate (Uruguai) na primeira fase da Copa Sul-Americana. Goleadas sofridas para Ituano, Botafogo (Ribeirão Preto) e Palmeiras também marcaram o ano.
Se com a torcida foi uma relação de amor, nos bastidores do Peixe a relação de Sampaoli sempre foi conturbada. Foram inúmeros atritos do treinador com o presidente José Carlos Peres. O técnico fez cobranças públicas por reforços e por uma administração mais profissional. Por outro lado, o presidente chegou a pedir escalação de jogadores, como no caso Cueva.
O trabalho de Jorge Sampaoli no Santos chegou ao fim nesta terça-feira, mas a relação parece longe de terminar. O treinador nega ter pedido demissão, como alega o clube. O caso pode ir parar na justiça.
Confira a linha do tempo da passagem de Sampaoli no Santos
16/12/2018 – Técnico desembarca no aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, e é recebido com festa por dezenas de torcedores do Santos.
18/12/2018 – Sampaoli é apresentado no Museu do futebol com um discurso de tentar estar à altura de um clube da grandeza do Santos.
“Vamos desfrutar do jogo, protagonizar o jogo, fazer com que cada jogador do Santos tenha claro o lugar onde está
Nosso estilo será sempre o mesmo: um time compacto tanto no campo de defesa quanto no de ataque, que saiba criar muitas chances de gol. E tudo será comandado pela bola. Tenho visto muitos times no mundo que não querem ficar com a bola, mas aqui a bola vai ser o instrumento mais importante, tanto para defender quanto para atacar”, afirmou o treinador.
19/1/2019 – O Santos estreia no Paulistão com vitória por 1 a 0 diante da Ferroviária, mas surge o primeiro atrito público entre o técnico e a diretoria. Negociado com o Flamengo, o atacante Bruno Henrique não apareceu na apresentação para o jogo. O treinador não foi informado sobre a transferência do atleta e contava com ele para a partida.
“Só posso explicar que não se apresentou, seria titular. Tenho de falar com a diretoria para saber o que realmente ocorreu, o motivo de não aparecer e nem comunicar. Seria titular em um jogo oficial, e sempre falei que ele é ótimo. Não sei o que vai ocorrer, é algo entre ele e a dirigência. Nesse tipo de situação sobre poder sair, ganhar mais dinheiro, não há possibilidade de o treinador ou o presidente terem ingerência. Quem manda são os empresários, dizem para não se apresentar e ele não vem”, afirmou.

27/1/2019 – O Santos dá o primeiro grande sinal do que poderia acontecer na temporada e amassa o São Paulo no Pacaembu pela terceira rodada do Paulistão. O jogo terminou 2 a 0 para o Peixe, mas o rival não teve qualquer chance de gol e o placar poderia ter sido muito mais elástico.
03/2/2019 – Em uma partida com falhas graves do zagueiro Felipe Aguilar, o Santos sofre a primeira goleada na temporada, um 5 a 1 diante do Ituano, em Itu. No dia 20/3, a equipe sofreria a segunda goleada no Paulistão, um 4 a 0 diante do Botafogo, em Ribeirão Preto.
26/2/2019 – Depois de empatar em 0 x 0 no Uruguai, o Santos fica no empate em 1 a 1 com o River Plate-URU no estádio do Pacaembu (com portões fechados) e sofre a primeira eliminação na temporada, na Copa Sul-Americana.
Marco de 2019 – Mais uma vez, os atritos entre o presidente José Carlos Peres e o treinador se tornam públicos. Jorge Sampaoli afirma ter devolvido seus salários porque não queria receber antes dos jogadores, que tinham os vencimentos atrasados. A diretoria negou a devolução.
“A condição financeira do clube não tenho motivo para saber. Cheguei com o conhecimento do elenco, da necessidade que tinha, da necessidade da equipe. É uma realidade que o clube tinha que resolver. Santos é um clube de grande história, e o clube tem que estar à altura, os dirigentes também”, afirmou.
08/4/2019 – O Santos faz uma partida impecável e vence o Corinthians por 1 a 0 no Pacaembu, em jogo em que o time amassou o rival, mas parou nas inúmeras defesas do goleiro Cássio. Nos pênaltis, Victor Ferraz e Kaio Jorge desperdiçaram cobranças e o Peixe sofreu a segunda eliminação no ano.
28/4/2019 – O Santos estreia no Campeonato Brasileiro com uma vitória surpreendente e convincente sobre o Grêmio, em Porto Alegre.
18/5/2019 – Jorge Sampaoli poupa jogadores e o Santos é goleado por 4 a 0 pelo Palmeiras no estádio do Pacaembu, em São Paulo.
06/06/2019 – O Santos perde para o Atlético-MG por 2 a 1 no estádio do Pacaembu, em São Paulo, e é eliminado nas oitavas de final da Copa do Brasil. É a terceira eliminação do Peixe na temporada.
Julho de 2019 – Jorge Sampaoli manda um e-mail para o presidente José Carlos Peres cobrando o atraso de três meses no pagamento dos direitos de imagem, falta de reforços durante a pausa da a Copa América, partidas fora da Vila Belmiro e falta de pagamento de premiações. O presidente promete quitar as dívidas com a segunda parcela da venda de Rodrygo para o Real Madrid.
28/07/2019 – O Santos venceu o Avaí por 3 a 1 na Vila Belmiro e assume a liderança do Campeonato Brasileiro. Foi a sexta vitória seguida da equipe na competição de uma série de sete, que terminou na derrota por 3 a 2 diante do São Paulo, no Morumbi.
Torcedores levam uma bandeira para a Vila Belmiro com a imagem do treinador.
Agosto de 2019 – O Santos contrata o lateral Pará, o zagueiro Luan Peres e o atacante Lucas Venuto. Sampaoli afirma que as indicações não foram dele, que os nomes que ele pediu naquele momento o clube não conseguiu contratar. Diretoria afirma que os jogadores foram pedidos pelo técnico no começo do ano.
Setembro de 2019 – Perguntado sobre o não aproveitamento de jogadores revelados pelo clube, Jorge Sampaoli detona o trabalho das categorias de base do Peixe.
“Santos tem que reestruturar sua força básica com os menores. Produtividade do sub-20 e sub-23 não é boa e não há jogadores destacados nas divisões. Ou pelo menos não estão se destacando. Se faz cinco gols no sub-20, teria que revisar o motivo de eu não utilizar”, afirmou.
Outubro de 2019 – O DIÁRIO DO PEIXE revela que o Comitê de Gestão do Santos aceitou tirar a multa contratual do técnico. O então superintendente de futebol do clube, Paulo Autuori, entendia que a multa aumentava a discórdia entre o técnico e o presidente e trabalhou para que ela fosse retirada. O novo prazo da multa vencia no dia 10 de dezembro. Após a publicação da matéria, diretores do clube negaram a retirada da multa, mas Sampaoli tratou o assunto como “confidencial”.
Novembro de 2019 – O Santos garante vaga na Copa Libertadores de 2020, mas surgem as primeiras entrevistas do técnico condicionando sua permanência no clube na próxima temporada a um projeto competitivo, com possibilidade de disputar os títulos com Flamengo e Palmeiras.
8 de dezembro de 2019 – Com uma exibição de gala, o Santos goleia o campeão Flamengo por 4 a 0 na Vila Belmiro e a torcida, mais uma vez, solta o grito de “Fica, Sampaoli”.

Santos deixou a melhor atuação no Brasileirão para a última rodada (Crédito: Ivan Storti/SantosFC)
9 de dezembro de 2019 – Jorge Sampaoli se reúne por cerca de quatro horas com o presidente José Carlos Peres, cobra investimentos no time e pede a retirada da multa da comissão técnica. Parte da diretoria do Santos entende como um pedido de demissão.
10 de dezembro de 2019 – Às 23h40min, o Santos comunica no site oficial que Jorge Sampaoli pediu a demissão na reunião da segunda e que o caso foi analisado pelo departamento jurídico e de recursos humanos.
O trabalho do Sampaoli foi bom, considerando que foi o primeiro ano de trabalho do argentino no Santos e no Brasil. Os jogadores assimilaram rapidamente o esquema de jogo de muita intensidade, com marcação alta sobre o adversário, impondo o jogo ofensivo mesmo fora de casa. Jogadores acomodados, fora do peso, foram escanteados. Para brigar por títulos faltou alguns ajustes, que poderiam vir no próximo ano. Na etapa final do Brasileirão, a exceção do jogo contra o Pathetico, o Sampaoli adotou uma formação mais convencional e inventou menos, de modo que deu a impressão que o seu trabalho tinha amadurecido. No início, as mudanças constantes na escalação, os improvisos, preterindo jogadores da posição para usar improvisados e, principalmente, o esquema suicida de três zagueiros com um deles jogando de lateral, parece que eram mais uma questão de marketing pessoal do que uma opção tática para vencer os adversários. Aquela estória de que não estava preocupado com o resultado, mas com a manutenção da sua identidade… Depois de um período no ostracismo, o súbito destaque que o elevou ao patamar de celebridade deve ter mexido com seu ego. Até a postura inquieta à beira do campo, com muita dramaticidade, parece que tinha como objetivo a projeção midiática. Enfim, nos últimos jogos o time parecia mais competitivo. O auge foi a partida contra o Flamengo, num jogo quase perfeito (errou ao colocar Jean Mota, quando deveria ter colocado o Kayo Jorge). Entre erros e acertos, fez o time ser respeitado pelos adversários e manteve a imagem de time grande que joga para frente. Apesar das invenções malucas, o Santos de 2019 foi um time que deu gosto de ver em campo. Que o próximo técnico tenha a mesma postura de futebol,ofensivo, marcação alta, transição rápida, sem invenções malucas e que olhe para os jogadores da base.
O aproveitamento está errado.
Vitórias: 35 vitórias × 3 pontos = 105 pontos
Empates: 15 empates × 1 ponto = 15 pontos
Derrotas: 15 derrotas × 0 pontos = 0 pontos
Total de pontos obtidos = 105 + 15 + 0 = 120 pontos
Pontos disputados:
Total de jogos = 35 vitórias + 15 empates + 15 derrotas = 65 jogos
Pontos disputados = 65 jogos × 3 pontos = 195 pontos
120 / 195 * 100 = 61,54%