Entenda o que 'afasta' Miguelito de oportunidade no profissional do Santos

Miguelito tem atuado pelo Sub-20 do Santos (Crédito: Guilherme Greghi/Santos FC)

Por Lucas Barros e Laura Marcello

O meia-atacante Miguelito, do Sub-20, é há tempos um grande nome das categorias de base do Santos e muitos torcedores esperam por uma sequência do jogador no time profissional. Porém, o garoto ainda não teve muitas oportunidade para brilhar com a camisa do Peixe.

O Diário do Peixe apurou que três fatores “atrasaram” a promoção definitiva do jogador: a morte da mãe, no início do ano passado, uma dúvida física do departamento de futebol e o deslumbramento com a carreira ‘afastaram’ o Menino da Vila de estar atuando pelo principal.

Miguelito estreou no profissional do Peixe no fim de 2022, com Orlando Ribeiro, técnico do Sub-20 que foi interino no comando do principal na época. Na virada de ano para 2023, o jogador estava dentro dos planos do comissão técnica do time e chegou a viajar para Atibaia durante a pré-temporada ainda com o técnico Odair Hellmann.

No entanto, em janeiro, ele encarou o falecimento da mãe e uma pequena lesão muscular, que o tirou do time principal. Com a cabeça abalada, sem a base familiar, o jogador acabou se deslumbrando com a carreira. Não foi para “a noite”, não faltou a treinos, mas a “fama” deu a ele “assédio” feminino. Ele também aproveitou o “status” para se aproximar de torcedoras e pessoas próximas do clube. Os relacionamentos pessoais e suas consequências afetaram o foco do boliviano.

O deslumbramento também atrasou a sequência dele na Seleção da Bolívia. Apontado como uma das esperanças do país, chegou como uma “estrela” na primeira convocação e incomodou jogadores mais experientes da equipe. Com a imagem desgastada, não foi utilizado nos últimos compromissos da Bolívia pelas Eliminatórias.

Hoje, Miguelito vive um momento de reconstrução e também passa por trabalho de psicólogo fora do clube. Pessoas próximas ao jogador afirmam que Miguel colocou a cabeça no lugar e voltou a focar apenas no campo, mas ao clube agora tem dúvida física. O Departamento de Futebol entende que há uma diferença dos garotos que são promovidos da base para o profissional e que ele ainda não consegue suportar a intensidade de uma partida de profissional.

Inclusive, o companheiro e atacante Enzo Monteiro precisou passar por fortalecimento muscular antes de ganhar oportunidade. Em alguns registros durante o ano, foi possível observar o garoto treinando na rua, no famoso Monte Serrat, buscando o melhor condicionamento.

A diferença física é ainda mais gritante com Miguelito. Por ser estrangeiro, ele não pôde atuar em competições oficiais por quatro anos. Dos 14 aos 18 anos ele ficou atuando apenas em torneios extraoficiais, que não são tão competitivos. Em 2023, o Santos viu o boliviano perder testes físicos para Lucas Lima, Nonato e Ed Carlos, concorrentes de posição na época.

O Santos dá apoio ao atleta, que tenta buscar o melhor momento se destacando na categoria Sub-20. Ao mesmo tempo, ele é um dos oito Meninos da Vila inscritos na Série B do Campeonato Brasileiro ao lado do goleiro João Pedro, dos zagueiros Jair e Samuel, dos laterais João Victor Souza e João Pedro Chermont, do volante Hyan e do atacante Enzo Monteiro.

No meio-campo atual santista no profissional, João Schmidt, Diego Pituca e Giuliano fazem parte da ‘trinca’ titular do técnico Fábio Carille. No banco, a comissão técnica ainda tem as opções de Tomás Rincón, Nonato e Cazares. Além disso, existe uma expectativa da gestão de dar minutos à base, mas dar a responsabilidade do acesso à Série A aos mais experientes.

Na próxima semana, o representante de Miguelito deve se reunir com Alexandre Gallo, diretor de futebol do Santos, para alinhar sobre o futuro do garoto diante de um projeto de carreira que o clube tem com Miguel.

RELEMBRE O HISTÓRICO DE MIGUELITO NO SANTOS

A relação de Miguelito com o Santos iniciou em 2018. Ele fazia parte do Projeto Bolívia 2022 e veio disputar um amistoso contra a categoria Sub-15, no CT Rei Pelé, que terminou empatado. Idealizado por Jordi Chaparro, o projeto não tem fins lucrativos e consiste em captar garotos no país boliviano a fim de desenvolver os atletas.

Quando o Projeto veio ao Brasil, atuou em outros amistosos. O time boliviano perdeu para o São Paulo, ganharam do Palmeiras e do Corinthians e tiveram o empate santista. No Rio de Janeiro, empataram contra o Fluminense e ganharam de Vasco, Botafogo e do Boavista. Emerson Ballio era o técnico do Sub-15 enquanto Fabrício Monte era o auxiliar.

João Roberio Bonfim, que atuou por quatro anos na captação da base, Paulo Roberto Martiniano “Lilló”e o ídolo Lima foram cruciais na permanência dos garotos (Miguelito, Enzo Monteiro e Christian na época). Outras pessoas do Santos que também acompanharam o jogo chegaram ao Marcos Maturana, gerente das categorias de base na época, brincando que o jogo saiu ‘com gosto de vitória’ e que havia três garotos diferentes no time da Bolívia.

Enzo Monteiro, Miguelito e Christian mais novos no Santos (Crédito: Reprodução)

Maturana recebeu o relatório da comissão técnica e foi atrás de informação sobre os garotos com Paulo Roberto, empresário de Miguel e Enzo, mas que também cuidava do Projeto Bolívia de Chaparro. O profissional contou com o apoio de alguns que acompanharam o amistoso da base e foram pivôs na luta para que os meninos ficassem no Santos.

Diante de um pré-conceito sobre a nacionalidade dos atletas e a menoridade pela legislação da Fifa (que proíbe transferências de menores de 18 anos), eles enfrentaram críticas e oposição. Paulo Roberto na época conseguiu a documentação e precisou do ‘martelo’ batido para segurar os garotos no Santos.

Ele recebeu propostas do Palmeiras e outros clubes para tirar Miguelito e Enzo da Baixada Santista, mas acreditou no sonho alimentado pelo Peixe. Os jogadores atuaram em outros torneio não oficiais já que não tinham registro, como a Copinha Sub-14 em 2018, Copa Nike 2019 inclusive ao lado do zagueiro Kaiky atualmente no Almería (Espanha), Paulista Cup e entre outras.

O técnico Fernando Diniz já chegou a elogiar Miguelito em algumas ocasiões. Eles atuavam no sistema de intercâmbio. Passavam seis meses no Brasil e depois retornaram para a Bolívia e vice-versa. Para ajuda de custo financeiro, Paulo Roberto e as pessoas que alimentavam o sonho dos garotos levantavam recursos para arcar com a passagem de avião de ambos.

Miguelito pela Copa Nike em 2019 (Crédito: Maikon Camargo)

Miguelito assinou o primeiro contrato profissional com o Santos no dia 25 de abril de 2022, no aniversário de 18 anos, e tem vínculo até 24 de abril de 2027. No ano retrasado, atuou pela categoria Sub-20, na qual teve 3 gols em 11 jogos pelo Paulista e 1 gol em 3 partidas pelo Brasileiro.

Em 2022, Miguelito também estreou no profissional do clube. Ele entrou na goleada sobre o Juventude por 4 a 1, na Vila Belmiro, pela 31ª rodada do Campeonato Brasileiro naquele ano. Ainda naquele mês pelo Brasileirão, ficou no banco na vitória sobre o Red Bull Bragantino por 2 a 0, no Nabi Abi Chedid, e entrou na derrota para o Corinthians por 1 a 0, na Vila Belmiro.

Iniciou 2023 entre os profissionais, mas perdeu a mãe e oscilou a temporada entre base e profissional. No Sub-20, teve 7 gols em 8 jogos pelo estadual, 4 gols em 7 duelos pelo Brasileiro e um gol em um confronto pela Copa do Brasil.

Já no profissional, na Copa do Brasil, entrou na vitória sobre o Iguatu-CE por 3 a 0, na Vila, e na vitória sobre o Botafogo-SP por 2 a 0, em Ribeirão. Banco diante a vitória sobre o Botafogo-SP por 1 a 0, na Vila.

Pelo Brasileirão, entrou na derrota para o Grêmio por 1 a 0, no Alfredo Jaconi, eno empate sem gols contra o Atlético-MG, na Vila. Ficou no banco no empate sem gols contra o Palmeiras, na Vila; na derrota para o Cuiabá por 3 a 0, na Arena Pantanal; na derrota para o São Paulo por 4 a 1, no Morumbi; no empate com o Botafogo por 2 a 2, na Vila; empate sem gols com o Cuiabá, na Vila; na vitória sobre o Goiás por 1 a 0, na Serrinha; na derrota para o Fluminense por 3 a 0, na Vila, e na derrota para o Fortaleza por 2 a 1, na Vila.

Nesta temporada, iniciou com a Copinha em que somou 4 assistências, 4 gols e 6 partidas. No Sub-20, soma um gol em dois jogos pelo Campeonato Paulista e quatro gols em sete partidas pelo Brasileiro. Apesar de inscrito na Lista B do Alvinegro no Paulistão, não foi relacionado para nenhum jogo.

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