Torcida do Santos fez uma grande festa na Vila Belmiro (Foto: Lucas Barros : Diário do Peixe)

Foram 34 dias de espera, mas o reencontro entre o Santos e sua torcida teve todos os elementos de uma noite inesquecível. De um lado, o líder do Campeonato Brasileiro, dono do melhor ataque e da melhor defesa. Do outro, um Santos que fechou o primeiro semestre respirando fora do Z-4 e retornava à Vila com sua maior estrela disponível por 90 minutos. No meio disso tudo, mais de 13 mil alvinegros carregados de esperança, empurrando o time como há tempos não se via.

Neymar marcou o gol do Santos na vitória sobre o Flamengo (Foto: Raul Baretta / Santos FC)

O dia já dava sinais de que seria diferente. Mesmo sendo uma quarta-feira comum, a movimentação no entorno da Vila começou cedo. Cinco horas antes da bola rolar, os bares estavam cheios, as bandeiras já tremulavam e os cantos ecoavam como prévia do que estava por vir. Havia empolgação por ver Neymar de volta, agora mais próximo da forma ideal, mas também um respeito silencioso pelo adversário. A mistura perfeita entre o sonho e a cautela.

Antes mesmo do apito inicial, o clima era de final. Show de luzes, fumaça, fogos, bandeirolas distribuídas e a Vila inteira pulsando junto com o time. E quando a bola rolou, o torcedor não sentou. A torcida do Flamengo, que também lotou seu espaço e levou bexigas e vozes, foi engolida pelo som da casa: era o Santos e o seu povo em estado de fusão.

O primeiro tempo foi tenso, estudado, truncado. O jogo equilibrado mantinha o torcedor inquieto, mas leal. No intervalo, a esperança ainda se sustentava no grito coletivo: “Vamos ganhar, Santos!”.

No segundo tempo, a partida parecia travada, e foi a arquibancada que pediu mudança. O nome gritado foi Robinho Jr., um garoto franzino de 17 anos que havia jogado só alguns minutos em um amistoso. E aos 20 minutos, ele entrou. Na primeira vez que pegou na bola, partiu pra cima, pedalou, encarou o marcador. A Vila veio abaixo com as famosas pedalas. Ninguém ali se importava com físico, currículo ou idade. A atitude valia mais.

Robinho Jr. comemorando vitória com a torcida após o jogo (Foto: Raul Baretta / Santos FC)

O jogo seguia num 0 a 0 angustiante até que, aos 39 minutos, a jogada começou com Guilherme roubando no meio, passou por Rincón, Bontempo e voltou para o camisa 11 que cruzou para Neymar. Com calma, ele limpou o zagueiro na pequena área e mandou para o fundo das redes. O grito de gol demorou mais de um minuto para cessar. A Vila explodiu. O gol, o momento, o autor dele. Era tudo que o torcedor precisava para se sentir vivo de novo.

Os minutos finais foram de pura tensão. O Flamengo pressionou, mas o Santos se fechou bem assim como fez em todo o jogo, com Brazão gigante outra vez e uma defesa compacta. No apito final, o que se ouviu foi um grito de alívio, de alma lavada. A vitória por 1 a 0 contra o melhor time do campeonato não era só mais três pontos. Era um novo sopro de confiança para um time que parecia à deriva na primeira parte do ano.

Na descida dos jogadores, o reconhecimento: “Ô le le, ô la la, o Robinho vem aí e o bicho vai pegar”. E logo depois, “Vai pra cima deles, Neymar”. Ídolo e promessa, lado a lado, representando duas pontas de uma mesma história.

No fim, os torcedores ainda se abraçavam, sem pressa de ir embora. Como quem sabe que viveu uma noite que não será esquecida tão cedo. O Santos voltava à vida – e a Vila Belmiro voltou a ser alçapão.