Bastidores ficaram tensos com as acusações (Crédito: Reprodução)

Duas acusações estão abalando os bastidores do Santos nessas últimas semanas do ano. Em reportagem da ESPN, dois funcionários distintos relataram ao presidente Orlando Rollo casos de assédio moral e injuria racial cometidos por diretores do clube na gestão que termina neste final de ano.

No primeiro caso, uma funcionária negra do departamento de recursos humanos diz ter sido humilhada por Luiz Eduardo Silveira, superintendente administrativo e financeiro da gestão atual. A vítima também reclama que Orlando Rollo não tomou nenhuma atitude em relação ao ocorrido, mesmo sabendo das denúncias há mais de um mês.

A segunda acusação é da última semana, quando um advogado do clube, também negro, acusou Roberto Rabelato, gerente de controladoria santista de injuria racial. Ele diz não ter tido oportunidades por conta de sua cor de pele.

“Assim que tomamos conhecimento dos fatos, o Santos FC decidiu encaminhar o assunto para a Divisão de Inquérito e Sindicância, para apuração do ocorrido e as providências necessárias”, disse o clube, em nota oficial.

Assédio Moral

A funcionária relatou à reportagem da ESPN que não tinha uma boa relação com o diretor desde antes de sua contratação, uma vez que Luiz Eduardo era o responsável por acertar a chegada dela demorou para fazê-lo, mesmo depois do acerto com o presidente. O assédio moral aconteceu depois de uma ação montada por ela.

“Ele achou que eu não conseguiria fazer isso. Mas deu supercerto. No dia seguinte, ele me chamou na sala dele. Foi aí que ele começou a me humilhar. Falou que eu não tinha perfil para ser do RH, não tinha perfil para ser gerente de RH e, muito menos, para ganhar o salário que me foi oferecido. E começou a me humilhar”, relatou.

“Eu perguntei como ele podia falar uma coisa se nem viu o trabalho. E ele continuou a me humilhar. Falou: ‘Seu salário vai ser esse, não deixei o presidente dar o salário que ele queria te pagar. E vocês não têm direito à moradia, só quem tem moradia é superintendente’. Ele ficou me humilhando o tempo todo”, prosseguiu a acusadora.

A funcionária relatou o ocorrido ao presidente Orlando Rollo e descobriu que a solução dada pelo presidente do clube seria mudá-la de função, a pedido do superintendente Luiz Eduardo.

Injuria Racial

O segundo caso aconteceu já nesse mês, quando o presidente Orlando Rollo convocou uma reunião com quatro funcionários (inclusive a da primeira acusação) para tratar da saída deles do clube, por se tratar de fim de mandato. Estavam presentes o superintendente Luiz Eduardo, o gerente de controladoria do clube Roberto Rabelato, o vice-presidente Mario Badures e um advogado do clube.

O advogado, que também é negro, fez um denúncia contra Rabelato e a reportagem da ESPN conseguiu o áudio da reunião.

“Quando eu cheguei aqui, eu pensei que ia ser diferente. Porém, o Rabelato nunca me deu uma oportunidade. Ficou o tempo inteiro segurando as coisas. Tinha que ser do jeito dele, certo? Eu tenho 33 anos de advocacia, acho que alguma coisa eu entendo. Em nenhum momento tivemos um relacionamento. Ele mal olhava na minha cara, mal dava bom dia e dizia para mim que queria distância. Eu sou homem e não falava nada porque acho que é assim que tem que ser levado”, disse o profissional antes de fazer a acusação.

“Então estou falando na cara dele aqui, nos olhos dele. Que ele diga aqui que não abriu um dia a porta da sala lá e disse ‘aqui é a senzala’. Quero que ele diga isso, que não falou isso. Eu fiquei tão estupefato que eu não acreditei. Então quero que ele diga na minha cara que ele tem algum problema comigo por eu ser negro porque eu não acredito nisso. Agora, que ele falou isso na minha cara, ele falou. Mas ele não falou assim diretamente. Ele abriu a porta, olhou e falou ‘ah, aqui é a senzala’. Por que ele fez isso? Não sei. Está engasgado aqui”, denunciou.

Questionado por Rollo, o próprio Rabelato confirmou o episódio. O clima ficou mais quente na reunião, com o presidente ameaçando encerrar a encontro e reclamando que as acusações deveriam ter sido feitas antes, assim que aconteceram.

Posicionamento de Andres Rueda.

O presidente eleito do Santos, Andres Rueda, soube pela imprensa das acusações de racismo feitas entre funcionários do clube.

“Aguardamos o posicionamento da atual gestão do clube e esperamos apurações aprofundadas sobre esses casos de discriminação. Não será tolerado nada nesse sentido e esperamos que providências enérgicas sejas tomadas pela atual gestão”.