Jorge Sampaoli é responsável pela montagem do elenco do Santos de 2019  (Crédito: Ivan Storti/Santos FC)

Como todo texto com críticas ao técnico Jorge Sampaoli, é preciso deixar claro desde o início de que a coluna é contra a demissão do treinador do Santos e acredita que, em 2020, o trabalho deve ser ainda melhor se ele continuar no clube.

Aprovar o trabalho e ser contra a demissão do treinador não significa, porém, concordar com todas as suas decisões, nem como a aura de “salvador da pátria” e “milagreiro” que Jorge Sampaoli recebeu de parte dos torcedores e da imprensa.

Boa parte dos elogios ao treinador nasce de um ponto em comum: “sem ele, o Santos não estaria na terceira colocação do Brasileiro porque o elenco é ruim”.

Se o elenco é ruim uma grande parcela de culpa também deve ser atribuída ao argentino. O Santos gastou R$ 75 milhões em reforços para esta temporada. Destes, apenas os R$ 4 milhões gastos com a contratação do volante Jobson ao Red Bull Brasil não tiveram aprovação do treinador.

O Santos não é coitadinho.

Está entre os quatro clubes que mais gastaram em contratações no Brasileiro de 2019.

Dos primeiros colocados, o Peixe foi o único que gastou na contratação de um goleiro. Foram R$ 4 milhões gastos na contratação de Everson ao Ceará somente para atender ao pedido de Jorge Sampaoli, uma das contratações mais caras do futebol brasileiro para a posição. O Santos já tinha Vanderlei, que está ao menos no mesmo nível de Diego Alves, do Flamengo, e Weverton, do Palmeiras.

Para a zaga, Sampaoli indicou e o Peixe pagou R$ 15 milhões para contratar Felipe Aguilar, atualmente no banco e muito criticado pelos torcedores. O Santos já tinha três zagueiros de bom nível, como Gustavo Henrique, Lucas Veríssimo e Luiz Felipe. O Flamengo gastou R$ 22 milhões para contratar Rodrigo Caio, mas encontrou Pablo Mari por R$ 5,5 milhões.

O Santos não é coitadinho.

O Peixe pagou R$ 6 milhões para contratar Felipe Jonatan.

O Flamengo pagou R$ 23 milhões para levar Bruno Henrique, um dos destaques do Brasileirão. Ele não queria ficar no Santos, é verdade, mas a negociação foi muito ruim para o clubes. Só a venda de Jean Lucas, “esquentado” pelo Peixe, para o Lyon já deu ao clube carioca quase todo o valor do negócio.

O Peixe gastou (ou vai gastar) R$ 26 milhões com o Cueva. Sim, o nome não era o primeiro, mas estava na lista do técnico Jorge Sampaoli. Então, o treinador tem sua parcela de responsabilidade também.

O Santos gastou R$ 4 milhões na contratação de Marinho. O Grêmio só pagou luvas e salário para contar com Diego Tardelli.

O Palmeiras pagou apenas luvas para fechar com o atacante Luiz Adriano, que tem 6 gols em 11 jogos pelo clube. O Santos, por indicação de Sampaoli, pagou R$ 5,5 milhões para contratar o atacante Uribe, que tem 11 jogos e nenhum gol pelo clube.

O Santos não é coitadinho.

Com Jorge Sampaoli, o Santos já somou mais pontos do que em todo o Campeonato Brasileiro de 2019. É mérito, claro, mas diz muito também sobre o trabalho de Cuca (que já foi demitido pelo São Paulo depois de deixar o Peixe) e, principalmente, de Jair Ventura (que já foi demitido pelo Corinthians depois de deixar o Santos).

Em 2017 e, especialmente 2016, a campanha no atual momento da competição era parecida. Dificilmente o Peixe vai chegar nos 71 pontos de 2016 com o desempenho das últimas rodadas.

Jorge Sampaoli mostrou conhecer e respeitar a história do Santos, trabalha incansavelmente, está sempre buscando uma alternativa, casou com a cidade e tem atitudes muito legais com as pessoas que cercam o clube. É também um grande mérito.

Mas ele também erra. Seja na montagem do elenco, seja nas escalações, especialmente pela insistência nos três zagueiros quando os números mostram que o esquema com dois funciona melhor.

Sampaoli é bom e o trabalho também, mas  ele pode e deve ser cobrado.