Anderson Ceará fez o seu primeiro jogo pelo Santos em 2020 em uma circunstâncias bem adversas (Crédito: Ivan Storti/SantosFC)

Nesta terça-feira, como mostrado pelo DIÁRIO DO PEIXE, foi publicado o estudo anual Itaú/BBA analisando a situação financeira dos principais clubes do Brasil. Na área do Santos, o estudo faz sua conclusão com uma pergunta:

“E se o acaso não proteger?”.

O “acaso” citado é o surgimento de algum novo raio, que seria vendido por muitos milhões e esconderia a incapacidade do clube de gerar receita recorrente, de diminuir os custos com futebol e a dívida, além dos problemas como inúmeros processos provocados pelas seguidas más administrações.

O estudo deixa claro que a base é ao mesmo tempo uma benção e uma maldição para o Santos. Benção porque já gerou craques como Robinho, Neymar e Rodrygo, que já geraram mais de R$ 1 bilhão em receitas para o clube, além de muitos títulos. E maldição porque todo mundo (diretores e torcedores) espera um novo raio para resolver todos os problemas do clube e quem deveria trabalhar para gerar receita, diminuir custos com o futebol, as dívidas, os processos segue acreditando em um “círculo vicioso” sempre olhando para o céu em busca de uma tempestade.

O reflexo disso parece claro nas escolhas, especialmente nas que são feitas neste ano pelo técnico Jesualdo Ferreira e elogiadas por torcedores e diretores. Muitos comemoram o uso de jogadores da base em 2020. Sandry, Kaio Jorge, Yuri Alberto, Renyer e Anderson Ceará já ganharam oportunidades com o treinador.

Será que o processo foi feito da forma correta?

Eu acredito que não e vou citar o motivo em cada caso.

Renyer até 2019 tinha jogado poucas partidas até pelo time sub-20 do Santos. Jesualdo Ferreira chegou ao Brasil já dizendo que ele, Kaio Jorge e Marcos Leonardo eram os três melhores jogadores da categoria no país. No mínimo, um exagero (que, é claro, ele ouviu de alguém do Santos). No jogo de estreia Renyer parecia querer correr mais que a bola, algo completamente natural para um garoto de apenas 16 anos na época e muito empolgado com a chance que caiu no seu colo.

Sandry apareceu inesperadamente como titular simplesmente no clássico contra o Corinthians, em Itaquera. Jogou fora de posição, saiu no intervalo e só reapareceu no segundo tempo da derrota para o Novorizontino, também na Arena Corinthians, com o time com um jogador a menos e tendo que segurar o adversário.

Kaio Jorge foi titular na estreia do Santos no Paulistão atuando pelo lado do campo, uma posição que nunca havia jogado anteriormente. Não jogou bem e saiu no intervalo. No jogo contra a Ferroviária, ele entrou no segundo tempo e foi responsável pelos poucos momentos bons do time. Qual foi o prêmio para ele? No jogo seguinte, contra o Ituano, foram utilizados cinco atacantes e ele viu a derrota do Peixe do banco de reservas.

O atacante foi só reaparecer na vitória contra o Defensa Y Justicia, quando marcou seu primeiro gol no profissional. Mas logo perdeu a posição para outro garoto, Yuri Alberto. Voltou a ser titular no empate contra o Santo André, atuou por 45 minutos, foi mal, substituído e muitos torcedores nas redes sociais já decretaram que ele não serve para o Santos.

O caso de Yuri Alberto é ainda mais grave quando se fala em processos. Com contrato vencendo, ele apareceu do nada como titular no clássico contra o Palmeiras, fez uma ótima partida, ganhou moral, e a chance de renovação, que já era mínima, caiu ainda mais. Deve ir de graça para o Internacional. Não consigo entender.

Diante do Novorizontino, o meia Anderson Ceará fez sua estreia na temporada. Não jogava no profissional desde 2018 e entrou com um jogador a menos e com a responsabilidade de municiar Tailson e Arthur Gomes. Os titulares Soteldo e Marinho já haviam sido substituído.

O pior é que muito torcedor (e pelo jeito dirigente e treinador) acredita que o processo está correto, que o “cara” tem de mostrar que é bom mesmo nas adversidades.

Eu penso que não é assim (não sou o dono da razão e você tem todo o direito de discordar de mim). Eu acredito em processo, em sequência de trabalho, em oferecer as melhores oportunidades para lançar as joias.

Nem só de raios como Robinho, Neymar e Rodrygo vive um clube de futebol. E nem todo bom jogador da base vai ter destaque no profissional. Mas no Santos se criou a mística que é só colocar um moleque da base com a camisa branca e o clima (as tempestades) fazem o resto, especialmente se ele for magrinho e habilidoso.

Jorge Sampaoli é criticado por não ter aproveitado os jogadores das categorias de base em 2019. Eu pergunto: O Santos tinha um jogador formado no clube pronto para ser aproveitado?

Não!

As campanhas do time sub-20 no ano passado foram pífias. Todo mundo que acompanha as categorias de base do clube sabiam que a geração mais promissora era a do sub-17, essa de Ivonei, Sandry, Kaio Jorge, Renyer, Marcos Leonardo, jogadores que um ano depois ainda não estão prontos para serem titulares do Santos.

A necessidade de ter de encontrar um raio para pagar o custo de uma administração incompetente é uma maldição para o Santos.

É preciso melhorar os processos para que as bençãos sejam maiores.