A pandemia do coronavírus fez os departamentos de marketing de alguns clubes deixarem a zona de conforto e apostarem na criatividade para encontrar formas de manter o torcedor conectado, e sobretudo, gerar receita mesmo sem os jogos e a exibição das equipes nas emissoras de TV.

Uma das medidas adotadas por muitos clubes foi a venda de ingressos simbólicos para a exibição de partidas históricas pela TV Globo. O Santos embarcou na onda e vendeu 8 mil ingressos virtuais para a exibição da final da Libertadores de 2011 neste domingo. Teve uma receita de R$ 55 mil com a ação.

Por que o clube não aproveita o “sucesso” da ação e passa a adotar o ingresso virtual para as partidas, mesmo quando a presença de público nos estádios for liberada?

Muita gente critica a baixa média de público do Santos nos últimos anos e os famosos “torcedores de sofá”. Por que não gerar uma oportunidade com essa situação?

Santos vai enfrentar o Mirassol na Vila e o torcedor pode escolher no sistema de venda de ingressos arquibancada portão 1/2, cadeira lateral e sofá. No Pacaembu, temos setor laranja, manga, cadeiras azuis e sofá.

Não estou brincando, é papo sério.

Cansei de dizer que o Santos não conhece o seu torcedor.

Muita gente critica o baixo público no estádio, mas não tenta entender quais os motivos.  A maior torcida do Santos não está em sua sede, está em São Paulo. A segunda maior está no interior de São Paulo. A Baixada Santista representa, numericamente, a terceira maior torcida do Peixe.

Logo, os jogos na Vila Belmiro às 19h15min durante a semana são inviáveis para a maior parcela da torcida do clube. Quem trabalha até às 18 horas em São Paulo simplesmente não consegue chegar. Do interior então nem se fala.

Além disso, muitas vezes o valor cobrado pelos ingressos em Santos não é compatível com a renda média da cidade, o que afasta parte dos torcedores da terceira maior região de santistas no país.

O programa de sócios, além de não comunicar direito os poucos benefícios, tem um valor alto para a grande maioria dos torcedores. A maior prova disso é o sucesso da promoção nos valores iniciada durante a pandemia. O Santos tinha 24 mil sócios na metade de março. Em dois meses de promoção (abril e maio), conseguiu mais de 5 mil adesões ou renovações mesmo sem jogos (mais de 20% do número total de sócios).

Torcedores do interior e de outros estados pedem um plano mais barato, mas o clube alega que o Estatuto não permite porque o sócio do Santos vota direto no presidente e um plano mais barato pode facilitar uma adesão em massa perto das eleições para facilitar a vitória de um candidato nas urnas.

O ingresso virtual seria uma forma bacana de interagir com o torcedor, especialmente os que vivem mais distantes de Santos. Sem a promoção, o plano mais barato de sócios do clube tem mensalidade de R$ 27. Com ingressos virtuais na faixa de R$ 8, como no domingo, o torcedor poderia pagar entradas para três partidas por mês por um valor menor do que uma mensalidade.

O clube poderia ainda colocar as fotos dos torcedores virtuais no placar eletrônico durante o jogo ou divulgar em mosaicos nas redes sociais durante a partida. Poderia ter o ingresso virtual estilizado para que o torcedor possa compartilhar nas redes sociais que de alguma esteve presente e pode ajudar o clube.

Torcedor do Santos é tão apaixonado (ou mais) que o de qualquer outro clube, mas até pelas características mencionadas acima ele precisa ser sempre estimulado. E o único estímulo nos últimos anos foi o futebol bem jogado da equipe comandada por Jorge Sampaoli no ano passado.