João Paulo revelou o drama vivido pela mãe após a classificação do Santos (Crédito: Ivan Storti/SantosFC)

O Santos está nas quartas de final da Copa Sul-Americana graças ao goleiro João Paulo. Após operar alguns milagres no empate em 1 a 1 com o Independiente na noite desta quinta-feira, o goleiro, bastante emocionado, revelou estar na luta por outro “milagre” fora de campo, a luta de sua mãe contra um câncer.

João Paulo foi o destaque do Santos na Argentina, mas poderia ter falhado e ter sido um dos responsáveis por uma eliminação do Peixe na competição. Nesse caso, certamente o drama da sua mão na seria revelado, mas teríamos, sim, inúmeros protestos, críticas, xingamentos e cancelamentos nas redes sociais.

Eu fiquei emocionado ao ver a entrevista do João Paulo. Por um momento pensei se eu teria condições de trabalhar se minha mãe ou minha filha estivessem nessa situação. Acredito que não. Se conseguisse trabalhar, certamente não teria o mesmo desempenho de momentos normais.

Jogadores de futebol são pessoas como nós. Tem problemas na família, no casamento, precisam pagar boletos. Sim, os de mais sucesso recebem mais do que a grande maioria da população (apenas os de mais sucesso), mas apenas por isso eles merecem apedrejamentos quando as coisas não saem bem?

Na Eurocopa vimos ataques racistas aos jogadores da Inglaterra que perderam pênaltis na decisão. Um deles, Marcus Rashford havia conseguido durante a pandemia que o Governo não suspendesse a merenda das crianças mais carentes durante as férias escolares. Possivelmente, o pai de uma das crianças beneficiadas tenha também feito ataques racistas ao atleta.

Acho que precisamos humanizar a relação com os jogadores de futebol e isso passa por eles, pela imprensa, pelos clubes, pelos empresários.

Atualmente, existe um distanciamento muito grande entre atletas e imprensa, por exemplo. Tudo passa pelas assessorias, quase não existe contato direto, pessoal, as entrevistas são mecânicas. É cada vez mais difícil contar boas histórias dos atletas.

E boas histórias, histórias humanas, aproximam os atletas dos torcedores.

Nesta semana, fizemos uma Live em nosso canal no Youtube com o volante Diego Pituca. O combinado era 30 minutos, mas o papo estava tão bacana que durou mais de uma hora. Pituca falou, emocionado, de quando ligou para mãe para dizer que ela não precisaria mais trabalhar, contou histórias do pai, da família, com a mesma simplicidade que sempre teve.

Pituca lembrou que eu fazia críticas a ele nos tempos de Santos, eu expliquei, demos risadas e a Live foi muito elogiada por todos que estavam acompanhando.

É preciso tirar essa aura mecânica que os atletas de futebol ganharam nos últimos anos.

É preciso humanizá-los porque eles são humanos, não máquinas.

É preciso que as críticas se atenham ao nível profissional, sem cancelamentos e baixaria.

É preciso que as pessoas entendam que não é legar invadir a rede social de um atleta para xingá-lo.

Sim, é uma utopia, mas se cada um fizer a sua parte podemos ter um entendimento melhor.

A minha eu começo a fazer com esse texto.

E força, João Paulo. Estamos com você!