Holan superou seu primeiro desafio na Libertadores (Crédito: Ivan Storti/Santos FC)

São poucos treinos, poucos jogos, nenhuma exibição brilhante, mas já é possível ver uma linha de trabalho do técnico Ariel Holan no Santos. O time não tem mais ligação direta, não insiste nos cruzamentos para a área e não faz mais ciranda, cirandinha nos treinamentos.

O Santos de Ariel Holan se aproxima mais na ideia do time de Jorge Sampaoli do que da equipe de Cuca. Os jogadores já começam a dizer isso, como Soteldo nesta terça-feira. No primeiro tempo diante do Deportivo Lara, o Peixe chegou a ter 75% de posse de bola, números de um time dirigido por Pep Guardiola.

Claro que o time ainda tem muita coisa para melhorar, especialmente a transição defensiva e a bola parada. Com mais tempo, acredito que teremos uma evolução nestes dois pontos. Ainda teremos a volta do lateral Madson, que pode ser importante nas bolas paradas, e de Marinho e Kaio Jorge, fundamentais para que a alta posse de bola seja seguida de oportunidades de gol.

Só uma coisa pode atrapalhar esse trabalho, que inicia muito promissor: a falta de paciência do torcedor.

O santista precisa ter consciência do momento. O time perdeu dois dos seus principais jogadores na última temporada (Lucas Veríssimo e Diego Pituca), não pode contar com outros dois (Marinho e Kaio Jorge), a situação financeira é ainda mais traumática e existiu uma troca no comando técnico.

Pela situação, muitos garotos estão sendo lançados e já assumindo responsabilidade muito antes do ideal. Eles vão alternar bons e maus jogos, faz parte. Kaiky Fernandes foi elogiado nos primeiros jogos, mas bastou uma má atuação diante do Ituano para as cornetas começarem.

Marcos Leonardo não foi bem em dois jogos e já colocaram um carimbo de que ele não serve para o Santos. Bruno Marques, que teve a contratação em definitivo cobrada por grande parte da torcida no início do ano, já virou caneleiro.

Nestes casos, infelizmente, essas ondas de redes sociais provocam reflexos nos clubes e nos próprios atletas. Até mesmo porque alguns “torcedores” se sentem no direito de entrar nos perfis dos jogadores para ofendê-los.

É importante agora o torcedor jogar junto com o time. Podem xingar durantes jogos, reclamar, criticar e ter essas atitudes que são direitos dos torcedores. Mas não levem essas discussões e xingamentos para outros fóruns, especialmente os públicos, que acabam provocando reações de outros torcedores, de atletas, empresários e diretores.

Kaiky é titular da Seleção Sub-17, um dos maiores potenciais do futebol brasileiro, mas vou contar uma coisa para vocês: ele vai falhar, ele vai fazer jogos ruins. Ele não chegou a fazer 10 jogos pelo Sub-20 do Santos. Logo vai ter mais jogos pelo profissional do que nos juniores.

Marcos Leonardo joga na Seleção desde o Sub-15. Foi titular e capitão da Seleção Sub-18 em amistosos há duas semanas. Se ele não serve para o Santos, nenhum jogador da sua geração serve, já que técnicos diferentes convocaram ele e não os outros para os selecionados nacionais.

Bruno Marques tem dificuldades técnicas pela falta de base, mas é muito bom em um tipo de jogada, a bola aérea. Era uma jogada muito usada pelo time de Cuca e ele se destacou em alguns jogos por esse motivo. Com Ariel Holan, o time joga mais pelo chão e é normal ele perder espaço, mas pode continuar sendo importante como alternativa para jogos específicos.

Sandry e Ângelo, dois grandes potenciais desse geração, também oscilaram, muitas vezes dentro do próprio jogo. Gabriel Pirani tem aparecido bem em alguns momentos, ainda temos Sandro, Ivonei, Kevin Malthus, Allanzinho, Pedrinho, Lucas Lourenço, etc.

O Santos tem muitos talentos e, com o tempo, Ariel Holan terá condições de desenvolvê-los e, assim, melhorar a qualidade do time.

O torcedor pode ajudar e ter paciência. Não tentar acelerar o trabalho.

O Santos passa quase por um processo de refundação, dentro e fora de campo. É importante que os alicerces desse novo clube sejam sólidos. E, com diz um velho ditado, “a pressa é inimiga da perfeição”.