Na terceira e última parte de sua entrevista exclusiva ao DIÁRIO DO PEIXE, Jair Ventura fala sobre a intenção de dar bastante espaço aos Meninos da Vila como Rodrygo, autor do gol da vitória do Santos sobre a Ponte Preta, nesta quinta-feira, em Campinas.
O treinador alvinegro diz que não tem medo de colocar os garotos da base para jogar, desde que tenham qualidade e demonstrem estar psicologicamente prontos para encarar a pressão de jogar no Peixe. E ele acredita que o amor da torcida santista pelos jovens revelados no clube é uma importante ferramenta de trabalho para o técnico, que se sente mais à vontade para lançá-los na equipe principal.
Leia a seguir a última das três partes da entrevista exclusiva de Jair Ventura:
O Santos é um clube em que a torcida não apenas apoia o lançamento dos meninos da base na equipe principal, ela exige isso. Como você encara essa situação?
Isso é bom. Já colocamos o Yuri (Alberto) e o Rodrygo, que seriam da categoria juvenil e estão jogando no profissional. Eu não tenho problema nenhum com relação aos meninos. Eles mostram no treino que têm qualidade e a gente vai botando. Não é uma ciência exata. É lógico que é preciso fazer isso com calma, você tem de saber lançar. Em um jogo pesado, você coloca o menino de cara, sabe… Então tem de ir de maneira gradativa. Mas a gente não olha a idade, olha a qualidade.
Os meninos recebem de você um tratamento diferente dos jogadores mais experientes?
Não, é a mesma coisa dos demais, não tem idade. A resposta deles vai ser a mesma de um Renato, que tem 38 anos, vai ser a resposta técnica. Não olho a idade, quando o garoto está em campo eu o vejo como um jogador como os outros. Ele tem a mesma chance, mas com o cuidado de não queimar o menino. Se estou vendo que o jogo não está para ele, não vou jogar o garoto para queimá-lo. A gente vai de maneira gradativa, ou não, vai depender da resposta dele.
Você tem receio de colocar os garotos em um jogo de Libertadores, por exemplo?
Não. Depende do que está me pedindo o jogo. Vou dar um exemplo: jogamos contra o Bragantino, uma equipe que tem quatro jogadores com mais de 1,90 m, que joga muito com a força, e aí fica mais difícil para alguns (meninos). Agora, contra uma equipe leve, que deixe jogar, que dê espaço, não vai ter problema. Então depende muito do adversário, do momento do jogo, do que ele está pedindo, se é um jogo de transição, se você tem de ter a posse da bola, varia muito a estratégia.
Você acredita, então, que a cultura do Santos ajuda o trabalho de lançar os jovens jogadores?
Facilita, sim, pois a paciência é maior com os meninos.
Por outro lado, a torcida tem uma tendência a acreditar que os garotos sempre vão resolver todos os problemas do clube. O treinador precisa agir para que isso não se torne um peso excessivo para eles?
Eu acho que essa pressão acaba se tornando positiva. Porque alguns clubes têm mais receio de lançar seus meninos. No Santos isso não existe, é feito de maneira natural, então eu vejo o lado bom da história. Se eu quiser lançar um menino, sei que vou ter o apoio da torcida, sei que o menino já entrará com mais confiança porque ele sabe que não vai ser vaiado. Aqui é diferente realmente, a gente sente na atmosfera, e parece que os meninos sentem isso também.
Em uma entrevista recente, Paulo Roberto Falcão disse que, em seus trabalhos como treinador, costumava saber se um garoto estava pronto para ser promovido apenas conversando com ele. A sensibilidade do técnico é mesmo fundamental para decidir a hora certa de cada um?
Perfeito, é isso aí mesmo. Cada caso é um caso. Você vê meninos mais maturados do que os outros com a mesma idade, ou até meninos mais jovens que estão mais prontos. O controle emocional de cada um a gente consegue ver no dia-a-dia. É no olho e na conversa. Todos os atletas vão à minha sala, a gente conversa, e aí você vai sentindo.
A sua experiência na base da Seleção Brasileira lhe ajudou, de alguma maneira, a trabalhar no Santos?
Ajudou, claro. Eu peguei sub-15, sub-17 e sub-20 (da CBF), de 2010 a 2013. O Diego Cardoso, que está aqui, trabalhou com a gente lá. É diferente o trato com os meninos. Então essa foi uma experiência que me ajudou bastante. E no Botafogo eu fui treinador do sub-20 também.
Leia aqui a primeira parte da entrevista do treinador alvinegro.
Leia aqui a segunda parte da entrevista do treinador alvinegro.
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