Conselheiros do Santos vão votar as contas de 2023 nesta quinta (Crédito: Ivan Storti/Santos FC)

O Conselho Deliberativo do Santos vai se reunir nesta quinta-feira para discutir e votar o novo parecer do Conselho Fiscal sobre as contas do ex-presidente Andres Rueda em 2023. Como mostrou o DIÁRIO, o ex-dirigente apresentou a defesa, mas as explicações não convenceram o órgão, que manteve o pedido para a reprovação.

As contas de Andres Rueda foram reprovadas pelo Conselho Deliberativo em reunião no dia 4 de abril. Se o novo parecer, pedindo a reprovação, for aprovado nesta quinta, o caso deverá ser encaminhado para a Comissão de Inquérito e Sindicância (CIS). Então, a comissão pode iniciar um processo para a expulsão do ex-presidente do clube por “gestão temerária”.

Como terminou seu mandato, Andres Rueda passou automaticamente a ser um conselheiro nato como prevê o Estatuto Social do clube.

O relatório do Conselho Fiscal citou principalmente oito pontos para justificar a reprovação das contas:  aumento da folha de pagamento, diminuição das receitas de marketing, perda do prazo para pedido de isenção do IPTU, não pagamento ao Krasnodar, cláusulas específicas do Mou com a WTorre, venda das propriedades comerciais do Brasileiro para a Brax, Antecipação de cotas do Campeonato Paulista e Comprometimento das receitas de 2024.

O DIÁRIO apresenta abaixo as explicações da defesa do ex-presidente e a resposta do Conselho:

FOLHA DE PAGAMENTO

A defesa do ex-presidente usa trecho do próprio relatório do Conselho Fiscal e alega que todos os limites estatutários foram respeitados. Andres Rueda refuta a alegação do CF de que o clube teve aumento significativo (36%) nos gastos em relação a 2021 e 2022 e destaca que os gastos com o futebol representaram 58,36% do total (o limite estatutário é de 76,5%).

O documento da defesa ainda aponta que o gasto com o departamento de futebol em 2023 chegou a R$ 138.143.195,00, um número superior em 0,71% ao que estava previsto no orçamento. A remuneração com direitos de imagem foi R$ 34.075.613,00, um valor 8,96% superior ao previsto no orçamento.

“Dessa forma, os pontos que devem ser observados pelos nobres conselheiros quanto à folha de pagamento são três : A) Orçamento aprovado; B) limites de gastos com o departamento de futebol comparativamente ao total; C) Destinação mínima para a base. E esses três itens foram cumpridos, na forma do artig 84 do Estatuto Social”, diz o documento da defesa.

Posição do Conselho Fiscal: O órgão mantém a posição o posicionamento de que o aumento de 36% da folha em relação a 2021 deve constar no relatório, mas ressalta que o item não foi usado como embassamento para o pedido de reprovação das contas.

MARKETING

A defesa de Andres Rueda alega que o Conselho Fiscal adotou um número incorreto no relatório para apontar uma queda de 35,56% nas receitas de marketing. No parecer, o CF informa que as receitas somaram R$ 34.009.307,00 e a defesa do ex-presidente alega que o valor correto é R$ 122.595.327,00, divididos da seguinte forma.

Licenciamento: R$ 4.921.237,00
Patrocínio: R$ 66.655.12,00
Sócios: R$ 16.517.627,00
Cadeiras/camarotes: R$ 807.664,00
Franquias: R$ 735.159,00
Memorial: R$ 2.148.624,00
Outras receitas: R$ 30.809.844,00

Posição do Conselho Fiscal: Segundo o CF, os números do parecer foram enviados pela contabilidade do clube documentado como “Realizado e orçado por departamento de janeiro a dezembro de 2023” e alega que os números apresentados pela defesa foram inflados. As maiores diferenças são:

Patrocínio: R$ 66.655.12,00 (segundo a defesa) x R$ 4.612.002,81 (marketing de acordo com o CF)
Outras receitas (aluguéis/eventos): R$ 30.809.844,00 x R$ 4.564.968,42 (segundo o CF)

IPTU

O Conselho Fiscal apontou que o clube perdeu o prazo para pedir isenção do pagamento de IPTU em 2021 e o fato provocou prejuízo financeiro nos anos seguintes. A defesa de Andres Rueda alega que o assunto foi relatado em 2022 e discutido no Conselho Deliberativo, que teria entendido as justificativas da diretoria e aprovado as contas.

O documento da defesa admite a perda do prazo e justifica dizendo que “…a gestão encontrou o clube sem processos administrativos, sem controles de atividades, com falta de informações e documentos. O caos administrativo que imperava no clube resultou na falta de encaminhamento do processo de isenção do IPTU ao departamento jurídico do clube, que por consequência deixou de apresentar na Prefeitura”.

Posição do Conselho Fiscal: O CF cita que a defesa do ex-presidente admite o erro e o prejuízo causado ao clube e cita que o valor acordado de perda do prazo foi parcelado e registrado no decorrer do ano de 2023.

KRASNODAR

Sobre o não pagamento do meia Cueva ao Krasnodar, que gerou um transferban, a defesa alega que a contratação foi feita em 2019 por cerca de R$ 43 milhões e nada havia sido pago até 2021. O ex-presidente afirma ter pago cerca de R$ 20 milhões, mas alega ter faltado caixa em 2023 e a direção optou por priorizar o pagamento de tributos, folha de pagamento e direito de imagem para respeitar a sequência de pagamentos listada no Estatuto Social.

O ex-presidente alega ainda que o pagamento do Pachuca ao Santos pela contratação do jogador foi feito de forma parcelada e que o clube russo tinha interesse na contratação de um jogador do clube (Joaquim). Andres Rueda cita também que o Santos teria uma entrada significativa de receita com a venda de Marcos Leonardo e que o valor poderia ser usado no abatimento da dívida. Ele ainda alega que a situação foi informada a todos os candidatos da última eleição do clube.

Posição do Conselho Fiscal: O parecer cita que houve “gastos sem critérios com compra de jogadores com altos salários e nível técnico incompatível com os proventos” e aponta que a defesa em reunião “sem registro” com os candidatos e conversas informais.

WTORRE

O relatório do Conselho Fiscal apontou pontos do Memorando de Intenções (MOU) que seriam prejudiciais ao clube. Novamente, a defesa do ex-presidente alega que todos os candidatos na eleição ficaram sabendo das condições do acordo em reunião realizada no dia 27 de novembro do ano passado.

O ex-presidente também alega que participou de uma reunião com as principais construtoras da cidade de Santos e todas teriam concordado  que a WTorre era a empresa que mais tinha experiência na gestão e administração com shows do novo estádio.

O documento ainda revela que o Santos pode rescindir o contrato em quatro situações:

A) O Santos não aprove a due dilligence da WTorre (aspectos jurídicos e financeiro)

B) A WTorre não apresente o orçamento de implantação na forma acordada

C) A WTorre não apresente ou as partes não cheguem a um acordo quanto ao estudo de viabilidade

D) O Santos decida rescindir de forma imotivada, com pagamento de penalidade

Posição do Conselho Fiscal: O CF cita que a defesa de Andres Rueda alegou ter inserido as cláusulas por pressão da WTorre e que não foram apresentados fundamentos legais ou técnicos que modifiquem o entendimento do órgão.

BRAX

A defesa alega que as luvas recebidas pelo acordo com a BRAX pelas placas de publicidade do Brasileirão não se enquadram em comprometimento da receita por período posterior ao mandado e aponta a aprovação do Conselho Fiscal da operação de acordo com o Esporte Interativo em 2016, que vigoraria a partir de 2019, com bônus recebidos no ato da assinatura.

O ex-presidente ainda cita que a operação com a Brax foi classificada como um ato legal da Gestão no relatório do Conselho Fiscal do terceiro trimestre de 2023, inclusive com a assinatura de Bruno Peres Lopes, que também faz parte do Conselho Fiscal atual e assina o parecer pedindo a reprovação das contas.

Posição do Conselho Fiscal: O CF aponta que o Santos recebeu R$ 25 milhões da BRAX e que o valor corresponde a 25,44% de todo o contrato. Diante disso, o órgão acredita não se tratar de luvas ou bônus, mas uma antecipação de receitas.

ANTECIPAÇÃO CAMPEONATO PAULISTA

O ex-presidente alegou que, com os péssimos resultados em campo, o Santos não recebeu os valores de premiação do Campeonato Brasileiro e também a parcela anual do patrocínio da Binance. Com isso, o Comitê de Gestão antecipou R$ 28 milhões da cota do Paulistão 2024. Mesmo com a antecipação, ainda foi preciso buscar um aporte de R$ 18 milhões via funding para zerar as contas.

Andres Rueda alega que optou por não vender qualquer ativo do clube, que a Binance havia prometido pagar a parcela em janeiro e que o clube ainda poderia ter receitas oriundas do acordo com a LIBRA.

Posição do Conselho Fiscal: O novo relatório cita que, apesar da antecipação de receitas e do aporte do funding, o pagamento de férias de dezembro e de imposto de renda de novembro e dezembro de alguns funcionários não foi efetuado.

COMPROMETIMENTO DE RECEITAS

A defesa de Andres Rueda alega que o Conselho Fiscal fez uma “ginástica de raciocínio totalmente equivocada” por incluir aquisição de atletas e seus respectivos salários como comprometimento de receita. O documento do ex-dirigente alega que aquisição de atleta é um ativo, não uma despesa.

Rueda ainda ataca o relatório do Conselho Fiscal: “Que os torcedores comuns não tenham ciência que o patrimônio líquido do clube (passivo a descoberto) no início da gestão anterior era de R$ 464 milhões é compreensível, já o Conselho Fiscal não tem esse direito”.

Por fim, o documento alega que, com o superávit nos últimos três anos totalizando R$ 62 milhões, o passivo foi reduzido para R$ 403 milhões. Andres Rueda ainda dá conselho para os próximos presidentes.

“Sem ironias, serão necessários 20 anos de gestões responsáveis para talvez zerar o passivo do clube. Então, o dirigente que assume sabe que terá de escolher quem pagar, quando e como pagar. Priorizar é a palavra! Não vai se conseguir em curto prazo pagar a todos e virão possivelmente novos transferbans ou atrasos de impostos e atrasos de salários. Pode-se quando muito alongar os compromissos. Não há mágica”, encerra o documento.

Posição do Conselho Fiscal: O parecer aponta que o aumento de gastos sem planejamento de 2023 comprometeu em 30% as receitas de 2024, “gerando um resultado negativo ao planejamento financeiro do clube”.

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