Paulo Autuori chegou ao Santos em julho deste ano(Foto: Ivan Storti/Santos FC)

O superintendente de futebol do Santos, Paulo Autuori, fez um desabafo no CT Rei Pelé na manhã desta quarta-feira. Entre os vários pontos abordados pelo dirigente, ele demonstrou insatisfação com a forma como o Santos é gerido, afirmou estar infeliz no clube, deixou claro que a permanência de Sampaoli para 2020 ainda não está garantida e, mais uma vez, deixou claro que a próxima temporada será complicada para o Peixe. Confira alguns pontos.

Multa de Sampaoli

“Como profissional de futebol, tive contratos e sempre respeitei a confidencialidade. Dentro dessa situação, eu posso dizer o seguinte: não está em causa a multa, não está em causa premiação. É algo que tem desde que o Sampaoli chegou no clube. Estamos tendo conversas com o objetivo de preparar 2020, com a possibilidade de fazer isso com antecipação. Já disse que seria ótimo ter um processo de continuidade.  Não confio em pessoas que não têm a hombridade de expor as coisas quando não é o momento certo. Tema da multa se fala desde o começo do ano porque foi algo mal elaborado desde o início. Ela não é nada relevante, porque com ou sem (multa), se você não está feliz onde está, como eu não estou, você toma decisões. Isso (retirada da multa) você tem que perguntar ao conselho gestor e ao presidente. Não participo dessas coisas. Estou pronto para conversar com eles sobre futebol, desde que me convoquem. Não sei de coisas que não participo. Estive presente na reunião de segunda, mas em nenhum momento se tocou no assunto da multa”

Permanência de Sampaoli

Como você pode forçar alguém a ficar? Nesse momento, te asseguro que as conversas não têm nenhuma definição de “quero ficar” ou “não quero ficar”. Não há definição por parte do clube nem por parte do treinador. O fator novo é que o Sampaoli, hoje, tem em mente claro o que será 2020 para o clube. Converso com ele todos os dias e fiz questão de passar isso para ele. Por respeito a ele e a qualquer treinador, fiz questão de mostrar a realidade do Santos para 2020. Esse é o fator novo. Essa situação de multa é papo antigo. Cheguei em julho e escuto que ele não vai ficar no Santos desde o início do ano. Não tem novidade nenhuma. O que existe é uma relação franca e honesta”

Incômodo com a gestão

“Voltando ao início, eu acho o seguinte: o profissional tem que estar preparado. Os problemas vão acontecer sempre e temos que encará-los de frente. O que me incomoda é a falta de coragem de pessoas que se omitem em relação a determinados temas e depois tentam soltar algo através da mídia. Pega temas isolados e solta. Falo em termos de gestão de clube. Em tudo na vida temos estratégias. Agora, essas estratégias, existem momentos onde a privacidade é fundamental. Estou extremamente desapontado com a maneira que as coisas estão ocorrendo em relação à gestão. Como meu pai dizia: os incomodados que se mudem. Sempre fui uma pessoa de tomadas de decisão e de posicionamento. Não consigo ver as coisas na minha profissão diferente do que eu vejo na minha vida. Não mudo minha postura como pessoa ou como profissional. Não estou falando em saída. Só estou deixando claro meu posicionamento porque estou incomodado e isso pode acarretar em qualquer coisa. Está fácil gerir o clube em termos de futebol. Tem um grande treinador e tem feito uma grande campanha. Mas em termos de gestão estou bastante incomodado. Ele (Sampaoli) vai ter oportunidade de se expressar. Mas eu garanto que nossas conversas não têm nada definido. As possibilidades existem desde que o ano começou, quando dizem que ele não ficaria no Santos. O que existe é uma relação excelente dentro do futebol do clube, um ambiente muito legal, mas não é só isso. A política complica todos os clubes enquanto não mudar. Dificilmente os clubes vão conseguir o que devem fazer. O 7 a 1 não esteve só dentro do campo. Temos uma distância absurda em termos de gestão entre clubes brasileiros e europeus. Não tenho que tocar em termos políticos. Não concordo com a maneira como os clubes brasileiros são geridos. Cada clube tem sua maneira de gerir e não vou entrar nisso. Quando me pedirem opinião dentro da instituição, eu dou. Futebol exige serenidade e estratégia. Não há possibilidade de ter estratégia quando se tem pessoas que passam coisas para serem simpáticas. Isso, para mim, é covardia”.

Santos de 2020

“O 2020 é apenas uma situação de hombridade das pessoas que trabalham. Desculpem-se se serei repetitivo. Eu não vendo ilusão. Se as pessoas têm dificuldades de dizer as coisas, eu não tenho. Ano que vem teremos dificuldades e precisaremos usar uma boa parcela de jogadores da base, porque não faremos muitas contratações. Será um ano difícil. Por que não respeitar a diversidade de opiniões? Tem que respeitar quem pensa diferente. O futebol pode ser visto de diversas maneiras. O que eu quero dizer é o seguinte: não há nada de diferente. Há conversas claras e transparentes sobre a realidade em 2020. Não vou me esconder. Já vi erros de gestão em grandes clubes. A Inter de Milão, há muitos anos, com muita condição financeira, contratou e não deu certo. Considero erro de gestão porque se você não desenvolve um trabalho em conjunto com a comissão técnica, isso pode acontecer. Você precisa saber o perfil do treinador. Você contrata porque é um bom nome para acalmar a torcida, mas sem convicção nenhuma. Você não sabe para onde quer ir. É uma realidade do futebol brasileiro. Já falei que aqui houve um erro de planejamento. É uma situação que não pode acontecer. O clube tem jogadores que treinam em horários distintos e isso é horrível. Jogador precisa jogar. 2020 vai ser terrível por isso também, porque jogadores voltarão de empréstimo, por isso temos que trabalhar desde já pensando nisso”