Modesto Roma Júnior afirma que não deve comissão ao empresário e que o acordo com a Caixa foi possível com a ajuda do Deputado Federal Ricardo Izar (PP-SP) (Crédito: Ivan Storti/SantosFC)

Por Ana Canhedo, especial para o DIÁRIO DO PEIXE

O empresário Átila Rodrigues cobra do Santos cerca de R$ 1,6 milhão pela intermediação das negociações entre clube e Caixa Econômica Federal desde 2015. O DIÁRIO DO PEIXE teve acesso a uma carta redigida pelo agente e endereçada ao então presidente Modesto Roma Júnior em março do ano passado na qual ameaça até mesmo ir à Fifa contra o Alvinegro para receber o valor. Uma ação na Justiça não está descartada.

Átila alega ter sido o responsável por aproximar o Santos da então presidente do banco estatal, Miriam Belchior, exonerada do cargo em maio de 2016. De acordo com documentos, trocas de e-mails e passagens áreas (compradas pelo Peixe por R$ 2.631,30) obtidos pela reportagem, o empresário esteve em Brasília em julho de 2015 a mando do clube e acompanhado de Paulo Verardi, então gerente de marketing do Alvinegro e hoje gerente de confecção e varejo da gestão de José Carlos Peres, para se reunir com os dirigentes da Caixa.

Documento do Santos autorizando o empresário Átila Rodrigues a negociar com Caixa, Nissan e Cassino por 90 dias (Crédito: Arquivo pessoal)

Um documento assinado por Modesto e por José Ricardo Tremura, gerente executivo jurídico do Peixe (veja ao lado), autorizava Átila a negociar em nome do Santos não só com a Caixa, mas também com a Nissan Motor e com o grupo Cassino, da França. O documento, firmado em julho de 2015, ressaltava que a autorização era válida por apenas 90 dias – até outubro de 2015, portanto. O primeiro acordo entre Santos e Caixa só foi assinado em outubro de 2016, extrapolando, assim, em um ano o prazo previsto na ata.

A distância de tempo entre o contrato com o empresário e o primeiro acordo com a Caixa é justamente o argumento de Modesto Roma Júnior. De acordo com o ex-presidente, Átila quer tirar dinheiro do clube sem ter direito a fazê-lo”. Já o empresário alega que contatou o ex-dirigente diversas vezes desde outubro de 2016 e que Modesto sempre se esquivou de conversar e de cumprir com o acordo.

O deputado federal Ricardo Izar (PP-SP) foi quem, segundo Modesto, ajudou o Santos a chegar a um acordo com a Caixa, “sem cobrar nada por isso”.

Enquanto isso, o empresário alega que na época foi orientado por Verardi a “não ajudar na parte comercial” da negociação e entendeu, assim, que já havia sido concluída “sua missão” ao aproximar o Alvinegro de Belchior. Por isso, os 90 dias seriam irrelevantes no caso. Afinal, deixou “gentilmente” Verardi dar sequência ao trabalho internamente. Procurado, Verardi não quis se manifestar sobre o caso.

E a gestão atual?

Procurado pelo DIÁRIO DO PEIXE, o Santos não se manifestou. Mesmo assim, Átila garante que vai buscar o atual presidente José Carlos Peres para tentar um acordo antes de ingressar com a ação na Justiça. Atualmente, o Santos negocia uma renovação contratual com a Caixa. Peres já deixou claro que não renovará pelos atuais valores – segundo o acordo firmado em março de 2017, o Peixe poderia receber até R$ 16 milhões da patrocinadora máster em cota fixa e bônus para ter a marca do banco estampada em sua camisa por um ano. Antes, de outubro a dezembro de 2016, já havia recebido outros R$ 2 milhões.

Confira a cronologia do caso:

24 abril de 2015 – Átila Rodrigues solicita, por e-mail, reunião com Miriam Belchior, então presidente da Caixa Econômica Federal. Comitê Gestor do Santos é notificado.

15 de junho de 2015 – A então secretária executiva da Caixa, Patrícia Nascimento, avisa que a reunião será agendada em Brasília com o superintendente nacional do banco, Gerson Bordignon, no dia 8 de julho.

26 de junho de 2015 – Gerente de marketing do Santos à época, Paulo Verdardi solicita os dados de Átila Rodrigues para emitir passagens aéreas, pagas pelo clube, para a viagem a Brasília.

3 de julho de 2015 – Por e-mail, Átila solicita a Modesto Roma Júnior e Paulo Verardi sete camisas autografadas do Santos para entregar durante a reunião com a Caixa.

3 de julho de 2015 – Verardi responde o e-mail dizendo que “não há condições para tal e nem é bom. Vamos levar uma camisa do Santos apenas”.

9 de julho de 2015 – Verardi comunica a presidência do Santos por e-mail que a negociação “evoluiu bem. As perspectivas são promissoras.”

14 de julho de 2015 – Átila solicita à Caixa o envio de documentos necessários para o patrocínio máster.

15 de julho de 2015 – Verardi avisa que “nada prejudicará o teu ganho pela abertura de portas” a Átila, depois que o empresário cogita oferecer outros patrocínios ao clube.

17 de julho de 2015 – Átila envia minuta ao clube na qual é autorizado a negociar pelo Santos.

***Na minuta, não há prazo. No documento firmado, o prazo da autorização é de 90 dias.

31 de julho de 2015 – Átila reclama do prazo de 90 dias. Verardi “dispensa” o empresário e agradece pelos serviços prestados.

8 de setembro de 2015 – Átila solicia ao Departamento Jurídico do clube a prorrogação da autorização. Verardi já não era mais funcionário do Santos.

Outubro de 2015 – De acordo com o prazo do contrato, Átila perde o direito de negociar pelo Santos.

Outubro de 2016 – Santos acerta patrocínio máster curto com a Caixa (até o final da temporada) por R$ 2 milhões.

Outubro de 2016 – Átila envia e-mails a Modesto buscando receber pela intermediação do negócio.

Março de 2017 – Santos renova com a Caixa por R$ 16 milhões. Átila envia carta a Modesto na qual ameaça até mesmo ir à Fifa caso não receba o valor que entende lhe ser de direito.