Felipe (direita) sofreu um acidente doméstico no dia 23 de março (Crédito: Reprodução)

A esposa do atacante Raniel, Aline Silva, usou as redes sociais para fazer um relato emocionante sobre o acidente do filho do casal, Felipe, de pouco menos de um ano. O garoto caiu na piscina do apartamento do atacante no dia 23 de março, ficou mais de uma semana internado na UTI e só deixou o hospital no dia 15 de abril.

“…Nós moramos em um apartamento de três andares, andar de baixo, do meio e a cobertura. Eu, Dani (outro filho do jogador) e o Rani estávamos no organizando no andar de baixo para começar o nosso dia. Nós passamos a maioria do tempo no andar do meio. O Felipe estava na cobertura com a Cida, que trabalha conosco, é a babá dele. De repente, eu me assusto com os gritos dela chamando o meu nome, “Aline, Aline” os cachorros latiam muito, achei que um dos cachorros tinham mordido ela. Quando chego na ponta da escada, ela está na outra ponta com o Felipe no colo. A imagem que vi foi do Felipe no colo dela, eu lembro que ele deu um suspiro profundo, virou os olhos e amoleceu. Eu subi a escada correndo para sentir a pulsação dele, não consegui raciocinar direito, minha primeira reação foi bater na porta do vizinho pedir ajuda e dizer que o Felipe estava passando mal, liguei na portaria para falar que ele estava passando mal. Aí que rapidamente me veio na memória que o Felipe havia tido uma crise alérgica alimentar e eu não conhecia nada em Santos. Eu coloquei hospital infantil no google e apareceu um hospital do lado de casa, que não era nem dois minutos caminhando. Aí me lembrei do hospital e fui descalça, o Raniel foi de bermuda, sem calçado e sem camisa. Entramos no elevador. Nem sabia onde apertar no elevador”, contou.

A esposa do jogador relata que entregou o filho para os médicos ainda sem saber o que tinha acontecido.

“Coloquei ele em cima da maca e ele estava um pouco roxo. Eles falaram que precisariam que eu me retirasse. E começaram o trabalho de reanimação dele. Eu só queria ouvir o chorinho dele, mas eu não ouvi em momento algum. Eu só ouvia adrenalina, tantas doses de adrenalina, uma movimentação intensa. A Cida ficou sentada, eu perguntava o que tinha acontecido e ela não conseguia me dizer o que era, o Raniel em choque abraçado com o Dani. Eu só falava “Deus, Deus”, andava de uma ponta na outra. Até que o médico veio perguntar o que aconteceu e a Cida disse que  ele tinha caído na piscina. O meu mundo desabou. O médico perguntou quanto tempo ele tinha ficado na água e ela disse cerca de dois minutos. O Felipe sempre foi muito serelepe, muito agitado. Ele dormia no chão para evitar queda, coisas assim. Tinha uma porta aqui que nunca fica aberta, mas nesse dia estava aberta. A Cida deixou o Felipe dormindo e foi no andar do meio trocar a roupa, coisa muito rápida, e quando ela voltou ele estava na piscina, afogado. Quando ela falou afogamento, dois minutos na água, me veio na memória o filme “Superação, o milagre da fé”, que tinha assistido com o Raniel. O início estava muito parecido com o que a gente estava vendo”, relatou Aline.

Os médicos começaram a tentar reanimar o garoto e ele ficou cerca de 30 minutos sem respirar.

“O médico disse que ficou 30 minutos reanimando ele. Ele ficou 30 minutos em parada, sem receber oxigênio no cérebro, o que é muito, o estado dele era gravíssimo. O médico disse que as próximas horas seriam cruciais, que não sabia qual a minha religião, mas que era para orar, rezar. Eu perguntava se tinha resposta de alguma coisa, até que veio uma enfermeira que sentou do meu lado e disse que o estado era gravíssimo, que não conseguiam fazer o acesso nele. Tiveram que chamar uma equipe de cirurgia para fazer acesso pela jugular, mas tinha ocorrido tudo bem. Por volta das 18 horas, me liberaram para entrar. Quando eu vi ele todo entubado foi uma cena muito difícil, meu filho tão pequeninho cheio de fio, máquina de oxigênio, era muita informação. Eu chorei muito, desabei. O médico veio falar comigo e falou que iria observar ele nas próximas horas, mas que já fosse se preparando. Essa falta de oxigênio no cérebro acaba ocasionando muitas sequelas. Eu não conseguia raciocinar, nem tomar água. Fiquei os 3 primeiros dias sem comer. Eu orava sem parar e foi Deus que me sustentou”, continuou.

O passo seguinte foi ainda mais dramático, quando uma neurologista foi chamada ao hospital para avaliar o garoto.

“Eu lembro que ficava mexendo na sola do pezinho dele, na mãozinha dele com a minha unha e ele correspondia. Quando a neuro chegou, ele estava sedado, entubado. Ela fez os exames e foi conversar com o médico de plantão. Aí ele veio falar comigo, a voz estava embargada, ela se tremia toda, aí ela falou “mãe, fizemos os exames, o estado dele continua grave, mas o que eu vi, o laudo que te dou é que a coordenação motora não está coligada com a parte cerebral”. Aí eu desabei. Quando ela terminou de falar, eu só olhei pro Felipe e eu falava “Deus, eu não aceito esse laudo”. Fui correndo para a casa, eu chorava muito, muito com o Raniel. Aí ele me sustentou. Ele tentava mostrar que estava bem, mas eu conheço ele”, lembrou.

“Tinha uma enfermeira, a Marcela, que ajudou ele na reanimação. Ela estava falando que nem parece o mesmo menino. Eu entreguei o Felipe sem vida no Hospital. Desde o primeiro momento que ela colocou as mãos nele ela sentiu algo diferente, algo sobrenatural. Ela me contou que a médica tinha feito de 30 minutos de reanimação, que ela tinha dito que só tentaria mais 10 minutos. E quando a médica acabou de falar isso o Felipe respirou. Aí começou”.

Depois de alguns dias, os médicos decidiram retirar a sedação para que o garoto pudesse acordar e eles acompanhassem a reação.

“A enfermeira falou que ele estava acordando, mas que precisava sedar porque ele não podia se agitar. Eu levantei, o olho dele abrindo e fechando lentamente coloquei a mãozinha no peito, coloquei a mão na cabeça dele e comecei a declarar. Eu falava “levanta e resplandece, o papai tá com saudade, a mamãe tá com saudade, a Cida tá com saudade, fica bom logo para voltar para casa”. Lembro que ele deu um sorriso e uma lágrima escorreu pelos olhos dele. Aí ela  (enfermeira) teve que sedar ele. Assim a gente foi. Lutando dia após dia, mas depois de um certo tempo resolvi me isolar. Me desconectei de todas as redes sociais. Nesse momento eu busquei mais a Deus, orava sem parar. Mas eu precisava de mais ainda. A gente tem essa velha mania de querer que as coisas aconteçam do nosso jeito e nem sempre tem de ser nosso jeito. Nem sempre o que a gente quer é realmente o que a gente precisa. Comecei a refletir mais sobre certas coisas e fiz a oração da entrega”, explicou.

Felipe entrou no hospital com 9 meses e completou o 10º mês na UTI. Aline Silva relata a solidariedade e os gestos de carinho da equipe do hospital com ela e a família.

“Vocês que me acompanham sabem que eu sempre faço mesversario para ele, eu amo comemorar. Chegou o dia do mesversario e foi muito difícil para mim, não podia. A equipe de enfermagem disse que eu precisaria fazer sair da sala porque fariam um procedimento nele e precisariam que eu me retirasse. Demorou um pouco e, quando me chamaram, eu entrei na sala e eles tinham decorado lá com bolas, feliz aniversário Pipe… são coisas que aquecem o coração”. lembrou.

“Todos os indícios eram apara ele não sobreviver ou sobreviver da pior forma possível. O Felipe hoje mexe tudo, mexe todos os membros. Os 30 minutos acabaram afetando uma parte chamada córtex, o Felipe não só renasceu, eu digo que ele tem duas datas de aniversário. O dia 30 de maio e o dia 23 de maio. Agora é muita fisioterapia, muita terapia, nessa última semana ele teve um pico de evolução que não era esperado. Ele consegue acompanhar as coisas com os olhares, ele dá gargalhadas. Ele é milagre. Estamos e sempre seremos muito gratos a Deus por tudo. O Felipe está em processo de home care, ele faz fisioterapia, fono, tudo em casa. Na próxima semana ele vai começar a ir para uma clínica, o que vai ser muito bom para o tratamento, para a evolução dele”, explicou.

Aline Silva ainda revelou que Felipe já havia enfrentado uma batalha pela vida quando nasceu.

“O Felipe nasceu com 35 semanas. O Dani nasceu de 36 semanas, eu fiquei na UTI porque tive complicações no parto. O Felipe eu não estava sentindo nada, eu fui fazer um ultrassom e ele perguntou se eu tinha sentido alguma coisa. Eu estava com pouco líquido. Ele falou que faria o parto na hora. O Raniel estava jogando com o Cruzeiro. Se eu ligo minutos depois ele teria saído para um jogo. Eu já tinha enfrentado 10 dias de UTI com o Dani. A médica falou que ele (Felipe) tinha 90% de chance de ir para a UTI. E com dois dias e meio ele já estava em casa”.

“O médico me falou que a ciência não explica o que aconteceu com o Felipe. Eu disse: Foi Deus”.