Júnior Caiçara chorou em sua coletiva de apresentação no Santos (Crédito: Raul Baretta/SantosFC)

*Junior Caiçara, em depoimento ao DIÁRIO DO PEIXE.

Quando você vai chegando nas ruas próximas ao CT Rei Pelé e vê aquele muro enorme com vários nomes importantes da história do Santos: Pepe, Lima, Ketlen, Rodolfo Rodrigues, o próprio Rei… passa um filme pela cabeça. Tantos jogadores que fizeram o clube ser o que é hoje. Talvez seja muita pretensão querer ter o meu rosto ali também, mas é inevitável pensar que o mínimo que temos que fazer é preservar tudo que já foi feito.

Mas, para começar essa história, tudo demorou muito para acontecer. Engraçado, meu nome era cogitado no Santos quase todos os meses. Meu telefone tocava, pessoas me falavam que leram em tal lugar que eu estaria ali, mas nada acontecia. Acredito que era uma decisão do então departamento de futebol. Mas, o acordo aconteceu, foi a melhor notícia que eu poderia receber. Eu, santista, de família santista, jogarei no Santos Futebol Clube. É o meu sonho. Quando eu recebi a camisa em minha apresentação oficial, senti algo único. Tinha um brilho diferente nela. Algo que eu nunca tinha visto em nenhum outro lugar por onde passei.

Mas, infelizmente, as coisas não foram como planejadas.

O Santos não começou bem o Campeonato Brasileiro, passou por troca de técnicos, departamento de futebol… tudo mudou. Quando eu cheguei, o Aguirre era o treinador. Pouco depois, o Marcel Fernandez assumiu e ficou. Foi uma virada de chave importante. O estádio estava cheio, vínhamos de um duro golpe em casa contra o Cruzeiro. O Bahia abriu o placar e todo mundo esperava uma derrota. Mas conseguimos a virada e renascemos na competição.

Quando você coloca na ponta do lápis, vencemos Flamengo, Palmeiras, Goiás, Bahia, Coritiba… conseguimos pontos importantes contra Corinthians e Botafogo. Mas, mesmo com isso, o time não conseguia se afastar da zona perigosa. Era um terror. Foram dias de um pesadelo que parecia não ter fim nunca.

Teve a partida contra o Internacional. Esse foi um jogo muito marcante. Perder de três é ruim, imagine de sete. E vivendo o momento que estávamos vivendo, cara, parece que tudo ali naquele momento foi por água abaixo. A gente achou que ali era o ponto final. E o vestiário ficou muito ruim. Cara, os dois dias seguintes foram muito difíceis para poder ver aquele resultado e tentar reverter a situação que estávamos. Mas a gente conseguiu reverter de uma forma inesperada, que acabou dando energia, né? O torcedor abraçou e se juntou a nós e foi até o final, mas infelizmente no final a gente não conseguiu.

É claro que eu sentia muito porque no campo eu tive poucas oportunidades. E, para ser sincero, eu ficava muito chateado porque eu acho que faltou um pouco com respeito ao profissional. Tinha três ali na posição, tudo bem que o momento era difícil, precisava suprir a posição, o João Lucas, o Gabriel Inocêncio já não vinham tendo bons momentos, eu cheguei também, cheguei um pouquinho abaixo, eu tenho consciência disso, mas poderiam ter me dado mais minutos para chegar no meu melhor e ajudar o clube. E acabaram por optar pelo Lucas Braga, um atacante de ofício.

Quando cheguei, eu sabia dos dois laterais que tinha no clube. Pelo lado clube, acho que acabou atrapalhando a performance dos dois e optaram por contratar mais um. Eu sabia e respeitei os dois. Infelizmente, eu também não consegui jogar naquela altura. O momento era difícil mesmo, mas fiz meu trabalho. Eu tentei entregar o melhor de mim e, infelizmente, não deu certo. Eu sabia dos dois laterais, a gente se entendeu ali no vestiário e não teve nenhum tipo de problema. Naquele momento, no entusiasmo para tirar o Santos daquela situação, não pensava em mim e sim em ‘nós’. Mas, hoje, analisando friamente, acho que faltou um pouco de respeito com o profissional da posição.

Toda a família de Junior Caiçara torce pelo Santos (Crédito: Raul Baretta/SantosFC)

Mas, chegou o jogo contra o Fortaleza, e todo mundo ali dentro tinha a ciência da importância do jogo. Todos estávamos ali querendo o melhor. Sabe, é muito difícil lembrar disso tudo porque é uma mancha que não vai se apagar. O time que fez parte disso será sempre lembrado. Mas a minha maior dor está dentro de casa, gente. A minha família, eu, meus amigos… o Santos sempre foi a nossa vida. Quando o jogo acabou parecia que algo tinha sido arrancado de dentro de mim. Você, como jogador e torcedor, está ali dentro e sente o clube e acaba sentindo muito mais quando você está defendendo porque você se culpa por tudo. Foi um golpe muito duro mesmo. Semanas sem dormir e um sentimento de impotência que não passa.

Hoje eu vejo de longe o clube tentando se remontar, fazendo contratações. Tenho certeza de que o Santos vai se levantar. Eu vou torcer por esse clube até a morte. Eu sou muito grato ao Santos pela abertura de porta. Leio comentários ruins nas redes sociais e fico chateado porque eu queria muito que a história fosse outra, queria ter ajudado mais, contribuído mais.

Deixo o meu respeito, o meu amor, carinho e, claro, minha torcida ao clube. O Peixe é parte da minha vida e saio com o coração despedaçado, mas com a certeza de que o Santos voltará ao seu devido lugar.