Álvaro é o terceiro jogador dos agachados. Craque do Paulistão de 1955 e referência técnica do início da Era Pelé, Álvaro Valente foi um dos principais jogadores do Peixe na famosa e vitoriosa década de 50 (Crédito: Reprodução)

Texto de Fernando Ribeiro para o DIÁRIO DO PEIXE

Álvaro José Rodrigues Valente nasceu em São Paulo, em 24 de setembro de 1931, mas ainda muito pequeno mudou-se com a família para o Guarujá. O sonho de criança era ser médico, mas acabou seduzido pelo esporte bretão.

Os primeiros ídolos foram Domingos da Guia e Leônidas da Silva. Deu seus primeiros passos no futebol jogando pelo Guarujá Atlético Clube, mas foi no Jabaquara onde seu talento foi devidamente reconhecido. Logo chegou ao time principal e o seu vistoso futebol foi o chamariz para a transferência ao Santos.

Chegou ao Alvinegro em fevereiro de 1953, junto ao lateral e zagueiro Feijó. Na estreia pelo Peixe, em março, marcou três gols na vitória sobre o Flamengo (4×3), em amistoso na Vila Belmiro. O bom começo consolidou Álvaro como o dono da camisa 9 e ele encerrou a temporada com 17 gols marcados – Vasconcelos, o maior marcador do ano, fez 28.

Apesar do destaque, Álvaro era visto com desconfiança pela torcida, que o classificava como lento. O ponto de virada na carreira de foi em abril de 1954, quando Luiz Alonso Perez, o Lula, assumiu o comando técnico da equipe. O treinador valorizava em demasia os jovens jogadores e com isso Álvaro ganhou muito mais chances.

Com apoio do chefe, a confiança voltou e rapidamente tornou-se o destaque do time. Jogador de grande técnica, rendia muito bem tanto como centroavante, como atuando pela meia direita. A falta de velocidade era compensada com ótima visão de jogo e qualidade técnica. Em 1954, tornou-se o artilheiro da equipe, ao marcar 26 gols. A notória evolução de Álvaro e outros jogadores daquela equipe, como Formiga, Zito e Wálter, fizeram com que o Peixe fosse a sensação do Paulistão daquele ano, apesar de encerrar a participação em terceiro lugar.

Em franco crescimento, o desempenho de Álvaro chegou ao ápice no ano seguinte. Com a saída de Walter e ascensão de Del Vecchio, migrou para a meia direita e foi eleito o melhor jogador do Campeonato Paulista de 1955, que terminou com o título santista depois de vinte anos de jejum. Chegando na área com a bola dominada, diminuiu o número de gols marcados, porém ampliou sua participação efetiva no sistema ofensivo do time. Na campanha vitoriosa, fez dez gols. Álvaro foi o autor do gol que abriu o placar no jogo do título, vitória sobre o Taubaté em Vila Belmiro, na última rodada, por 2×1 (Pepe marcou o segundo gol). Ele foi ainda o autor do primeiro gol do Peixe no Peru, na excursão inédita que o Santos fez ao país andino.

“É um portento para jogar futebol. Calmo, sereno, estilístico, o avante santista é um craque na acepção da palavra. Joga futebol por música. Faz com a bola nos pés o que muita gente não faz nem com as duas mãos. É um verdadeiro astro do futebol brasileiro”, trouxe em suas páginas o periódico Mundo Esportivo.

O bom desempenho rendeu-lhe diversas convocações para a Seleção Brasileira. Foram 11 jogos e 3 gols com a camisa amarela. Foi campeão da Taça Oswaldo Cruz, competição amistosa disputada diante do Paraguai. Disputou a Copa América de 1956, mas perdeu espaço ao longo do ano e foi preterido do grupo que participou da reta final da preparação para a Copa do Mundo de 1958.

Álvaro teve o prazer de jogar, desde 1955, ao lado de seu irmão mais novo, Ramiro. Juntos, conquistaram três títulos do Paulistão (1955, 1956 e 1958). Na famosa excursão do Peixe à Europa em 1959, os irmãos Valente chamaram a atenção dos dirigentes do Atlético de Madrid, que aproveitou a estadia santista no Velho Continente e garantiu a contratação de ambos.

Pelos colchoneros, Álvaro atuou de 1959 a 1960, porém disputou apenas 12 partidas neste período – marcou três gols. Um dos tentos foi anotado no empate em 3 a 3 contra o Real Madrid de Puskas, Di Stéfano e Gento – Ramiro também marcou gol neste jogo. A aventura espanhola de Álvaro durou pouco, mas seu irmão permaneceu em Madri até o ano de 1965.

De volta ao Brasil, disputou apenas mais uma partida com o Peixe e pouco tempo depois encerrou a carreira. Aposentado, trabalhou como zelador em um prédio em Guarujá. Diversos problemas de diabetes fizeram com que tivesse sérias complicações, causando sua morte três dias antes de completar 60 anos, em 1991. Como homenagem ao eterno craque do Peixe, há uma rua batizada com seu nome no Jardim Acapulco, em Guarujá.