Criado nas escolas de futebol da cidade de Santos, foi um dos principais jogadores do clube na década de 20. Fez parte do ataque com a maior média de gols da história do Campeonato Paulista (Crédito: Reprodução)

Texto de Fernando Ribeiro para o DIÁRIO DO PEIXE

José de Andrade Torres nasceu em 24 de dezembro de 1904, na cidade de Santos. Não encontra-se nenhuma fonte que indique o motivo do apelido Siriri, porém, o mais provável é que seja derivado dos pequenos cupins com asas – chamados de Aleluia em algumas regiões do país. Junto ao seu irmão, Camarão, começou a carreira no Brasil Futebol Clube, na sua cidade natal. Por indicação de José Caetano Munhoz, os irmãos bons de bola receberam convite e ingressaram no Santos em 1923.

Pequeno, porém muito ágil e veloz, Siriri podia atuar em qualquer posição no ataque. Essa versatilidade fez com que tivesse muitas oportunidades no time principal. Em sua estreia pelo Alvinegro, diante da seleção do Rio Grande do Sul, marcou dois gols. No ano seguinte, 1924, marcou o maior número de gols em uma só temporada pelo clube: 18 gols.

Nas temporadas seguintes, continuou com o faro artilheiro e ótima média de gols: em 1925 foram 11 gols em 19 jogos. Em 1926, balançou as redes 13 vezes em 15 partidas. Titular absoluto, viu o Peixe montar, aos poucos, a grande equipe que assombrou os gramados paulistas em 1927. Integrou o ataque dos 100 gols junto a Omar, Camarão, Feitiço, Araken e Evangelista. Ao longo do Paulista daquele ano, atuou como ponta direita, ponta esquerda e até como centroavante. Os seis foram responsáveis por 96 gols na competição dos 100 marcados pela equipe em 16 jogos – é, ainda hoje, a maior média de uma equipe no Campeonato Paulista (6,25 gols por jogo).

Apesar do desempenho histórico, o Peixe não conquistou o título em 1927. No ano seguinte, novamente os santistas ficaram com a segunda colocação no certame estadual. Foram cinco gols no Paulista e 17 contabilizando todas as 22 partidas que jogou no ano. Em 1929 o Santos ficou, outra vez, com o vice-campeonato estadual, porém Siriri não disputou a competição em sua totalidade. Foram apenas três participações, das sete que o clube disputou no certame – marcou dois gols.

Sua saída do clube foi das mais controversas.

Em tempos de futebol amador, Siriri era funcionário da Companhia Sul América de Seguros. Ao atuar pela equipe de sua empresa empregadora, acabou punido com suspensão do quadro social do Santos. O time da seguradora disputou a preliminar da partida entre Portuguesa Santista e Vitória de Setúbal, de Portugal. O problema é que a Portuguesa era filiada à Liga Amadora de Futebol (LAF), concorrente da federação a qual o Peixe era vinculado (Associação Paulista de Esportes Atléticos, APEA). O zagueiro Bilu, que também participou da peleja, foi suspenso. Araken Patusca então tomou as dores dos amigos e pediu suspensão do clube. A relação entre Siriri e Araken era boa fora, quanto dentro dos gramados – Siriri era casado com a irmã do companheiro de ataque, Aracy Patusca.

Alijado de atuar pelo clube do coração, Siriri prosseguiu sua carreira no recém fundado São Paulo da Floresta, que originou o atual São Paulo Futebol Clube. Pelo clube paulistano, jogou entre os anos de 1930 e 1931. Lá, conseguiu, enfim, o título de campeão paulista, em 1931. Neste mesmo ano, foi titular absoluto da Seleção Paulista no Campeonato Brasileiro de Seleções, em campanha que terminou com o vice-campeonato. Apesar do imenso sucesso na carreira, Siriri nunca chegou a jogar pela Seleção Brasileira – lembremos era época em que os selecionados nacionais reuniam-se poucas vezes.

A carreira de Siriri teve final trágico, porém bastante comum para a época que atuou. Na vitória do São Paulo frente ao Club Sportivo América (antigo Sílex), recebeu dura entrada do zagueiro Pavani e fraturou o tornozelo em dois lugares. Passou por dois procedimentos cirúrgicos, mas jamais conseguiu se recuperar e voltar a jogar. A tarde de 08 de novembro de 1931, no campo da Floresta, marcou a última partida de Siriri como jogador de futebol.

Impedido de fazer o que mais gostava, teve de buscar novos rumos pessoais e profissionais. Tentou a sorte como treinador de futebol, inclusive dirigindo as categorias de base da Seleção Paulista, mas não teve vida longa na função. Como muitos outros jogadores, ingressou no funcionalismo público, onde prosseguiu até a aposentadoria definitiva.

Siriri faleceu em sua adorada Santos, aos 74 anos, em 25 de maio de 1978. “Siriri era temível, pequeno, mas jogador combatido e efetivo”, publicou em suas páginas o periódico Mundo Esportivo ao traçar o perfil do jogador. Jornais da época indicam que seu comportamento era alegre e bem humorado, cantando tangos e sambas por onde andava, além de ser grande contador de piadas.

Mesmo sem ter conquistado nenhum título de expressão, é um dos principais jogadores da história do Peixe. Fez tanto sucesso no Santos que alguns torcedores diziam que as letras SFC grafadas no escudo do clube significava Siriri, Feitiço e Camarão.