Durante uma década, Lima brilhou com a camisa do Santos (Crédito: Bruno Giufrida/Santos FC)

“No Santos, eu joguei em dez posições. Só não joguei de goleiro”. Não foi por acaso, portanto, que Antônio Lima dos Santos ficou famoso como o maior curinga do futebol brasileiro, o homem que era capaz de jogar em qualquer lugar do campo. Durante dez anos, Lima exibiu com a camisa alvinegra uma versatilidade sem precedentes no país e foi peça fundamental do Peixe no período mais glorioso de sua história.

Mineiro criado na cidade de São Paulo, Lima começou a carreira no Juventus e já começou a fazer parte da história do Santos antes mesmo de chegar ao clube. A explicação: ele, de camisa grená, participou do famoso jogo da Rua Javari em que Pelé marcou o gol que é considerado o mais bonito de sua carreira por muita gente. Lima, inclusive.

“Eu estava perto do lance, mas não fui um dos jogadores em quem o Pelé deu chapéu, infelizmente. Ele deu um chapéu no Homero, um no Clóvis e outro no goleiro Mão de Onça antes de marcar. Foi o gol mais lindo da carreira dele.”

No começo de 1961, aos 19 anos, Lima foi convocado para a seleção paulista para a disputa do Campeonato Brasileiro de Seleções. Como boa parte do time era formada por jogadores do Santos, o médio-volante iniciou ali um namoro com o clube alvinegro que rapidamente virou casamento.

“Logo na apresentação da equipe, na sede da Federação Paulista, já comecei a me entrosar com a turma do Santos. O Lula (técnico santista na época) me perguntou se eu tinha interesse em jogar no Santos, e eu disse que sim. Teve início, então, uma conversa entre as diretorias e um mês depois eu já estava na Vila Belmiro. Cheguei em março de 61”, conta Lima. “A recepção que recebi no clube foi maravilhosa. Na seleção paulista, eu me dei tão bem com os jogadores do Santos que parecia que eu já era do clube. Quando acabou o Brasileiro de Seleções, o Zito me disse assim: ‘Semana que vem eu quero ver você lá’. Eu me fiz de desentendido, mas ele falou: ‘Você sabe do que eu estou falando’. E aconteceu mesmo.”

O time que derrotou o Peñarol na final da Libertadores de 1962: Lima, Zito, Dalmo, Calvet, Gylmar e Mauro (em pé); Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe (agachados)

Na chegada à Vila Belmiro, o então menino Lima tremeu na base ao ser apresentado ao Rei Pelé. E jamais deixou de se encantar com a genialidade do colega.

“O que mais me chamava a atenção no Pelé era a simplicidade com que ele fazia as coisas em campo. O que para a maioria dos jogadores era muito difícil, para ele era fácil. Foi uma coisa de Deus ter a chance de jogar ao lado dele. Não tem como explicar, é um privilégio.”

Ao lado do Rei, Lima ganhou todos os títulos que poderia ganhar, e mais alguns. Entre os mais importantes, ele cita os dois Mundiais, conquistados em 1962 e 1963. Como jogador do Santos, foi titular do Brasil na Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra. E ganhou a fama de jogador multiuso, o que jamais o incomodou.

“Jogar em várias posições nunca me atrapalhou, muito pelo contrário. Isso só atrapalha os jogadores que não têm facilidade para se adaptar”, afirma Lima, atualmente com 77 anos. “Cheguei ao Santos como médio-volante, para ser reserva do Zito, e logo comecei a migrar pelas posições. Eu me lembro de um amistoso contra o Panathinaikos, na Grécia, numa daquelas muitas excursões que a gente fazia, em que eu joguei em oito posições durante o jogo.”

Lima deixou o Santos em 1971, quando foi vendido para um clube do México. A saída ocorreu sem nenhum trauma, pois a proposta financeira era muito boa para o jogador e ele foi bastante feliz nos quatro anos em que jogou no país da América do Norte. Assim como é feliz até hoje por ter seu nome e sua imagem sempre ligados ao Santos.

“Depois de encerrada a carreira, eu me fixei em Santos e nunca mais saí daqui. Sou funcionário do clube, trabalho no departamento amador. O Santos é tudo para mim, representa minha ascensão na carreira, minha família, minha casa, meu carro… Enfim, tudo. É claro que eu tive meus méritos, mas foi preciso que alguém me desse uma chance, e quem fez isso foi o Santos.”

FICHA TÉCNICA

Nome: Antônio Lima dos Santos
Data de nascimento: 18/1/1942
Local de nascimento: São Sebastião do Paraíso (MG)
Principal posição: Médio-volante
Jogos pelo Santos: 694
Gols pelo Santos: 63
Período em que defendeu o Santos: 1961 a 1971