O volante Klevertinho defende a equipe sub-15 do Santos na Copa Votorantim (Crédito: Arquivo pessoal)

*Por Klevertinho, especial para o DIÁRIO DO PEIXE

Eu me chamo Kleverton Santos Silva, mas sou mais conhecido como Klevertinho. Sou do interior da Bahia, de Muquém do São Francisco, uma cidade com apenas 12 mil habitantes e pouca estrutura. Hoje estou no Santos, atuando como volante do time sub-15 e já tive a chance de treinar duas vezes com o time profissional no ano passado. Com o Sampaoli! Nunca havia passado pela minha cabeça que iria treinar com um cara que treinou o Messi.

Não foi fácil chegar até aqui. Muitas pessoas na minha cidade falavam que eu seria apenas mais um que sonhou e não chegou. Em Muquém não tinha campo gramado, era um terrão mesmo e eu gostava de jogar no meio dos mais velhos, mas tinha poucas oportunidades. Quando não estava jogando bola eu gostava de andar a cavalo e, às vezes, trabalhava na roça para ganhar um trocado. Ganhava R$ 20, R$ 30 capinando. Também trabalhava fabricando água de coco para as festas da cidade. Eu cortava o côco, pegava um pano de prato para coar a água e colocava nas garrafinhas. Depois lacrava para vender.

A minha história começou a mudar quando recebi uma ligação do meu tio Dirceu dizendo que teria uma avaliação do Palmeiras em Barreiras-BA, que fica a cerca de 2 horas de Muquém. No dia seguinte, viajei para Barreiras, dei meus primeiros toques na bola e o observador do Palmeiras pediu ao meu tio para agendar minha viagem para o clube.

Só que meu tio não sabia que lá também tinha um observador do Santos, o Joãozinho, do CT Canarinhos. O observador do Santos ligou para meu tio e falou para “levar o menino” para uma avaliação em Santa Rita de Cassia, que fica a cera de 3 horas de Barreiras.

Eu fui.

Chegando lá, o Joãozinho falou que iria me avaliar por uma semana, mas fui bem no primeiro treino e ele já me mandou para Santos. No segundo dia no clube já recebi a notícia que tinha sido aprovado. Cheguei em Santos com 13 anos de idade e foi meio difícil. Lembrei das pessoas da minha cidade que diziam que eu não iria conseguir, que eu não iria aguentar a saudade da família.

Foi difícil mesmo.

Especialmente no final do ano passado quando perdi minha avó. Sem dúvidas, ela foi a mulher que me deu tudo que precisava para fazer o que mais amava, que era jogar futebol. Ela me acordava às 5 horas da manhã para eu ir correr no campo, sozinho. Ela me criou desde pequeno, mas eu não pude ir vê-la pela última vez.

Foi o momento mais difícil da minha vida, mas fui forte e, graças a Deus, estou mais forte ainda.

Aquele moleque que as 13 anos que todo mundo considerava que estaria morto com 18, hoje está vivo. Estou aqui nesse clube gigantesco, já joguei o Paulista pelo Santos e agora estou na Copa Votorantim. Na quarta-feira vamos jogar as quartas de final. Vou valorizar cada momento que passo aqui porque sei que não foi fácil para chegar. Nunca vai faltar raça, amor, paixão dentro de campo.

Se eu colocar na minha cabeça que eu posso ir, eu vou.

Não posso deixar as pessoas criarem limites para mim.

*Klevertinho é atleta da equipe sub-15 do Santos e está na disputa da Copa Votorantim.