Miguelito é punido pelo STJD em cinco partidas e multa de 2 mil por caso de injuria racial

Por |2025-05-19T15:04:16-03:0019 de maio de 2025, 15:00 |

Miguelito esteve presente no tribunal para testemunhar (Crédito: Reprodução)

Emprestado pelo Santos ao América-MG, o meia-atacante Miguelito foi punido pelo STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) em cinco partidas e multa de R$ 2.000,00. O julgamento da 1ª Comissão Disciplinar aconteceu no Rio de Janeiro na manhã desta segunda-feira (19).

Além dele, o América-MG e o Operário-PR foram absolvidos das denúncias. O Coelho pelo próprio caso do jogador e a comissão entendeu que o clube não tem responsabilidade sobre o caso. Já o Fantasma por um torcedor que arremessou objeto no gramado, mas identificou o indivíduo e encaminhou para a Polícia.

Miguel Terceros foi denunciado no artigo 243-G do CBJD (Código Brasileiro de Justiça Desportiva) que diz sobre “Praticar ato discriminatório, desdenhoso ou ultrajante, relacionado a preconceito em razão de origem étnica, raça, sexo, cor, idade, condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência”. Veja o que ocorreu e como foi o julgamento abaixo.

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CASO PAROU DA JUSTIÇA

Ele responde em liberdade enquanto segue as atividades normalmente no Coelho. O boliviano foi acusado e detido em Ponta Grossa, no Paraná, por caso de racismo na derrota do América-MG para o Operário-PR por 1 a 0, no Germano Kruger, pela sexta rodada da Série B, no dia 4 de maio.

Depois do jogo, o autor (meia-atacante Miguel), a vítima (atacante Allano) e uma testemunha (volante Jacy) foram conduzidas por uma equipe da Polícia Militar até a sede da 13ª Subdivisão Policial. Após ouvir os envolvidos, foi dada voz de prisão em flagrante a Miguelito pelo crime previsto na Lei nº 7.716/89, que prevê pena de até cinco anos de reclusão.

“O que aconteceu foi depois de um lance. Uma falta como o senhor falou. Já tinha tido faltas antigas. Teve coisas que eu falei, mas em nenhum momento eu fui falar olhando para ele. Pelo eu falei “cagao” pela falta, mas foi para o juíz. Estava dando faltas sem sentido. Depois, eu falei uma expressão em espanhol e português. Falei “merda do caralho”, mas nenhum momento falei com ele diretamente. Foi uma expressão que tive, pelas faltas, mas não falei mais nada. Quando viro pra ele, não falo nada. Como falei devagar, ele teve uma reação muito rápida. Estava discutindo pelo lance, comentou a falar “você falou preto?” Eu olhei para ele sem entender nada. Ele virou para mim e falava “você me chamou de preto, você me chamou de preto” e eu olhei para ele com cara de quem não estava entendendo. Depois chegou o amigo dele, começou a briga e não falou mais nada. Sim, só falei isso. Quando eu viro a cabeça, tem duas vezes que olho para ele. A primeira falo “merda do caralho”, quando eu estou na frente foi quando ele começou a falar. Não achei que estava falando comigo e depois chegou o amigo dele”, disse Miguelito de madrugada em depoimento à Polícia.

Ele não passou por audiência de custódia após pedido da defesa acatado pelo juiz Thiago Bertuol de Oliveira. A Polícia Civil já entrou em contato com a ESPN, dona da transmissão do jogo, para pedir mais imagens que possa ter registrado o momento. A investigação segue e o Ministério Público pode denunciar o jogador.

ENTENDA O QUE ACONTECEU

O ocorrido foi relatado pelo árbitro Alisson Sidnei Furtado (TO) na súmula. Pelo registro, Miguel teria chamado o atacante Allano, do Operário, de “preto cagão”. A equipe de arbitragem cumpriu com o protocolo de antirracismo e a situação foi anunciada ao estádio.

“Relato que aos 30 min do primeiro tempo, o atleta número 29 da equipe mandante, Sr. Allano Brendon de Souza Lima, veio até minha direção, alegando ter sido chamado de “preto cagão” pelo atleta Miguel Angel Terceros Acuna, número 07 da equipe visitante. Informo que nenhum integrante da equipe de arbitragem no campo de jogo viu e/ou ouviu tal incidente. Após a comunicação do atleta da equipe mandante, imediatamente foi realizado o protocolo antirracismo, em sua primeira etapa, a qual consiste na paralisação do jogo, realização do gestual antirracista e o anúncio feito no estádio explicando o motivo da paralisação do jogo e que se o incidente não cessasse, a partida seria interrompida”, escreveu o árbitro.

COMO FOI O JULGAMENTO
O julgamento da 1ª Comissão Disciplinar foi composto pelo presidente Marcelo Rocha, pelo relator Guilherme Martorelli, pelo procurador Jhonny Prado, pelo secretário André Barbosa e pelos auditores Alcino Guedes, Carolina Ramos e William Figueiredo. Além dos advogodados do Miguelito, do advogado do América-MG e do advogado do Operário-PR Alessandro Kishino.
Iniciou o julgamento com o depoimento de Jacy, testemunha, em que afirmou ao STJD que ouviu ‘preto do caralho’ vindo de Miguelito. E que pensou em segurar o Allan, falou que é uma coisa chata que ainda acontece e tentou controlar o companheiro. No entanto, foi apresentado o depoimento do próprio Jacy à polícia, em que ele não dá os detalhes que deu ao tribunal.

Alessandro Travassos, perito, analisou imagens e concluiu que Jacy fala à arbitragem que ‘não ouvi não’ sobre uma ofensa de Miguel a Allan. O profissional explicou como é realizado o exame, afirmou que seria difícil ouvir pelo barulho do estádio e que não teve como saber o que o Miguel falou por falta de camêra em direção ao boliviano. Ele também explicou a formação internacional que possui e que já havia atuado em outro caso no STJD.

O atleta Marlon, do América-MG, também deu depoimento e estava próximo aos dois no lance. Ele afirmou que não ouviu o que Miguel falou já que tinha acontecendo falta e  estádio estava em barulho. Já o técnico William, também do Coelho, deu depoimento e revelou que Jacy foi ao banco dos mineiros e disse que ‘ouvi nada não’ em várias outras vezes. Também elogiou o Miguelito no dia a dia.

Miguelito estave presente no tribunal e reafirmou o que havia dito à Polícia. O jogador afirmou que quis ofender o árbitro pela falta dada e falou ‘cagão’ e ‘merda do caralho’. Mas que não tinha se dirigido a ninguém e foi quando o Allan teria abordado o meia-atacante perguntando ‘você me chamou de preto?’. Miguel disse que não entendeu. Ainda completou que não tinha tido atritos com Allan, mas que o jogador estava arrumando confusão no jogo.

Jhonny Prado, procurador, falou sobre racismo estrutural e pediu pena máxima, mas não apresentou prova e vê a questão da súmula. Também viu condenação do América-MG e responsabilidade. O advogado do América-MG falou em caso isolado e citou outros casos de insucesso, pedindo absolvição do time mineiro.

O advogado Miguelito ressaltou a importância do combate ao racismo, mas reforçou que defesa não viu o que aconteceu. Afirmou que apenas o Jacy ouviu o caso e nenhum outro atleta do Operário-PR e do América-MG e que o perito ainda confirmou a dificuldade de ouvir pelo barulho do estádio. Alegou que Jacy falou diferente do depoimento, viu prova frágil e na súmula analisa que árbitro não ouviu.

Ele continuiu falando sobre o quanto a súmula e o boletim se contradizem e afirmou que o atleta não pode der condenado por prova assim. Disse que Miguelito é ídolo nacional, convocado pela Seleção Boliviana e que tem zero ocorrência. Apontou que Allan fez duas outras condenações parecidas na Europa e nada foi provado, além de histórico de indisciplina e foi suspenso por doping, no uso de maconha. Por ausência de provas contudentes, pediu absolvição.

Alessandro Kishino, advogado Operário, também atuou pedindo absolvição do clube pela identificação do torcedor que foi encaminhado a Polícia e feito o Boletim de Ocorrência. Nos votos, relator Guilherme Martoreli absolveu Miguelito, América-MG e Operário-PR. Auditor Alcino aplicou pena mínima (5 partidas) e multa 2 mil reais, absolveu América-MG absolve e multou em R$ 2.500 mil.

O auditor William Figueiredo seguiu aplicando 5 partidas e 2 mil ao Miguelito e absolveu Operário-PR e América-MG. Auditora Carolina Ramos absolveu os três envolvidos. Por fim, o presidente Marcelo Rocha absolveu Operário e América-MG, mas acompanhou a divergência pelo Miguelito. Foi o que ficou definido por maioria.

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