Aarão Alves trabalhava no Santos desde 2013 (Crédito: Pedro Ernesto Guerra Azevedo/Santos FC)

Demitido na última sexta-feira do cargo de técnico da equipe sub-20 do Santos, Aarão Alves falou com exclusividade ao DIÁRIO DO PEIXE. O clube decidiu pela saída do treinador após a eliminação na primeira fase da Copa do Brasil, com derrota para o Figueirense por 5 a 3 na Vila Belmiro.

Filho de Manoel Maria, jogador do Santos nas décadas de 60 e 70, Aarão trabalhava como técnico das categorias de base do Peixe desde 2013. Torcedor fanático do clube, o profissional disse que não teve respaldo da atual gerência da base para trabalhar e que sua saída era para ter acontecido no começo do ano, o que só não ocorreu porque a equipe foi bem na Copa São Paulo de Futebol Junior. O Peixe se manteve invicto na competição até as quartas de final, fase em que caiu diante do Internacional.

“Assumi o time destruído, com promessas de que teria respaldo, e não tive. O Santos é o clube que mais revela jogador no Brasil e não podia subir atleta do sub-17, coisa que não sei explicar o motivo”, contou o treinador. Recebi a orientação de que não poderia escalar atleta nascido em 1998 porque esses não poderão atuar na Copa São Paulo do próximo ano. Ninguém do departamento das categorias de base foi uma vez ao treino falar com a gente. Faço relatórios e nenhum retorno. A situação estava insustentável, não tiveram respeito comigo. Se me mantêm, então deem respaldo, mas me deixaram jogado. Trata-se de uma diretoria nova e eu não fazia parte da equipe deles, nem de outros. Eu sou Santos! Foi uma covardia o que fizeram comigo, não me deram condições de trabalho e nem justificativa para a demissão. Não foi papel de homem o que fizeram comigo”, desabafou Aarão, que revelou que até na seleção de novos atletas não era mais escutado pelos seus superiores.

Nos últimos anos, foram lapidadas pelo treinador revelações da base como Thiago Maia, Arthur Gomes, Diogo Vitor, Guilherme Nunes, Gabriel Calabres e Caio Henrique, jogador que foi vendido ao Atlético de Madrid no passado e quase foi recontratado pelo clube na última semana. O Peixe não chegou a um acordo financeiro com o empresário do atleta, que acabou fechando com o Paraná.

“Toda semana passam uns 20 atletas para analisar. Eu avalio e aprovo, mas aí eles precisam ser aprovados por outros também. Aí o que eu aprovo não fica e outros que não aprovei no final de semana já estão treinando, e com contrato com o clube”, lamentou Aarão. Primeiro é difícil treinar uma equipe, entregar relatórios dos atletas e outros itens, e depois avaliar tanta gente junta, mas de nada do que eu estava fazendo desde o começo vinha um retorno. Eu me sentia jogado no clube, sem respaldo. Mas saio de cabeça erguida, pois foram mais de quatro anos com títulos, brigando por conquistas e revelando jogadores. O carinho dos atletas na minha saída fala por si só, muitos que hoje estão no profissional e em outros clubes me ligaram desejando sorte e lamentando minha saída.”

Sobre a eliminação precoce para o Figueirense na Copa do Brasil, Aarão admite que a equipe não se saiu bem na partida de volta. Mas o treinador mencionou alguns problemas extracampo que colaboraram para o fracasso do Peixe na competição nacional.

“Para o primeiro jogo, ninguém do comando da base veio falar com a nossa comissão, desejar sorte, como é de hábito em qualquer clube, seja a categoria que for. Voltamos de Florianópolis e seguiu assim, sem nenhum comentário. Antes do jogo na Vila, ninguém foi ao treino, nem ao vestiário. Nos treinos que antecederam a partida, pedi para treinar em um campo de grama natural e não me responderam, então continuei treinando no sintético do CT Rei Pelé, nem no Campo 2 deixaram. Já o próprio Figueirense treinou no CT Meninos da Vila com grama natural. Estávamos largados e jogador sente isso”, explicou o técnico.

Aarão deixou o Peixe juntamente com seu irmão André, que atuava como auxiliar técnico. Torcedor do clube, o treinador garante que vai continuar sendo santista, mas de uma coisa ele tem certeza: queriam a sua saída, e fazia tempo.

“Foi difícil chegar em casa e falar para o meu filho, que é santista, que o pai foi demitido e os motivos que levaram a isso, não quero ele com raiva do clube. Nem eu vou ficar com raiva, amo o Santos e seguirei torcendo pelo time. Claro que na hora em que me demitiram eu saí de cabeça quente, fui embora sem assinar nada, mas na segunda vou à Vila para resolver a minha situação. Mas futebol é assim, tem essas coisas. Reafirmo que minha saída não foi apenas pela eliminação, mas pelo todo, não me queriam lá e não me bancaram após anunciarem a minha permanência. O trabalho foi feito todo para não dar certo. Com tudo o que aconteceu, estou triste de deixar o clube que amo, mas também aliviado por não ter de passar por mais nenhuma injustiça dentro do Santos. Sempre honrei esse clube e seguirei torcendo de fora.”

O Santos ainda não anunciou quem será o novo treinador da sua equipe sub-20. Nos bastidores da Vila comenta-se que o clube já está entrevistando candidatos ao cargo desde sexta-feira, data em que ocorreu o desligamento de Aarão.