Pedro Martins chegou ao Santos em dezembro de 2024 (Crédito: Raul Baretta / Santos FC)

Por Laura Marcello e Lucas Barros

A situação de Pedro Martins no Santos se tornou motivo de divergência interna, envolveu integrantes do Comitê de Gestão (CG), conselheiros e membros da diretoria, e escancarou uma disputa de influência entre Marcelo e seu filho, Marcelo Teixeira Filho, conselheiro com voz ativa na gestão, e outros diretores.

A decisão pela saída de Pedro foi comunicada internamente dentro do CG na última quinta-feira. O jurídico do clube chegou a calcular os valores da multa rescisória. A medida foi vista como definitiva, com a direção preparando a transição. Pedro Martins já havia começado a ser afastado de suas funções. Um empresário que negociava a renovação de contrato de um Menino da Vila diretamente com o CEO foi informado que quem passaria a conduzir o caso seria o gerente de futebol, Guilherme Sousa. 

Em encontro com torcedores organizados durante a semana, Marcelo Teixeira foi cobrada pela saída do CEO e confirmou que ele foi indicado pela Federação Paulista de Futebol (FPF) logo após o Santos conseguir a antecipação de cotas de participação no Campeonato Paulista.

A decisão, no entanto, foi “congelada”. A principal interferência partiu de Marcelo Teixeira Filho, que não tem cargo, mas participa das principais reuniões e está presente diariamente no clube. Ele se posicionou contra a saída do CEO e tentou convencer o pai a recuar da decisão, gerando descontentamento entre dirigentes.

A influência do filho irritou membros do Comitê de Gestão, que se sentiram desautorizados. Um dos principais nomes da atual gestão, José da Costa Teixeira, o Teixeirão, chegou a cogitar a saída do CG na última quinta-feira (8), em protesto e insatisfação com a influência de Marcelinho na ocasião.

Após reunião do Conselho Deliberativo na quinta-feira, Marcelo Teixeira falou ao programa Esporte Por Esporte e negou que Pedro Martins estivesse de saída.

“Segue no cargo, não sei de onde surgem tantas especulações. Não imagino de onde vem as informações, mas faz parte e faz parte do clube esclarecer e por ponto final nessas notícias infundadas. O trabalho está sendo feito, é recente. Está sendo planejado e programado com as ações adotadas. Vamos seguindo, vamos seguindo que é importante”, disse o presidente.

Pedro Martins, por sua vez, publicou no Instagram um story com a imagem do filme brasileiro “Ainda Estou Aqui”, vencedor do Oscar, o que foi interpretado internamente como um recado.

Story de Pedro Martins na noite desta quinta-feira (8) (Crédito: Reprodução)

Pedro Martins chegou ao Santos no fim de dezembro com o respaldo da presidência e participou da montagem do elenco para a segunda janela de transferências. Auxiliou na contratação de Cleber Xavier e da nova comissão técnica, além de ter sido o responsável direto pela chegada do técnico Pedro Caixinha, já demitido. Desde a sua chegada, o clube contratou 11 jogadores, entre eles Zé Ivaldo, Luisão, Léo Godoy, Zé Rafael, Barreal, Thaciano, Neymar, Tiquinho Soares, Rollheiser, Deivid Washington e Gabriel Veron.

A situação de Veron, inclusive, gerou críticas ao CEO. Contratado por empréstimo junto ao Porto, com intermediação do Cruzeiro, o atacante teve episódios de atraso em treinos e até relatos de chegada ao treino alterado. Recentemente, ficou fora da partida contra o Grêmio após se atrasar novamente e recebeu multa na folha salarial.

Outro ponto que gerou desgaste foi a entrevista coletiva concedida por Pedro Martins em 15 de abril, nos seus 100 dias de clube. Durante a fala, o CEO usou termos como “o Santos parou no tempo”, “travas institucionais” e “o saudosismo vai matar o Santos”. Internamente, as declarações foram vistas como exposição negativa da instituição. As falas também teriam contribuído para a não vinda do técnico Jorge Sampaoli, que considerou o momento inadequado para assumir o time.

Diante de todos esses episódios, a decisão pela demissão foi tratada como necessária por dirigentes e conselheiros. Mas a intervenção do filho do presidente provocou um impasse. A pressão nos bastidores é para que a saída seja confirmada oficialmente nos próximos dias, como planejado inicialmente.