Documento revela que dívida do clube representa 30,9% da receita orçada para 2024; estatuto permite até 10% (Foto: Divulgação / Santos FC)

O Diário do Peixe teve acesso ao parecer do Conselho Fiscal do Santos sobre o balanço patrimonial de 2024. O documento, que ainda não foi divulgado oficialmente, aponta que o endividamento do clube alcançou R$ 122,1 milhões no exercício encerrado em dezembro, o que representa 30,99% da receita orçada para o ano – estimada em R$ 394 milhões. O percentual excede o limite de 10% previsto no parágrafo único do artigo 89 do Estatuto Social, salvo quando as dívidas forem para substituir financiamentos anteriores.

Segundo o parecer, o aumento da dívida foi provocado principalmente pela contratação de novos empréstimos e pela elevação das obrigações em contas a pagar, como fornecedores e transferências de atletas. Ao longo do ano, o clube contraiu R$ 30 milhões em novos empréstimos e registrou 36 novos compromissos na categoria “títulos a pagar”, somando R$ 26 milhões.

Ainda assim, o Conselho Fiscal recomendou a aprovação das contas, com base nos artigos 73º e 93º do Estatuto e no parecer da auditoria independente. O entendimento é de que, apesar da situação delicada, a gestão atual atua em um processo de reconstrução e enfrentou um cenário atípico, marcado pelo rebaixamento à Série B, o que afetou receitas e planejamento.

O parecer também destaca a importância de uma revisão orçamentária para adequar as estimativas à realidade do clube, além da elaboração de um planejamento financeiro para os próximos exercícios. A gestão apresentou um déficit de R$ 105 milhões, embora tenha superado a previsão de receitas, que alcançaram R$ 459 milhões, impulsionadas principalmente pela venda de atletas e novos empréstimos.

Por outro lado, as despesas também foram superiores ao previsto, com um custo operacional de R$ 334 milhões (R$ 69 milhões acima do orçado) e despesas administrativas de R$ 66,9 milhões, frente a uma estimativa inicial de R$ 41,9 milhões. Mesmo com um superávit operacional de R$ 58,3 milhões, o resultado final foi impactado por despesas financeiras, amortizações de atletas, provisões e depreciação.

A dívida do Santos continua crescendo: o passivo circulante aumentou de R$ 314 milhões para R$ 437 milhões entre 2023 e 2024, enquanto o não circulante passou de R$ 460 milhões para R$ 539 milhões. O patrimônio líquido fechou 2024 em R$ -529 milhões, em situação de passivo a descoberto.

O clube, no entanto, segue em conformidade com o PROFUT. Mesmo ultrapassando o limite de endividamento previsto pela lei (20% da receita bruta), a diretoria não poderá ser responsabilizada, conforme o parágrafo 1º do artigo 25 da legislação, já que não houve dolo ou culpa grave, segundo o entendimento do parecer.

O Conselho Fiscal concluiu que, apesar do cenário financeiro delicado, não há impedimentos para a aprovação das contas referentes a 2024. A recomendação foi aprovada de forma unânime entre os membros do órgão.