Renato está perto de completar oito anos de Santos. E ele espera jogar até o final de 2019 (Crédito: Ivan Storti/SantosFC)

Sou eternamente grato ao Santos. Por Renato

“Sou santista desde pequeno. Quando me tornei profissional pelo Guarani, o meu sonho era defender o meu time do coração, e tive essa felicidade em junho de 2000. Sou muito agradecido ao professor Giba, ao auxiliar Gersinho, que me conheciam dos tempos de Guarani, e ao presidente da época, Marcelo Teixeira, que foi quem me contratou e depositou a confiança no meu futebol.

Cheguei ao Santos com 21 anos, como uma aposta e cheio de ilusão. Encontrei uma equipe que tinha vários craques, como o goleiro Carlos Germano, o zagueiro Galván, que sempre era convocado para a seleção argentina, o Rincón, o Dodô, o Caio… O Valdo na época tinha 36 anos e foi um jogador que me ajudou bastante. Depois chegou o Edmundo, tinha o Robert, que era uma referência no elenco.

Naquele ano tivemos uma frustração muito grande não só entre os jogadores, mas entre a diretoria e os torcedores também. Nós tínhamos um elenco recheado de craques, podíamos conquistar o título, mas não conseguimos nos classificar entre os oito primeiros do Campeonato Brasileiro.

Eu continuei para o ano seguinte e o elenco passou por várias mudanças. Chegaram Viola, Marcelinho Carioca, o Cléber zagueiro, o volante Válber, que era do São Paulo. A gente tinha a intenção de tirar o Santos da fila de 17 anos sem títulos. Era um incômodo grande não só para os torcedores, mas para nós jogadores também. Para mim como jogador e torcedor, então…

Você escreve seu nome na história do clube com títulos, e nós queríamos ficar marcados na história do Santos.
Mas 2001 foi outro ano de frustração. Ficamos bem perto do título paulista, mas na semifinal tomamos aquele gol no finalzinho contra o Corinthians…. Aquele time tinha a oportunidade de tirar o Santos da fila, mas no Campeonato Brasileiro daquele ano de novo o Santos não conseguiu se classificar entre os oito.

Em 2002, fizemos um Torneio Rio-São Paulo abaixo das expectativas, mas nós conseguimos dar a volta por cima. Foi o ano em que aquele grupo todo acabou aparecendo para o Brasil. Entramos desacreditados no Campeonato Brasileiro. Diziam que o Santos iria cair com aquele time, mas nós conseguimos o título.

Aquela equipe cresceu no momento certo, na reta final. Conseguimos uma classificação sofrida graças a uma vitória do Gama, que já estava rebaixado, sobre o Coritiba, já que nós perdemos para o São Caetano na última rodada.
Então, enfrentamos o São Paulo, que vinha de dez jogos sem perder. Fizemos dois grandes jogos e ali nós sentimos que o título poderia acontecer, mas ainda faltavam dois confrontos.

Pegamos na semifinal o Grêmio, uma equipe aguerrida, copeira, que sabia jogar mata-mata, mas conseguimos eliminá-los.

Nós fomos para a final contra nosso arquirrival, o Corinthians. Eles tinham uma equipe muito mais experiente do que a nossa, tinham conquistado dois títulos no ano, mas nós sabíamos que a possibilidade de tirar o Santos da fila era real. Nos dois jogos das finais, nossa equipe conseguiu controlar os nervos, a ansiedade, que não era só dos jogadores, mas também de toda a torcida, e levantou a taça.

Depois do título, fiquei sabendo que era para eu ter saído do Santos no meio daquele ano. Alguns diretores queriam me emprestar, mas quando o professor Leão assumiu eu ganhei uma confiança a mais. Ele tinha me pré-convocado para a Seleção.

Renato quase ficou fora da foto do título brasileiro de 2002. Dirigentes queriam emprestá-lo antes da competição (Crédito: Divulgação/SantosFC)

Em 2003, nós fizemos outro ano muito bom e conquistamos o vice-campeonato da Copa Libertadores e do Brasileiro. O grupo mostrou muita maturidade e que aquela conquista de 2002 não havia sido por acaso.

Eu deixei o Santos no meio de 2004 para realizar o sonho de todo jogador brasileiro, que é atuar na Europa, disputar a Liga dos Campeões, e eu consegui. Essa minha primeira passagem pelo clube foi espetacular.

Quando eu voltei, em 2014, havia muita incerteza sobre o meu futebol. Estava com 35 anos e boa parte da imprensa e dos torcedores duvidava que eu seria capaz de mostrar o mesmo futebol da primeira passagem. Para piorar, tive uma lesão séria na coluna e fiquei um mês e meio parado. Não foi um ano tão bom.

Em 2015, eu consegui fazer uma boa pré-temporada e fui campeão paulista, um título que eu não tinha conquistado na minha primeira passagem. E nós conquistamos o título dentro da Vila! Parecia que era o meu primeiro, que eu estava vivendo um sonho.

Depois não tivemos um início bom no Campeonato Brasileiro. O time passou algumas rodadas na zona de rebaixamento, ficamos apreensivos, mas demos a volta por cima de novo. Fizemos um grande campeonato de recuperação e ficamos 15 jogos sem perder na Vila Belmiro, igualando um recorde da Era Pelé. Ainda chegamos à final da Copa do Brasil e perdemos o título nos detalhes, na decisão por pênaltis, deixamos escapar.

No ano seguinte, conseguimos o bicampeonato paulista, mas também ninguém acreditava na gente no Campeonato Brasileiro e brigamos até o final pelo título, fizemos uma boa competição.

Renato é o jogador mais experiente do atual elenco do Santos (Crédito: Ivan Storti/SantosFC)

Em 2017, estivemos perto da semifinal da Libertadores, faltou um pouquinho para chegarmos, e brigamos de novo no Brasileiro, mesmo com todo mundo dizendo que o Santos não iria chegar. Eu até acho melhor assim. Quando vão ver nós já surpreendemos todo mundo.

Agora em maio eu completo oito anos de clube, somadas as duas passagens. Espero que eu ainda possa dar alegrias ao torcedor e permanecer por mais um ano. Essa é minha intenção, e acho que eu tenho condições. No Brasil tem um tabu com jogadores acima dos 30, a cobrança aumenta a cada ano, mas a experiência me ajuda bastante.

Essa experiência eu procuro passar aos garotos para que eles possam crescer pessoalmente e profissionalmente. Fui muito ajudado quando cheguei aqui por jogadores como o Valdo e hoje eu tento retribuir um pouco do que o clube me deu.

Sou eternamente grato ao Santos.”