Os maiores goleiros da história do Santos

Rodolfo Rodríguez, o goleiro maior que o gol (Crédito: Reprodução)

Por Fernando Ribeiro e Vinícius Cabral, especial para o DIÁRIO DO PEIXE

Quais os cinco melhores goleiros da história do Santos? Ser goleiro em um time com DNA ofensivo não é tarefa das mais fáceis, mas o Santos teve, ao longo dos seus 108 anos de história, verdadeiros paredões.

Os pesquisadores Fernando Ribeiro e Vinícius Cabral, que escrevem os textos Jogos para sempre e Lendas da Vila para o DIÁRIO DO PEIXE, selecionaram os cinco melhores, mas sem deixar de lembrar nomes que ficaram de fora como Manga, Laércio, Claudio, Sérgio, Rafael Cabral, Vanderlei, entre muitos outros. Eis abaixo o TOP 5 de goleiros da história do Peixe.

1 – Gylmar

Gylmar é um dos maiores goleiros da história do futebol (Crédito: Reprodução)

É clichê falar que toda grande equipe começa com um grande goleiro. E a maior equipe da história do futebol começava com um dos maiores goleiros de todos os tempos: Gylmar dos Santos Neves. Um tetracampeão mundial. Duas vezes pela seleção (Copas de 1958 e 1962) e duas vezes pelo Santos (1962 e 1963). Em um período de cinco anos Gylmar dos Santos Neves conquistou o que muitos não conseguem conquistar durante a carreira inteira.

Nascido em Santos, Gylmar fez as categorias de base no Jabaquara, o Leão da Caneleira, uma outra equipe da cidade. Após boas apresentações no Paulista de 1950, chamou a atenção de dirigentes corintianos. Jogou pelo clube de Parque São Jorge de 1951 a 1961 e conquistou por três vezes o Paulistão, além de uma vez o Rio São Paulo. Vivendo um ambiente desfavorável na época, o Corinthians precisou negociar alguns de seus jogadores e levou 10 milhões de Cruzeiros pela transação de seu goleiro. O goleiro tinha uma proposta superior do Peñarol (Uruguai), outra potência da época, mas preferiu descer a serra e atuar no Santos.

E foi na meta santista que Gylmar conquistou todos os títulos possíveis na carreira de um jogador de futebol. Foram mais cinco títulos paulistas, três taças do Rio-São Paulo, cinco canecos nacionais, duas Libertadores, dois Mundiais, além de dezenas de outras taças ao lado dos companheiros que fizeram brilhar os olhos de torcedores de todo o planeta. Sua estreia foi no dia 7 de janeiro de 1962 em vitória diante do Barcelona por 6 a 2 em Guayaquil, no Equador. Sua última partida pela Santos marcou também sua despedida dos gramados. Foi no dia 05 de outubro de 1969 na derrota de 3 a 2 para o Cruzeiro. Ao todo foram 331 partidas como goleiro do Santos Futebol Clube.

Apelidado de Girafa devido a seu porte esguio, Gylmar era elegante dentro e fora dos campos. Pela Seleção, além dos dois títulos mundiais, Gylmar se apresentou em 101 ocasiões, incluindo as Copas de 1958, 1962 e 1966.

2 – Rodolfo Rodríguez

Goleiro uruguaio se tornou uma lenda da Vila com grandes atuações e sua liderança (Crédito: Reprodução)

Uma incrível sequência de defesas, em 1984, pode exemplificar a belíssima passagem de Rodolfo Rodríguez pelo Santos. Naquela noite, em Vila Belmiro, os jogadores do América (SP) não conseguiram transpor o enorme paredão uruguaio, ao ponto do atacante Tarcísio afirmar: “ele era maior do que o gol”. Ídolo da torcida, o goleiro é venerado até os dias de hoje e frequentemente convidado para eventos no Brasil.

Rodolfo desembarcou em Santos sob grande expectativa. Grandes atuações pela seleção uruguaia e pelo Nacional, de Montevidéu, deram-lhe fama internacional. Poucos meses antes de chegar, havia vencido a Copa América, diante do Brasil, em final disputada em Salvador. A negociação para sua contratação teve auxílio do Rei Pelé, que emprestou ao Santos 20 mil dólares para complementar o valor pedido pelos uruguaios – a transação total custou ao Peixe 120 mil dólares.

Muito experiente, tomou conta da posição ao chegar, sem dar qualquer chance ao antigo titular, Marolla. Tornou-se um dos líderes do time rapidamente, juntando-se a outros jogadores de grande personalidade, como Márcio e Serginho. Estreou no gol santista em amistoso contra o Araçatuba no interior paulista em empate sem gols. A segurança defensiva foi fundamental na campanha vitoriosa no Paulistão de 1984, até hoje lembrado com muita alegria pelos santistas. Mesmo em momentos irregulares da equipe depois deste título, jamais foi questionado pelos torcedores.

Foram cinco anos envergando o manto alvinegro, ocupando a sétima colocação entre os goleiros que mais jogaram pelo clube – esteve presente em 255 oportunidades. Seguiu em 1988 ao Sporting, de Portugal, porém retornou ao Brasil para jogar pela Portuguesa e, depois, Bahia. O “goleiro maior do que o gol” jamais será esquecido pela nação santista.

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3 – Cejas

Cejas foi mais um goleiro estrangeiro a fazer história no Peixe (Crédito: Reprodução)

“O Santos acaba de contratar um dos melhores goleiros do mundo”. A frase foi publicada no Jornal dos Sports, em 1970, e demonstra a expectativa criada pela chegada de Agustín Mario Cejas ao clube. Para trazer o titular da seleção argentina, o Santos abriu os cofres e pagou 125 mil dólares ao Racing, de Avellaneda. Em uma época onde o nacionalismo estava aflorado pelas ditaduras instauradas em quase todos os países sul-americanos, Cejas quase foi impedido de deixar o seu país sob alegação de tratar-se de “jogador de interesse nacional”.

Jovem quando desembarcou no Brasil, aos 25 anos de idade, Cejas chegou para substituir Cláudio, lesionado, e fazer a torcida santista esquecer, também, do antigo ídolo Gylmar. Mostrou-se satisfeito em conseguir, tão cedo, realizar o sonho de jogar no Santos e ao lado de Pelé. A adaptação ao futebol brasileiro foi difícil no início e o goleiro teve até a capacidade questionada por imprensa e torcida. Sua estreia foi no empate em 1 a 1 contra o Cruzeiro, no Mineirão, pelo Torneio Roberto Gomes Pedrosa, em 1970. Passado o período ruim, consolidou-se como símbolo de segurança para a equipe e motivo de orgulho aos torcedores.

Além das grandes atuações, Cejas era exímio pegador de pênaltis – o que aumentou ainda mais sua fama. Inovador, ficava com os braços cruzados antes da cobrança, para tentar desestabilizar o batedor. Quando Santos e Portuguesa dividiram o título paulista, em 1973, o goleiro foi protagonista. Depois de empate sem gols, defendeu dois pênaltis e, no último, viu o rival chutar no travessão. A confusão do árbitro na contagem das cobranças acabou por partilhar o caneco.

O argentino foi o primeiro jogador “Bola de Ouro Placar”, prêmio concedido ao melhor jogador do Campeonato Brasileiro. Em 1973, foi eleito o craque do torneio, junto ao uruguaio Ancheta, do Grêmio. Cejas é o oitavo goleiro com mais participações pelo Peixe, com 252 partidas entre 1970 e 1974.

4 – Fábio Costa

Estilo guerreiro marcou a carreira do arqueiro, que foi ídolo de uma das gerações mais marcantes do clube (Crédito: Reprodução)

É Fábio Costa! É Fábio Costa! Mesmo com Robinho, Diego, Léo, Elano e tantos outros ídolos em campo, o nome do goleiro era um dos mais gritados pela torcida santista, principalmente em sua primeira passagem. Seja pelas defesas mirabolantes ou mesmo pelo seu espírito guerreiro em campo, o arqueiro conquistou a torcida e marcou seu nome na história do Santos.

Após se destacar no Vitória, seu clube de formação, Fábio Costa chegou ao Santos em 2000 junto a um pacote de reforços da recém empossada gestão Marcelo Teixeira. O baiano custou R$ 1,5 milhão e veio para ser reserva do experiente Carlos Germano, também recém contratado, mas suas raras aparições no time titular já mostravam que o Santos tinha goleiro para muitos anos. Sua estreia aconteceu no dia 24 de maio de 2000 em vitória por 3 a 1 contra o Juventude, em Caxias (RS), pela Copa do Brasil. Não demorou até Fábio Costa tomar a posição de titular e cair de vez nas graças do torcedor.

Escolher momentos marcantes da passagem do goleiro pelo Santos é uma tarefa árdua. Foram as mãos dele que evitaram o pior na final do Brasileiro de 2002. No ano seguinte, Fábio parou o Nacional do Uruguai nas oitavas-de-final da Libertadores. Em 2004 acabou indo para o Corinthians e perdeu a admiração de parte da torcida.

Dois anos depois voltou à Vila Belmiro para terminar sua história, foi capitão do bicampeonato paulista de 2006/2007 e foi titular da meta santista até 2009. Em 2010 começou a perder espaço no time e figurou apenas uma vez como titular: na partida contra o Red Bull em Nova Iorque, sua última com a camisa do clube que defendeu em 345 ocasiões. Jogou ainda no Atlético Mineiro e São Caetano, onde fez sua última partida como profissional em 2013. O goleiro, no entanto, tinha contrato com o Peixe, mas sem espaço jamais voltou a figurar no time profissional e aposentou as luvas sem uma despedida pelo clube que mais brilhou na carreira.

5 – Athiê

Athiê foi destaque no gol e como presidente do Santos (Crédito: Reprodução)

O presidente mais longevo da história santista acabou por eclipsar um dos maiores goleiros que vestiu o manto alvinegro. Natural de Itu, Athiê Jorge Coury, ou simplesmente Athiê, migrou ainda jovem a São Paulo para concluir os estudos, formou-se em Economia, pelo Mackenzie. Chegou ao Santos em 1927, oriundo do clube paulistano Sírio. À época, então com 23 anos, já era o titular da Seleção Paulista, campeã brasileira de 1926, e o goleiro mais promissor do país.

Em tempos de profissionalismo disfarçado de amadorismo, não há registros do valor (se realmente houve) de sua transferência. Na versão oficial, foi convidado pelo então presidente Guilherme Gonçalves e assinou ficha de filiação em 09 de setembro. Estreou um mês depois, em vitória sobre o Corinthians de Santo André – vitória por 9×0. Tornou-se titular absoluto do arco santista e integrou o famoso time conhecido como o “ataque dos 100 gols”, no Paulistão de 1927. Por azar (e influência da arbitragem) perdeu o título estadual na última rodada. Nos dois anos seguintes, mais dois vice-campeonatos estaduais. Apesar de não ter conquistado nenhum título oficial pelo clube, suas ótimas atuações tornaram-lhe nacionalmente famoso. Provavelmente estaria no grupo de jogadores do Brasil na primeira Copa do Mundo, em 1930, mas não pôde participar pela briga entre os organizadores do futebol paulista e a CBD (antiga CBF).

Foram 172 partidas pelo Peixe até o ano de 1934, quando encerrou a brilhante carreira. Aposentado, ingressou na vida política do clube e, em 1945, elegeu-se presidente. Foi, também, deputado estadual e federal. Ficou no cargo máximo do clube por 26 anos, conquistando todos os títulos possíveis e transformando o Santos no maior time do mundo.