Projeto de Ariel Holan no Santos durou apenas 12 jogos (Crédito: Guilherme Kastner / Santos FC)

Durou apenas 12 jogos o projeto de três anos do Santos com o técnico Ariel Holan. Foram quatro vitórias, três empates e cinco derrotas nesse período e um pedido de demissão após o clássico contra o Corinthians e após “torcedores” soltarem rojões no apartamento do treinador (a Anita Efraim escreve melhor sobre isso aqui).

A contratação não foi um erro, a saída talvez não tenha sido, mas nesses 57 dias entre a apresentação do treinador e o anúncio da demissão, Holan e o Santos erraram demais. Alguns erros foram compartilhados, outros cometidos por apenas um lado da relação.

Por ordem cronológica, o primeiro erro foi com Soteldo. Depois da classificação diante do Deportivo Lara, dia 16 de março, o jogador recebeu um período de descanso do clube. Era para ser uma folga de quatro dias, mas o atacante só voltou ao clube no dia 1 º de abril. Perdeu as duas semanas de “pré-temporada” em Atibaia. Dos 12 jogos de Holan, Soteldo foi titular em apenas cinco.

O segundo erro foi com Madson. Ariel Holan relacionou o jogador para a partida contra o Botafogo, mas horas antes do jogo foi informado de que o lateral não poderia ser utilizado na partida por não estar inscrito no Paulistão, um erro amador. Sem Madson, o treinador teve de improvisar Vinícius Balieiro na lateral e dar chance para Sandro. Nenhum deles foi bem.

O terceiro erro foi com Marinho. Após a atitude lastimável ao ser substituído diante do San Lorenzo, o Santos demorou a se manifestar sobre o assunto. Na primeira entrevista, inclusive, o presidente Andrés Rueda chegou a afirmar que entendia a insatisfação do jogador  e elogiou a “competitividade” dele.

Faltou energia ao departamento de futebol do Santos. Era hora de defender publicamente o treinador e anunciar uma multa de forma oficial ao atacante. Marinho se desculpou nas redes sociais depois do acontecido, mas não foi o primeiro pedido de desculpas.

Durante a Era Cuca, o Santos se acostumou com um ambiente familiar dentro do vestiário. Não havia cobranças (e talvez nem pudesse ter pelos diversos atrasos do clube com os atletas). Se a intenção era partir para um ambiente mais profissional, com direitos e deveres para os atletas, não poderiam ficar no meio do caminho.

O Santos perdeu uma grande oportunidade de mostrar para toda a comunidade, especialmente para o vestiário, que o cenário tinha, de fato, mudado. De mostrar que o clube não aceitaria mais estrelismos.

O quarto erro foi de planejamento. No dia 14 de abril, a Federação Paulista de Futebol divulgou a tabela final do Campeonato Paulista. Seriam 11 jogos entre o dia 16 de abril e o dia 11 de maio, um intervalo de 23 dias. Destes 11 jogos, quatro seriam pela Copa Libertadores e dois clássicos contra Corinthians e Palmeiras, pelo Paulistão.

Os titulares tinham de ser preparados para estes seis jogos. Seis jogos em 23 dias seria um número alto, mas algo já “normal” para jogadores de futebol no Brasil. Era preciso separar um grupo para trabalhar apenas de olho nesses seis jogos, quatro pela importância da Libertadores e dois pelo peso dos clássicos.

Com uma programação para 23 dias, o técnico Ariel Holan teria tempo de trabalhar a equipe minimamente, com a mesma carga de trabalho, com a mesma intensidade e com uma ideia bem clara do que o clube pretendia.

Não houve esse planejamento. O Santos ficou misturando jogadores nas competições, treinando com 35 atletas (o que é um absurdo), muitos deles com cargas e intensidades diferentes. Holan perdeu três dias de treinos (quinta, sexta e sábado) porque o clube decidiu viajar com os titulares para enfrentar o Novorizontino, em Novo Horizonte. Treino da quinta foi leve, da sexta não existiu e do sábado foi pós-viagem.

Como a equipe vai apresentar evolução assim?

Ariel Holan utilizou 36 jogadores em apenas 12 jogos no Santos. Ao menos a metade o torcedor (e a diretoria) já sabiam que não tem a menor condição de vestir a camisa do Santos (ao menos no momento). Holan encontrou Kaiky Fernandes, Gabriel Pirani e não teve Lucas Veríssimo, Diego Pituca e perdeu Sandry.

Com todos esses erros, vocês sabem em quantos dos 12 jogos de Holan o Santos teve seus dois principais atacantes dos últimos anos no time titular? Em dois.

Sabem quantas vezes o trio ofensivo (Marinho, Kaio Jorge e Soteldo) que se destacou contra Boca Juniors e Grêmio na reta final da Copa Libertadores de 2020 começou uma partida? Nenhuma.

Holan fez diversas escolhas ruins, como terminar o clássico com Copete na lateral direita e um jogador da posição (Mikael) no banco de reservas. Mas ele não errou sozinho.

E, na sua saída, na minha opinião, o Santos começa a errar. A presença (ainda) de Marcelo Fernandes na comissão técnica é um erro cometido na gestão de Orlando Rollo que ainda não foi corrigido (como foram corrigidas as contratações de Felipe Ximenes, Márcio Santos, Coronel Pimenta, etc).

Mais do que (in)capacidade de construir algo de longo prazo, a presença de Marcelo Fernandes simboliza um pé da atual na gestão nas práticas que tanto condenam, um elo com grupos que tanto mal fizeram para o clube nos últimos anos.

Com Marcelo Fernandes dentro do clube, qualquer que seja o próximo treinador, a chance de aparecer mais uma faixa na padaria depois da primeira derrota supera os 100% (longe dos 4% de chances de classificação).

O Santos não precisa disso.