Vila Belmiro foi pichada horas depois da derrota contra o Barcelona-EQU (Crédito: Reprodução/Twitter)

Ariel Holan pediu demissão e não é mais treinador do Santos. Ele tomou a decisão após “torcedores” soltarem rojões no apartamento onde o treinador vive na Baixada Santista.

Holan tomou a decisão de não aceitar a barbárie.

A incivilidade venceu. E o Santos perdeu.

A nova diretoria pensou em um projeto a longo prazo, contratou um treinador que aceitou todas as dificuldades financeiras que o Santos enfrenta, entendeu que não haveria reforços relevantes. Um cara parceiro, que vestiu a camisa, que acreditou nas palavras do presidente Andres Rueda.

O que Ariel Holan não aceitou foi a barbárie. Foi ser hostilizado e agredido, foi ver a própria família em risco após um punhado de derrotas e um desempenho abaixo do esperado.

O calendário é insano, o elenco é fraco, as melhores peças do time de 2020 foram embora, com exceção de Marinho e Kaio Jorge, que estão abaixo do que podem render. O treinador tentou promover jogadores bons que, até ontem, com Cuca, ainda integravam a base. Pirani e Kaiky, por exemplo, foram pedidos de Ariel Holan para o elenco
profissional.

Todo mundo que acompanha um mínimo de futebol sabe que jogar sexta, domingo e terça – e assim sucessivamente – não é normal. Os jogadores não se recuperam, o desempenho não aparece. Dá pra ver isso em quase todos os times de São Paulo.

O desempenho do Santos merecia, sim, críticas. Mas 12 jogos não poderiam ser o suficiente para que um treinador fosse cobrado dessa forma. E mais: mesmo que a torcida estivesse insatisfeita com o trabalho do treinador, não é normal pichar o estádio, fazer “apavoro” no ônibus, jogar rojão no apartamento dele.

Tenho certeza que alguns dirão que ele “não aguentou a pressão”. Na realidade, ele disse não à violência. E ele está certo. Isso quer dizer que eu estou feliz? Claro que não. O Santos perde demais. Mas não consigo achar que ele está errado.

Por que ele vai continuar no Santos, sem reforços, sem uma evolução dos jogadores, com atleta ignorando ele quando é substituído, com ameaças a ele e a família?

Ele tentou. Estava tentando, mas a própria torcida ainda não entendeu o que Rueda queria dizer quando falou que ia doer, que teriam de cortar na carne.

É um dia muito triste para o Santos e para todo o futebol. Porque a barbárie venceu. Os conceitos tortos de “pressão” e de “torcida” ganharam ainda mais significado. O futebol brasileiro é insano, agressivo, hostil. Afasta pessoas razoáveis, porque é intolerável viver dessa forma.

A torcida tem muita responsabilidade, é verdade. Mas a imprensa também tem. As transmissões muitas vezes tiram de contexto a situação vivida pelo clube, por desconhecimento mesmo. Mencionam que a situação é ruim, mas deixam de explicar que nos últimos nove anos o Santos foi assaltado, maltratado, defenestrado por seus antigos “administradores”.

As derrotas são muito ressaltadas, as pichações ganham espaço e, às vezes, são até incentivadas por alguns jornalistas. Não vai me impressionar em nada se algum profissional da imprensa cunhar a expressão “não aguentou a pressão”.

Os que tentam sobreviver no meio da loucura são taxados de “politicamente corretos”, atacados e hostilizados – assim como o treinador.

Ariel, eu sinto muito. Sinto muito que você tenha largado um bom emprego para assumir um “desafio” que se tornou um pesadelo. O Santos paga caro demais pelos erros do passado e você foi mais uma vítima. Todo meu respeito e admiração ao profissional que você é.

Que Andres Rueda e sua gestão consigam mudar os rumos do futebol dentro do Santos. A politicagem e a oposição conseguiram um de seus objetivos. Que seja a última vitória deles.