Ariel Holan assistiu o jogo na Vila (Crédito: Ivan Storti/Santos FC)

O Santos viveu nos últimos dias uma sucessão de fatos que parecem nem caber no tempo. Aturdido, tento elaborar migalhas de reflexão diante dessa série infrene de acontecimentos decisivos. Em meio a um calendário insano, com jogos disputados em média a cada 48 horas, o clube negociou um dos seus astros (Soteldo), obteve a alforria para contratar novos atletas e ficou sem técnico. Um bicho de sete cabeças! Bem à moda do que estamos acostumados no Brasil, um início de trabalho fez pó e voltamos à estaca zero. O problema é raciocinar em meio a tal turbilhão.

A saída precoce de Ariel Holan frustrou as expectativas. O argentino parecia ter o perfil ideal para guiar o clube em um panorama tão peculiar, de forte penúria financeira e sob nova administração. Justamente quando o Santos tem o sinal verde para voltar a buscar reforços, o técnico deixa o cargo. Em poucas semanas de trabalho, fartou-se da base, rodou bastante o elenco e experimentou jogadores em outras posições. Exceto pela janela de treinos aberta de pela paralisação do Campeonato Paulista, pouco pôde ensaiar movimentos e incutir a sua filosofia na mente dos jogadores. Mas seus propósitos de jogo eram claros para quem tivesse olhos e ouvidos atentos. Diante de seguidos maus resultados, o técnico fazia diagnósticos que apontavam os caminhos para a evolução.

Na entrevista coletiva após a derrota para o Novorizontino, apenas três dias antes de sua saída, o técnico descreveu com clareza as etapas a perseguir. O processo de jogo estava encaminhado e o tempo traria os aperfeiçoamentos. Diante de questionamento sobre a dificuldade da equipe de criar chances de gol, o argentino explicou as etapas naturais de desenvolvimento do jogo coletivo. Primeiro, exaltou os ganhos na troca de passes. A partir do aspecto positivo, traçou os desafios seguintes: combinações de jogadas no campo de ataque, infiltrações, iniciativas individuais…

Certamente, a derrota para o Corinthians dois dias depois não foi capaz de soterrar a percepção de que o trabalho cumpria etapas obrigatórias para o êxito futuro. Por isso, diante dos argumentos dados no comunicado feito pelo presidente Rueda, prevalece a versão do justo incômodo com o protesto de torcedores na frente de sua residência. Eles teriam minado sua disposição de permanecer e colher frutos a médio ou longo prazo. Nenhum profissional deve ser submetido a atos que flertam com o terrorismo e é legítimo que busque ambientes mais pacíficos. É um teste para os nervos a imersão em tanta irracionalidade.

Porém, como Holan já teve experiências do tipo no futebol argentino, é difícil crer que essa motivação tenha sido um fator isolado. É provável que outros acontecimentos hoje obscuros sejam revelados mais à frente. Ou nem sejam mesmo esclarecidos totalmente. Estamos cansados de saber que no futebol, como na vida em geral, há fatos que morrem no intramuros ou vêm à tona enviesados e parciais.

Com o clube apto novamente a buscar reforços, o novo técnico terá um contexto um pouco mais favorável em relação aos antecessores Cuca e Holan. O uso do advérbio ‘um pouco’ deve-se à consciência de que as dificuldades financeiras continuam grandes e não há recursos para contratações grandiosas. Já está evidente que Andres Rueda age com austeridade e tem como meta prioritária equilibrar as contas. É necessário encontrar um técnico que, assim como Holan, esteja disposto a aceitar as restrições presentes e goste de lançar jovens. E, de preferência, que esteja antenado com as exigências do futebol atual. Eu pensaria em Fernando Diniz, mas isto é assunto para outra coluna…