Marcelo Teixeira apresentou o projeto da WTorre em coletiva na quarta-feira (Crédito: Raul Baretta/Santos FC)

Na última quarta-feira, o presidente do Santos, Marcelo Teixeira, anunciou ter chegado finalmente a um acordo com a WTorre para a construção da Nova Arena do clube, no local onde está localizada a Vila Viva Sorte. Mesmo sem dar prazo para o início da venda de cadeiras e para o início das obras, o dirigente comemorou o acordo.

As discussões para o tão sonhado novo estádio do Santos já duram mais de cinco anos, passaram por quatro presidentes, três projetos, foram de criptomoedas a fundo de investimento imobiliário e ainda não saíram do papel. O DIÁRIO DO PEIXE mostra alguns momentos importantantes sobre as discussões para o novo estádio.

O INÍCIO – RETROFIT DA VILA COM BITCOIN

O ex-presidente Roberto Diomedi e o empresário Roberto Diomedi, do Bolton Group (Crédito: Divulgação)

A discussão para a nova Arena do Santos começou com o ex-presidente José Carlos Peres e o Retrofit da Vila. O projeto inicial foi feito pelo arquiteto Artur Katchborian e foi apresentado no Conselho Deliberativo do Santos no dia 11 julho de 2019.

“Vai ser uma Arena padrão Fifa. Vai permitir que façamos shows. A dificuldade grande porque nosso terreno tem 17 mil metros quadrados, a menor arena que encontramos tem 26 mil metros quadrados. Ela vai ficar aconchegante, já temos interessados em financiar nossa Arena. É uma semente que está começando a dar frutos”, afirmou na época o ex-presidente José Carlos Peres em entrevista à Santos TV.

O arquiteto fez a apresentação do projeto aos conselheiros, que ficaram encantados. O projeto retrofit da Vila Belmiro teria dois anéis, até 20 mil lugares, todos cobertos. Os vestiários dos dois times e dos árbitros seriam centralizados e um Boulevard construído nas ruas em frente ao estádio.

“Temos orçamentos de duas empresas. Um orçamento de R$ 220 milhões e outro de R$ 237 milhões. A obra pode levar de um ano a um ano e meio. Vai ser um projeto que vai melhorar não só o estádio, mas todo o bairro”, afirmou Artur Katchborian.

O Retrofit da Vila seria financiado pelo Bolton Group, do empresário italiano Roberto Diomedi. O grupo, suspostamente da área de criptomoedas, enviou um representante para a reunião do Conselho. Ele deixou mais dúvidas do que certezas.

“Temos claros interesses de fechar esse acordo o mais rápido possível. O presidente da Bolton virá para Santos no final desse mês para que possamos chegar a um acordo sobre o financiamento”, afirmou o diretor da Bolton Holding na América Latina, João Paulo Campos.

Projeto de Retrofit da Vila foi apresentado ao Conselho em julho de 2019 (Crédito: Divulgação)

Com o tempo, a diretoria do Santos percebeu que não poderia contar com o Bolton Group e começou a pensar em outras alternativas para a construção da nova Arena. Em agosto de 2019, José Carlos Peres já falava em “setorização” do estádio para conseguir o financiamento para o início das obras.

“A ideia é dividir o estádio em dez setores e vender cada um deles. O pré-projeto termina em 40 dias. É o primeiro passo. Depois, vamos ao mercado”, afirmou Peres em entrevista à Rádio Kiss.

A ENTRADA DA WTORRE

No dia 14 de dezembro de 2019, o Diário do Peixe publicou com exclusividade que o Santos e a WTorre tinham encaminhado um acordo para a construção da Nova Arena do Santos. Na época, a informação foi tratada com desconfiança pelos torcedores. No dia 15 de janeiro de 2020, o ex-presidente José Carlos Peres falou pela primeira vez sobre a parceria.

“Será uma parceria muito parecida com a que a WTorre realizou com o Palmeiras. A construtora faz todo o investimento (estimado em R$ 230 milhões) e explora o estádio para shows e outros eventos durante 35 anos. Depois disso, tudo passa a ser 100% do clube, que não irá investir um centavo na obra. Se tudo der certo, ainda este ano podemos começar as obras. Quero deixar a presidência com tudo resolvido e encaminhado para a próxima diretoria”, afirmou Peres.

Com a entrada da WTorre, o projeto de Artur Katchborian. O clube pediu um novo modelo ao arquiteto Luiz Volpatto. No dia 4 de setembro de 2020, o Santos e a construtora assinaram o primeiro MOU (Memorando de Entendimentos). No dia 9 de setembro, o novo projeto foi apresentado ao Conselho Consultivo do clube.

“Achei muito interessante, um projeto moderno e versátil, estádio multiuso nos padrões atuais”, afirmou na época o então presidente do Conselho Deliberativo, Marcelo Teixeira.

Na ideia inicial, o projeto faria parte de um Fundo de Investimento Imobiliário em parceria com o BTG Pactual. O FII seria o responsável pelo financiamento da obra.

Projeto apresentado ao Conselho pela WTorre (Crédito: Reprodução)

O IMPEACHMENT

No dia 28 de setembrode 2020, o Conselho do Santos aprovou o afastamento do então presidente José Carlos Peres. No dia 8 de outubro de 2020, o Conselho Deliberativo aprovou a sequência das conversas com a WTorre por 158 votos a 4. A reunião contou com a presença do então presidente interino, Orlando Rollo, que questionou a mudança do arquiteto responsável pela obra.

“Não me agradou a escolha do arquiteto da obra. Irmão do seu (Peres) braço direito. Temos uma proposta da empresa WTorre. Empresa seríssima. Minha opinião é que devemos estudar o projeto, mas que deveria ser apresentando pela empresa. O Santos precisa modernizar seu estádio, sempre defendi isso e talvez essa seja a hora”, afirmou o ex-dirigente.

Em dezembro de 2020, Andres Rueda foi eleito o novo presidente do Santos.

AUMENTO DOS CUSTOS

O primeiro ano da gestão Rueda foi praticamente marcado por reuniões para a discussão de pontos do contrato com a WTorre. Algumas das reuniões foram bastante tensas e “a conta não fechou” devido também ao aumento no valor dos materiais de construção civil, que deixaram mais caro o projeto inicial. Sem nenhum avanço, as duas partes decidiram renovar o MOU no dia 24 de agosto de 2021.

“Nós entendemos a ansiedade do torcedor, mas a nova arena é um projeto que impactará a realidade do clube por muitas décadas, então não podemos ter pressa. Desde janeiro, já conseguimos avançar em muitos pontos importantes e isso me dá a certeza de que a Nova Vila Belmiro sairá do papel. A WTorre é a empresa certa para estar ao nosso lado nesta empreitada”, afirmou o presidente do Santos, Andres Rueda.

Santos na assinatura do segundo MOU com a WTorre (Crédito: Divulgação)

Somente no dia 27 de abril de 2022 o novo projeto foi apresentado ao Conselho Deliberativo. Estiveram à frente da apresentação Cláudio Macedo, então Diretor de Novos Negócios da WTorre, e Luiz Alves, Diretor de Operações da WTorre Entretenimento. Segundo explicações dos executivos da empresa, a nova Arena seria para 30 mil torcedores com assentos cobertos e 500 vagas de estacionamento. Os valores do negócio girariam em torno de R$ 400 milhões, com a WTorre atuando como gestora do estádio pelos próximos 30/35 anos. Para viabilizar a obra, também seria feita a venda antecipada de 5 mil cadeiras e camarotes premium para geração de receitas.

No dia 1 de dezembro de 2022, o Conselho do Santos aprovou a construção da Nova Vila com a WTorre. Na parte online, foram votos 125 favoráveis, 4 contras e uma abstenção. Na votação presencial, aprovação foi em unanimidade. No dia 17 de dezembro de 2022, em assembléia geral, os sócios do Santos aprovaram o acordo com a WTorre por 97% dos votos.

A expectativa era pelo início da venda de cadeiras e camarotes na semana de aniversário do Santos, em abril de 2023. No entanto, a má fase do clube e novas divergências em pontos do contrato atrasaram (mais uma vez) o cronograma.

“Arena estava nos ‘finalmentes’, mas essa briga entre Palmeiras e WTorre nos acendeu um sinalzinho. Não é difícil de prever. É um contrato longo e uma cláusula resolve. Se a WTorre não pagar por três meses, eu desconto dois anos do contrato. Por exemplo: se for 30 anos, passa a ser 28 anos (contrato). Mas isso leva tempo, e infelizmente está levando mais do que gostaríamos. Porém, é um contrato de 30 anos e precisamos de cuidado. Ele vai sair assim que o memorando de intenções for assinado. Nossa previsão era já estar assinado, deu marcha ré com esse problema do Palmeiras. Estamos querendo bloquear e esse fato não prejudique Santos. Assim que for assinado, vamos apresentar o conselho o cronograma”, completa o cartola.

No dia 27 de setembro de 2023, pouco mais de três meses antes do fim do mandato, Andres Rueda assinou aquele que seria o MOU definitivo para a construção da Nova Arena da Vila. Em dezembro de 2023, Marcelo Teixeira foi eleito o novo presidente do Santos.

O SANTOS É DE SANTOS

Logo no início da gestão, Marcelo Teixeira fez a primeira reunião com a WTorre. No dia 12 de janeiro, a nova diretoria do clube e representantes da construtora se reuniram presencialmente pela primeira vez.

Uma reunião muito proveitosa, produtiva. Nós estamos dando sequência ao que já fizemos a partir de dezembro, e avançamos muito. Já criamos a SPE e ao mesmo tempo já criamos um cronograma onde em termos de projeto, a prefeitura já estará recebendo as correções necessárias ainda neste mês de janeiro para que o projeto se torne definitivo. É já queremos criar no nosso aniversário, no dia 14 de abril, o lançamento da campanha de vendas para que a gente consiga atrair o associado, torcedor e fazer com que a teoria e papel se transforme na prática, com adesão para a arrecadação dos fundos necessários para a construção da arena”, disse Marcelo Teixeira na Santos TV.

Reunião entre Santos e WTorre no dia 12 de janeiro de 2024 (Foto: Divulgação / Santos FC)

O “entusiasmo”, aos poucos, diminuiu. Em reunião do Conselho Deliberativo no dia 5 de fevereiro, o presidente subiu o tom ao falar sobre a “parceria” com a WTorre.

“Vou ser mais direto. Se me perguntarem se é uma boa parceria, eu diria que o Santos precisa de um estádio, mas não vai se prostituir para ter um estádio. Nós desde dezembro demos um ultimato, de uma forma elegante, mas bem direta ao parceiro, a WTorre. Para que a gente não venha a público em cinco, sete anos, oito ou dois anos, discutindo uma parceira existente como o co-irmão está fazendo. Denigre a imagem do clube e prejudica a imagem do parceiro”, explicou Marcelo Teixeira aos conselheiros.

Nos bastidores, pessoas próximas ao cartola buscavam alternativas. Houve até a sugestão da construção de um estádio de contâiner, nos modelos do que foi utilizado na Copa do Mundo don Qatar. Existia uma pressão pela construção do estádio com empresas de Santos. Inclusive, membros do Comitê de Gestão do clube são proprietários de construtoras. No entanto, nenhuma alternativa viável surgiu.

Nas últimas semanas, como o DIÁRIO informou, o Grupo Mendes, um dos maiores da construção civil na Baixada Santista, recomendou ao presidente Marcelo Teixeira o acerto com a WTorre. Marcelo Teixeira teria ouvido que não deveria “deixar o cavalo selado passar”. Na quarta, o dirigente anunciou o avanço das negociações com a WTorre. O contrato definitivo deve ser assinado em 60 dias.

“Ele está elaborado, está sendo elaborado. Dentro do cronograma será obedecido e cumprido. Os escritórios deram a tempo um período de 60 dias. Será no mesmo período que deve estar sendo celebrado de acordo com o cronograma de Santos e WTorre”, afirmou Teixeira.