Alberto teve a melhor fase de sua carreira no Santos (Crédito: Divulgação/ Santos FC)

Entre os responsáveis por um dos títulos mais improváveis da história do futebol brasileiro, o mais improvável era um sul-mato-grossense de 27 anos que havia batido na trave algumas vezes na tentativa de se consagrar no futebol. Quando parecia que suas melhores oportunidades já haviam ficado para trás, Alberto chegou ao Santos. E realizou seu sonho no clube para o qual torcia.

Ao ser contratado pelo Peixe, no meio de 2002, Alberto já tinha no currículo passagens por Internacional e Palmeiras, sem sucesso (apesar de ter feito no time paulistano o gol do título da Copa dos Campeões de 2000). Nenhum torcedor se entusiasmou com sua contratação, nem o técnico Emerson Leão, que queria outro centroavante, e só não conseguiu por absoluta falta de dinheiro do clube. Nada disso, porém, abalou a fé de Alberto em si mesmo.

“Eu saí de Campo Grande com uma mão na frente e a outra atrás. Ninguém me falou que seria tão difícil dar certo no futebol, mas eu nunca desisti”, disse Alberto ao DIÁRIO DO PEIXE. “Passei pelo Inter e ninguém me viu, no Palmeiras foi a mesma coisa. Nesses clubes, eu sei que dei uma desviada do caminho certo. No Santos, não. Estava decidido a fazer sucesso. Me chamavam de ganso, que na época era sinônimo de jogador grosso, e eu simplesmente treinava mais.”

Ter passado sete rodadas do Brasileirão sem marcar um mísero gol não ajudou em nada a incrementar a popularidade do atacante. O time jogava bem, mas Alberto era sempre criticado por não balançar a rede. Até que um jogo na Vila Belmiro mudou abruptamente a ordem das coisas.

O momento da bicicleta histórica contra o Corinthians (Crédito: Reprodução)

“Foi contra o Vitória, fiz dois e ainda dei um passe de letra para o Robinho marcar um. Eu não tinha problema por não fazer gols, o problema era dos outros. Mas é claro que os gols dão confiança. E jogador com confiança é outro jogador.”
Aquele foi o primeiro passo para conquistar os corações santistas. O segundo, e definitivo, ele deu em uma inesquecível noite de outubro no Pacaembu. Alberto fez algo que dá a qualquer jogador um lugar de honra na história do Peixe: um gol de bicicleta contra o Corinthians.

“Aquele momento foi indescritível, a emoção que eu senti não sei como traduzir em palavras. Foi um gol que marcou minha vida, a gente busca isso a carreira inteira. Até hoje as pessoas me param na rua para falar da bicicleta, principalmente em Santos e em São Paulo”, conta ele, atualmente morando em Jundiaí.

Depois daquela jornada mágica, Alberto deslanchou de vez e se tornou um dos principais jogadores do time. Houve, porém, algumas desilusões no caminho até o título. Primeiro, a perda da vaga na equipe no jogo contra o São Caetano, o último da fase de classificação – recuperada logo na partida seguinte. Depois, o cartão amarelo no primeiro jogo da final contra o Corinthians, que o tirou da partida do título. Aquilo ainda machuca o ex-jogador.

“É muito ruim ficar fora de qualquer partida, ainda mais do jogo da minha vida. É duro ver a foto do pôster e você não estar lá. Tanto que o quadro que tenho na minha casa é de uma revista que colocou uma foto pequena minha ao lado do time posado.”

Aos 42 anos, Alberto ainda desfruta das memórias dos seis meses que passou no Santos, o clube de seu coração desde a infância em Campo Grande. Ele só lamenta que sua história no Peixe tenha durado tão pouco, pois logo depois do título de 2002 ele foi para o Dínamo de Moscou, da Rússia. “Eu não queria ter ido. Infelizmente, esperei a proposta de renovação, e ela não veio. A diretoria tinha outros planos”, lamenta ele, referindo-se à contratação de Ricardo Oliveira, em janeiro de 2003. “Sempre quis voltar ao Santos, só que não recebi o convite. Mas tenho muito carinho pelo clube, sou santista desde a infância. Era improvável aquele nosso time dar certo, era improvável eu dar certo, mas aconteceu. Sou o improvável que entrou para a história.”

LEIA MAIS:

Meninos da Vila conquistam o Brasil
O jogo memorável da vida de Elano
Renato lembra do jogo que virou as faixas
Léo nunca viu uma comemoração igual
Jornalista transforma a epopeia em livro
Leão vira o domador de meninos