Santos assinou contrato com a Caixa em 2016, na gestão de Modesto Roma Jr (Crédito: Divulgação)

O Santos chegou a um acordo com o empresário Átila Rodrigues para encerrar a disputa judicial por uma comissão milionária pela participação do empresário no acordo de patrocínio da Caixa ao clube, assinado em 2016.

Átila moveu a ação em 2020 cobrando R$ 3 milhões do clube, que perdeu em todas as instâncias e teve contas bloqueadas na Justiça. O valor da dívida no último cálculo apresentado pelo empresário, em abril de 2021, estava em R$ 3.822.381,10.

Para fechar o acordo, o Santos concordou em pagar R$ 2,3 milhões entre pagamento ao empresário e aos advogados.

Em paralelo, o filho de Átila, Giusepe Rodrigues Alves, o Pépe, de 25 anos, assinou um contrato com o Peixe até 31 de março de 2024.

Pepé teve passagem pelo clube em 2015, mas não chegou a jogar. Desde então, ele não aparece em registros da Federação Paulista. No Santos, vai treinar ao lado dos atletas que não estão nos planos do técnico Fabián Bustos, como Allanzinho e Taison, por exemplo.

Pépe assinou contrato com o Santos até março de 2024 (Crédito: Reprodução)

ENTENDA O CASO

Átila Rodrigues alegou ter sido o responsável por aproximar o Santos, em 2015, da então presidente da Caixa, Miriam Belchior, exonerada do cargo em maio de 2016, e cobrava 10% de comissão, mais juros de mora e honorários.

Na petição inicial, Átila Rodrigues afirmou que contactou o ex-presidente Modesto Roma Jr. em março de 2015 e apresentou e-mails trocados com Miriam Belchior desde maio até a marcação de uma reunião em Brasília no dia 8 de julho, com a participação do empresário e Paulo Verardi, então gerente de marketing do Alvinegro, e os dirigentes da Caixa.

Um documento assinado por Modesto Roma Jr. e por José Ricardo Tremura, então gerente executivo jurídico do Peixe, autorizava Átila a negociar em nome do Santos não só com a Caixa, mas também com a Nissan Motor e com o grupo Cassino, da França. O documento, firmado em julho de 2015 (após a primeira reunião), ressaltava que a autorização era válida por apenas 90 dias – até outubro de 2015, portanto. O primeiro acordo entre Santos e Caixa só foi assinado em outubro de 2016, extrapolando, assim, em um ano o prazo previsto na ata.

Apesar do distanciamento entre a data do documento assinado pelo Santos e da data do primeiro acordo com o Banco, Átila alegou na petição que o documento falava que ele não precisaria participar das negociações, apenas fazer a aproximação entre as instituições.

“A partir do primeiro contato com o Santos Futebol Clube, viabilizado pelo Sr. Átila, todo o detalhamento negocial e tratativas serão conduzidos pelo Santos Futebol Clube, sem prejuízo da participação prevista logo abaixo”, dizia trecho do documento.

Em fevereiro de 2018, o DIÁRIO fez matéria sobre o assunto com a “ameaça” da Átila Rodrigues de levar o caso para a Justiça (leia aqui). Na época, o ex-presidente Modesto Roma Jr. afirmou que Átila “queria tirar dinheiro do clube sem ter direito a fazê-lo”. O deputado federal Ricardo Izar (PP-SP) foi quem, segundo Modesto, ajudou o Santos a chegar a um acordo com a Caixa, “sem cobrar nada por isso”.

Na ação, Átila apresentou documentos mostrando que o Santos recebeu R$ 20,9 milhões pela Caixa durante todo o contrato. Com os 10% de comissão, juros de mora e honorários, o valor da ação chegou a R$ 3.096.573,57.

Confira a cronologia do caso:

24 abril de 2015 – Átila Rodrigues solicita, por e-mail, reunião com Miriam Belchior, então presidente da Caixa Econômica Federal. Comitê Gestor do Santos é notificado.

15 de junho de 2015 – A então secretária executiva da Caixa, Patrícia Nascimento, avisa que a reunião será agendada em Brasília com o superintendente nacional do banco, Gerson Bordignon, no dia 8 de julho.

26 de junho de 2015 – Gerente de marketing do Santos à época, Paulo Verdardi solicita os dados de Átila Rodrigues para emitir passagens aéreas, pagas pelo clube, para a viagem a Brasília.

3 de julho de 2015 – Por e-mail, Átila solicita a Modesto Roma Júnior e Paulo Verardi sete camisas autografadas do Santos para entregar durante a reunião com a Caixa.

3 de julho de 2015 – Verardi responde o e-mail dizendo que “não há condições para tal e nem é bom. Vamos levar uma camisa do Santos apenas”.

9 de julho de 2015 – Verardi comunica a presidência do Santos por e-mail que a negociação “evoluiu bem. As perspectivas são promissoras.”

14 de julho de 2015 – Átila solicita à Caixa o envio de documentos necessários para o patrocínio máster.

15 de julho de 2015 – Verardi avisa que “nada prejudicará o teu ganho pela abertura de portas” a Átila, depois que o empresário cogita oferecer outros patrocínios ao clube.

17 de julho de 2015 – Átila envia minuta ao clube na qual é autorizado a negociar pelo Santos.

***Na minuta, não há prazo. No documento firmado, o prazo da autorização é de 90 dias.

31 de julho de 2015 – Átila reclama do prazo de 90 dias. Verardi “dispensa” o empresário e agradece pelos serviços prestados.

8 de setembro de 2015 – Átila solicia ao Departamento Jurídico do clube a prorrogação da autorização. Verardi já não era mais funcionário do Santos.

Outubro de 2015 – De acordo com o prazo do contrato, Átila perde o direito de negociar pelo Santos.

Outubro de 2016 – Santos acerta patrocínio máster curto com a Caixa (até o final da temporada) por R$ 2 milhões.

Outubro de 2016 – Átila envia e-mails a Modesto buscando receber pela intermediação do negócio.

Março de 2017 – Santos renova com a Caixa por R$ 16 milhões. Átila envia carta a Modesto na qual ameaça até mesmo ir à Fifa caso não receba o valor que entende lhe ser de direito.