Jogadores em campo no intervalo do 5 a 2 contra o Fluminense (Crédito: Reprodução)

“Nascer, viver e no Santos morrer é um orgulho que nem todos podem ter”.

Parte do hino do Santos nunca deixou de ser verdade, mas, por alguns anos, o “orgulho” ficou borrado, sendo dito em voz baixa, com a mão da frente da boca, etc.

Entre 85 e 94, o Peixe não viveu, apenas sobreviveu.

Foram anos com times sofríveis, administrações péssimas e poucos ídolos, como Sérgio Guedes, Paulinho McLaren, Almir e Guga.

Quem nasceu na década de 70 se acostumou a ser o único santista da classe na escola, um dos poucos no bairro ou na cidade (claro que não na Baixada santista ou São Paulo). Ir para a escola depois de clássicos era um terror.

Por isso, os três gols de Guga no Corinthians em 94 são lembrados até hoje.

Chegou 95.

O time do Cabralzinho, do Edinho “papai gostou”, do zagueiro Narciso, de Carlinhos (o Renato antes do Renato), do Menino da Vila Marcelo Passos e, claro, do Messias Giovanni.

Dia 10 de dezembro de 1995 deveria entrar para o calendário como o “Dia do Orgulho Santista”.

Era praticamente uma missão impossível.

Após perder por 4 a 1 no Rio de Janeiro, o Santos precisava de uma vitória por 3 gols de diferença sobre o Fluminense para se classificar.

Mas o sol nasceu sabendo que seria um dia histórico.

Nas ondas da rádio Jovem Pan, o apresentador Milton Neves fazia todos os convidados soltarem o grito “Santos, meu amor”!

E foi assim o dia todo.

“Santos, meu amor!”, “Santos, meu amor!”

Aos poucos, o torcedor que invadiu o Pacaembu começou a acreditar: “Ainda dá”.

Giovanni prometeu fazer dois gols.

Fez o primeiro, após pênalti sofrido por Camanducaia, e o segundo, com a tradicional categoria de um craque no domínio que tirou o zagueiro e o faro de gol de artilheiro em um biquinho só para tirar a bola do goleiro.

Ainda faltava um.

No intervalo, os jogadores ficaram sentados no centro do gramado do Pacaembu, com os torcedores cantando de forma ensurdecedora.

“Não é mole, não, chegou a hora de gritar É campeão”.

Logo no começo do segundo tempo, Macedo fez o terceiro.

Era o gol que o Santos precisava.

Mas a noite ainda tinha um pouco de drama. Rogerinho diminuiu para o Flu.

Giovanni, de novo, criou a jogada e Camanducaia fez o quarto.

E chegou o quinto.

Em uma das maiores atuações individuais de um atleta com a camisa do Santos, Giovanni, cercado por três adversários, encontrou Marcelo Passos sozinho.

E Marcelo Passos fez o que Marcelo Passos fazia de melhor. Aquele corte para dentro e o chute de pé direito, com curva, no canto esquerdo do goleiro.

O espetacular Luciano do Valle, saudoso, definiu como “uma jogada histórica, que lembra Edson Arantes do Nascimento”.

A comparação pode parecer exagerada, especialmente para quem não viveu aquele momento, não viveu os 11 anos de sofrimento.

Mas para que, como eu, sofreu com muitas das situações citadas no início desse texto, fazia todo o santista.

Desde o time de Pelé o santista não sentia tanto orgulho como naquele 10 de dezembro de 1995.

O Santos 5 a 2 no Fluminense, que a TV Bandeirantes reprisa na tarde deste domingo, não tem o mesmo peso histórico que os títulos mundiais, da Libertadores, do jogo das pedaladas, etc.

Porque a história não é escrita apenas por santistas.

Se fosse, esse jogo teria um lugar muito especial, de honra.

Seria o jogo em que o impossível tornou-se possível.

E isso, como diz o hino, é um orgulho que nem todos podem ter.