Sonho realizado: gol marcado na Vila Belmiro (Crédito: Divulgação)

Quem não sonhou em ser um jogador de futebol? Fazer um gol, um gol. (leia isso no ritmo de “É uma partida de futebol”, do Skank.

Dez entre dez garotos da minha geração sonhavam em virar um atleta de futebol profissional, mas a grande maioria fica pelo caminho seja pela falta de talento, oportunidade ou por fazer opções diferentes durante o crescimento.

No meu caso, acho que a soma dos três pontos acima me fez um jornalista e não um atleta. Claro, sempre sonhei em jogar no Santos, fazer um gol na Vila, etc, mas nunca me dediquei como precisaria para transformar em sonho em realidade.

O talento? Sempre me destaquei jogando especialmente em campos de futebol Society. Nos clubes, o Rio Branco e o Iate de Campinas, fui artilheiro de diversos torneios. Tínhamos um time em uma chácara que ficou invicto por mais de dois anos, enfrentando algumas vez inclusive um time formado pelo ex-atacante Macedo e amigos que jogavam profissionalmente. Em São Paulo, fui tricampeão e três vezes artilheiro do Campeonato de Imprensa.

Para o futebol no campo, no entanto, pode se dizer que eu tive a tal “maturação tardia”. Fui apenas regular no “dente de leite” e infantil, bom no juvenil e juniores e muito bom quando cheguei ao “amador”. No meu melhor ano, fui semifinalista do Campeonato Amador de Americana e campeão do Torneio Natal sem Fome em Mogi Guaçu.

Até hoje é difícil identificar a “maturação tardia” e mais difícil ainda para um clube apostar e fazer a transição de uma categoria para a de cima de um garoto que ainda não brilha.

Então, o talento estava lá, mas era difícil de ser notado.

Sobre as oportunidades, tive algumas. A primeira quando eu tinha uns 14 anos, no início da década de 90. Como me destacava no Society do Iate Clube de Campinas, a diretoria queria me levar para o Guarani (alguns dirigentes do Iate eram dirigentes do Bugre). Meu pai disse que eu tinha que estudar.

Não fui para o Guarani, estudei e entrei na Unesp com 17 anos. Estudava em Bauru e era o único aluno de um curso de humanas no time da Faculdade (lá tem dezenas de cursos de engenharia). Conquistamos os Jubs, Jogos Universitários de Bauru.

Nessa época, o Santos marcou uma peneira em Lençóis Paulista, que não ficava tão distante de Bauru. Me inscrevi. Fui lá para jogar por 30 minutos, observado por Manoel Maria e João Paulo. Joguei bem até, mas como eles me falaram “precisamos de jogadores melhores do que aqueles que já temos. Do mesmo nível ficamos com o que temos”.

O professor/treinador da Unesp, um ex-jogador que tinha enfrentado o Garrincha na carreira, queria que eu jogasse no Noroeste. Marcou um teste em uma quarta-feira. Cheguei e tinha mais uns 50 “sonhadores”. Jogamos uma partida de 40 minutos, fui bem e me pediram para voltar com mais uns cinco ou seis na quinta-feira. Saí correndo dali para ir para a faculdade (estudava à noite).

Voltei na quinta e, além dos cinco ou seis da quarta, tinha outros 50 jovens lá. Mais 40 minutos de jogo e outro pedido para voltar na segunda, com mais quatro ou cinco. Segui o ritual de correr para ir para a Faculdade.

Na sexta, estávamos lá eu, os quatro ou 5 e mais 50. Já fui para os 40 minutos meio decepcionado. Mesmo assim, fiz o que eu sabia e fui chamado para voltar na segunda.

Aí apareceu a opção. Estava chegando cansado na faculdade, não estava mais com aquela pegada. Aquela dedicação que um cara que quer ser jogador de futebol profissional faltou.

Não fui na segunda e a última chance desapareceu.

Teve só mais uma história curiosa. Entre 2000 e 2001, não lembro ao certo, o Palmeiras fez um evento para inaugurar a sala de imprensa da Academia de futebol. Uma das atividades foi um jogo entre o time da imprensa (eu era setorista) e a comissão técnica, liderada pelo Marco Aurélio na época (ex-lateral da Ponte Preta).

O jogo terminou empatado em 2 a 2 e fiz os dois gols da imprensa, um deles de cavadinha na saída do goleiro. No churrasco após o jogo, o Mustafá Contursi, então presidente, veio falar com a imprensa e um amigo até brincou: “Presidente, contrata o Giovane”. Outro soltou: “Ao menos para o Palmeiras B dá”. Tinha a equipe B na época.

O Mustafá me olhou e perguntou, sério.

“Quantos anos você tem?”

23, presidente.

“Tá muito velho”, respondeu o Mustafá.

Ele tinha razão. Estava mesmo, mas ao menos a atuação na pelada com a comissão me rendeu um apelido para o Marcos, goleiro.

“Fala, Pelezinho do LANCE!”.

Era assim que ele me respondia quando fazia alguma pergunta.

Fiz algumas outras gracinhas aí, joguei com o Rivaldo em 2003, fiz gol no Pacaembu por volta de 2005, fui artilheiro do torneio gol de letra em 2012 e recebi o troféu das mãos do Raí.

Mas sabe aquele sonho lá do começo do texto? Ainda faltava.

Não falta mais. Sábado, em um evento promocional, tive a chance de vestir a camisa do Santos na Vila Belmiro. Me troquei no vestiário (me deram o armário do Júnior Caiçara), fiz aquecimento, subi pelo túnel, perfilei para o hino nacional, meu nome foi dito no sistema de som com a camisa 9.

Começou o jogo e com menos de um minuto perdi uma chance incrível, em um lance que seria um golaço. Fiquei com aquilo na cabeça.

No segundo lance, dei um drible de corpo e um passe lindo nas costas da zaga, corri para receber de volta, mas a bola não chegou (e o fôlego praticamente já acabou).

A perna já não ajudava mais. Aquele cara de 23 anos que o Mustafá considerou velho para o Palmeiras agora tem 46. Os 75 quilos daquela época se transformaram em pouco mais de 110.

Mas a cabeça ainda pensava. Dei uma assistência de letra para o Marcelo Passos, um dos meus ídolos do time de 95, marcar um dos gols. Perdi outro, mas ainda consegui balanças as redes nos minutos finais e realizar o sonho de marcar um gol na Vila Belmiro.

Não foi um gol bonito, mas como dizia o Dadá Maravilha, feio é não marcar o gol.

Sonho realizado, experiência que eu jamais esquecerei.