Dorival Jr conquistou a Copa do Brasil com o São Paulo neste domingo (Crédito: Divulgação/São Paulo FC)

O São Paulo empatou em 1 a 1 com o Flamengo neste domingo e conquistou o título da Copa do Brasil de 2023, o primeiro de sua história. A conquista teve como grande personagem o técnico Dorival Jr, que venceu a mesma competição pelo Flamengo na temporada passada e foi dispensado pela diretoria carioca no final do ano.

Nas redes sociais, torcedores do Santos (e também do Corinthians) reclamaram de suas diretorias por não terem contratado Dorival Jr após a saída do Flamengo. No Santos, as críticas para o presidente Andres Rueda foram maiores por ele já ter declarado algumas vezes que não contrataria o treinador. Rueda foi membro do Comitê de Gestão de Modesto Roma na última passagem de Dorival Jr pelo Santos.

Mas o presidente errou ao não contratar Dorival?

Vou fazer uma cronologia aqui sobre os momentos em que o Santos poderia ter contratado Dorival Jr. A primeira oportunidade foi logo no início da gestão, em 2021, após a saída de Cuca. Naquele momento, a opção de Andres Rueda foi pelo argentino Ariel Holan, que tinha acabado de conquistar o título chileno pela Universidad Católica.

Na época, Dorival Jr estava desempregado. Tinha sido demitido pelo Athletico-PR em agosto e 2020 depois de perder quatro partidas seguidas no Campeonato Brasileiro (uma delas para o Santos) e tinha perdido a Supercopa para o Flamengo por 3 a 0. Antes do Athletico-PR, tinha trabalhado apenas no próprio Flamengo, em 2018 (teve um sabático em 2019).

Na minha opinião, a aposta em Holan naquele momento fazia mais sentido.

Para a substituição de Holan, Andres Rueda apostou em Fernando Diniz, atual técnico do Fluminense e da Seleção Brasileira. Diniz tinha deixado o São Paulo no começo daquele ano depois de ter levado a equipe à liderança do Campeonato Brasileiro, mas perdido o fôlego na reta final da competição e ter sido demitido também pela mudança na gestão do clube do Morumbi.

De novo, na minha opinião, uma aposta totalmente válida.

Após a saída de Fernando Diniz, com o Santos flertando contra o rebaixamento, Andres Rueda contratou Fabio Carille. Dorival Jr continuava sem trabalhar. Carille tinha deixado o Al-Ittihad semanas antes. No entendimento da diretoria, o Peixe precisava de um treinador um pouco mais defensivo para escapar da Série B.

Essa é a primeira escolha mais discutível, na minha opinião, mas se mostrou uma escolha acertada. Com Carille (e depois Edu Dracena), o Santos melhorou de rendimento no Campeonato Brasileiro e confirmou a permanência na Série A.

A situação começa a mudar muito após a saída de Fábio Carille. Com Dorival Jr ainda desempregado, o Santos analisou os nomes de Renato Paiva e Fabián Bustos e optou pela contratação do argentino, que estava no Barcelona do Equador e não tinha qualquer relevância no mercado sul-americano.

Aqui acho que podemos apontar o primeiro erro de Andres Rueda.

Quando Bustos foi demitido, Dorival Jr já estava contratado pelo Flamengo. Não existia a chance de “repatriar” o treinador, mas existia a possibilidade de contratar um técnico bom. Rueda contratou Lisca….

Mais um erro.

Quando o Santos contratou Odair Hellmann, Dorival Jr ainda era o técnico do Flamengo. Ele seria demitido cerca de dez dias após o anúncio do acordo do Peixe com Hellmann.

Quando o Santos foi eliminado de forma vergonhosa pelo Ituano no Campeonato Paulista, Dorival Jr. ainda estava desempregado. Aqui foi mais uma oportunidade desperdiçada. Eu mesmo entendia que a troca precisava ser feita. Escolher Dorival Jr. poderia fazer sentido naquele momento. Ao contrário de momentos anteriores, ele vinha de um título da Copa do Brasil, não de trabalho ruim.

Mais um erro de Rueda, a manutenção de Odair Hellmann.

Nas trocas seguintes, Dorival Jr não era mais uma opção por já estar no comando do São Paulo. Mas Rueda tinha possibilidades melhores do que Paulo Turra e Diego Aguirre. Outros erros.

Pessoalmente, não sou fã do Dorival Jr. O tipo de liderança paternalista não é o que defendo. O atacante Luciano mesmo disse após o título que Dorival Jr é um “paizão” para eles. Eu não quero um paizão no meu time, eu quero um técnico (mesmo o futebol brasileiro sendo mais fértil para técnicos no modo paizão). Acho que o estilo paternalista provoca um impacto imediato, mas não se sustenta no longo prazo. Me lembro de Ganso e Robinho em 2010 chamando a responsabilidade para evitar tragédias em finais contra adversários mais fracos. Me lembro de Leandro Donizete e seus três anos de contrato, entre outras coisas.

Escrevi no twitter que o São Paulo quando o contratou tinha mais risco de rebaixamento que o Santos (e não vou apagar o tweet).

O que eu argumentei para dar essa opinião? O Santos ainda tinha na manga a carta da troca do técnico (Odair Hellmann) e da diretoria de futebol (Falcão) e teria muito dinheiro pelas vendas de Ângelo e Marcos Leonardo para reforçar o elenco enquanto o São Paulo estava em crise financeira e alguns jogadores pedidos pelo Rogério Ceni (como David) não seriam aproveitados pelo Dorival Jr.

O que aconteceu: O Santos demitiu Odair Hellmann e contratou técnicos piores que ele, vendeu Ângelo e Deivid e não conseguiu usar o dinheiro para grandes contratações (exceto Jean Lucas) enquanto o São Paulo contratou Lucas e James Rodrigues (e David não jogou mesmo).

Dorival Jr teve muito mérito de conduzir o time na conquista da Copa do Brasil, especialmente no confronto contra o Palmeiras. Teve um pouco de sorte de pegar o Corinthians com um técnico de trabalho ruim e o Flamengo em guerra interna entre jogadores, técnico e diretoria. A sorte não anula o mérito.

No Campeonato Brasileiro, o São Paulo tem quatro pontos a mais que o Santos. O aproveitamento de Dorival Jr é de 40% dos pontos. O do Santos de Odair Hellmann foi 39%.

O Santos está há tempos na zona de rebaixamento, o São Paulo ainda não correu riscos, mas não vence há oito jogos. Nos últimos dez, venceu apenas uma vez (justamente o Santos de Paulo Turra). Nesses dez últimos jogos, o São Paulo somou sete pontos. Nos últimos dez jogos, o Santos somou oito pontos.

Claro que a campanha na Copa do Brasil teve uma interferência, mas veremos como o título vai afetar o clube na sequência da competição.