Neymar brilhou na conquista do tri da América (Crédito: Santos FC)

Neymar não é meu ídolo pessoal. Não é nele que me espelho quando penso em quem quero ser um dia, não são as atitudes dele que me inspiram. Isso, no entanto, não anula o fato de que foi Neymar quem me fez viver algumas das grandes alegrias da minha vida enquanto torcedora do Santos Futebol Clube. Até porque, o futebol não é racional.

Torcida é emoção, é muito difícil colocar uma razão ali no meio.

E quando ouço diversos comentaristas, analistas de futebol menosprezando Neymar, eu sinto que isso faz parte também de quanto menosprezam o Santos Futebol Clube. Hoje mesmo estava consumindo um conteúdo sobre futebol quando ouvi alguém dizer que Neymar tem um histórico de reagir mal a momentos de grande pressão. Foram citados momentos como a Copa de 2018 e a final da última Champions.

Isso, pra mim, reflete o esquecimento pelo qual passa a origem de Neymar no futebol. Pasmem: ele não foi revelado no Barcelona – onde jogou muito e ainda foi protagonista ao se sagrar artilheiro da Champions de 2014-2015, marcando gol na final. Neymar foi revelado no Santos, onde ganhou Copa do Brasil e Copa Libertadores sendo o principal jogador do time.

Ao longo da carreira, Neymar foi subestimado. Não foi chamado pra Copa de 2010 por Dunga, por exemplo, e muitos acreditavam que aquele Santos sensação acabaria após a lesão de Paulo Henrique Ganso. O camisa 11 carregou o Santos nas costas. Consagrou Zé Love, fez gol na final da Libertadores no Pacaembu em cima do Peñarol, além de diversos outros jogos históricos daquela temporada.

Meu ponto aqui não é repetir besteiras como “é difícil ser Neymar”, mas é muito claro que ter começado no Santos, o time de Pelé e dono da mais linda história do futebol, deixa o jogador em desvantagem. Neymar levou o Santos onde apenas Pelé (junto daquele time histórico, claro) tinha levado. E mesmo assim, essa parte da história do craque é simplesmente ignorada por parte significativa da imprensa esportiva.

Neymar merece críticas, sim, por pataquadas, entrevistas toscas, envolvimento em polêmicas desnecessárias. Não há qualquer dúvida de minha parte sobre isso. Mas, será que não vale lembrar que com 18 e 19 anos teve a maturidade de levar um time de qualidade duvidosa às maiores glórias do século? Por que isso nunca é lembrado? Uma abordagem mais decente seria resgatar isso pra questionar: “onde está o Neymar que levou o Santos aos lugares mais altos do pódio?”.

Claro que há o distanciamento histórico, mas quem questiona Zico? Nunca ganhou nada pela Seleção Brasileira, mas foi ídolo no Flamengo, time de massa, e hoje é lembrado com carinho e devoção – inclusive, muito menos questionado que Pelé. Podem se doer, mas é verdade. Ninguém briga com os números de Zico, ninguém diz que Zico tem menos gols que ele tem. Ninguém aplica o terraplanismo do futebol em Zico, mas sim em Pelé.

Fazendo mais uma vez o paralelo entre Santos e Flamengo, Gabriel Barbosa é muito menos questionado que Neymar, em todos os sentidos. Fracasso retumbante na Europa, sem qualquer protagonismo na Seleção Brasileira, os feitos dele no futebol brasileiros são exaltados de forma totalmente desproporcional, se compararmos com Neymar. Claro, Gabriel é mais novo e tem mais margem de crescimento, mas Neymar é, sem qualquer sombra de dúvida, o melhor jogador brasileiro em atividade hoje e a tentativa de apagar ou negar esse fato é temerária. Se tivesse surgido no Flamengo, seria igual? Eu duvido.

Isso sem falar em Lucas Veríssimo, jogador que tem um futebol vistoso, digno de seleção, desde 2019. Mas só foi olhado com carinho quando deixou o Santos e foi para o Benfica. A gente sempre soube. Quem não sabia não viu o Santos dos últimos anos. Mais uma vez, ignorados e diminuídos.

É constante o apagamento da história do Santos. Os grandes nomes do Santos sempre acabam questionados de forma desproporcional. E é por isso que o santista defende tanto Neymar e sente tanto as críticas desproporcionais feitas ao jogador – que merece críticas em diversos momentos, mas talvez de outra maneira.

Santos e Neymar foram os últimos a conseguirem maturar um jogador, o maior brasileiro da atualidade, antes de deixa-lo ir para a Europa. Os jogadores brasileiros que deixam o país aos 18 anos de idade vêm empilhando frustrações, enquanto Neymar nunca deixou qualquer sombra de dúvida de que estava pronto para, aos 20 anos, ir brilhar na Europa, o que segue fazendo até hoje.

Se qualquer outro clube e qualquer outro jogador tivessem pensado nesse planejamento, seriam exaltados até hoje, 9 anos depois. Mas, como falamos de Santos e Neymar, é um assunto que nunca surge. Surgem, sim, sempre as críticas, os fracassos, os erros. E estamos cansados de só ver nosso time entre os principais assuntos quando o tema é terra arrasada.