Sereias foram eliminadas no Paulista (Crédito: Pedro Ernesto Guerra Azevedo/Santos FC)

A segunda-feira (1º) foi um banho de água fria pro torcedor santista que se importa com o futebol feminino. Nem o mais pessimista imaginava que as Sereias da Vila seriam atropeladas pelo São Paulo, sem apresentar nenhum tipo de perigo para as adversárias.

A sensação, sinceramente, é parecida com a de duas semanas atrás em relação ao feminino: tem algo muito errado, e precisamos de mudanças.

E se a diretoria do Santos efetivamente se importa com o futebol feminino, é preciso mudar. Agora. A mudança que sugiro não é de treinadora – apesar de ter críticas às escolhas feitas por Tatiele Silveira no jogo de hoje. O departamento de futebol feminino está largado, abandonado.

Amauri Nascimento, suposto responsável pela categoria, foi contratado pela gestão Rueda e nunca deu as caras. Não apareceu nem mesmo para dar explicações sobre uma acusação de tentativa de agressão de um funcionário do clube contra a ex-treinadora, Christiane Lessa. E convenhamos, uma equipe que derruba treinadora, da forma que foi, já mostra estar totalmente fora de controle.

Desde o início do ano está claro que o elenco foi montado de forma desequilibrada: muitas atacantes, poucas defensoras. Esse problema ficou exposto em todos os jogos grandes que as Sereias tiveram esse ano. Mudar de treinadora pode ter sido importante, já que os relatos eram de que o clima no vestiário era ruim, mas Tatiele não seria capaz de fazer milagres com um elenco mal estruturado.

Seguindo a cartilha de uma diretoria que não apoia e não se importa com o futebol feminino, as jogadoras treinam em um campo lamacento e vergonhoso no CT Rei Pelé. Demoraram para receber os uniformes novos. Não tem previsão de jogarem com o terceiro uniforme. A comunicação não informa o que acontece com as jogadoras lesionadas, como Dida, Thaisinha, Tayla. Para as semifinais do Paulista, o clube optou por não jogar na Vila Belmiro e ainda escolheu fazer uma partida sem torcedores.

A diretoria hoje demonstra não saber nada sobre a história que o Santos tem no futebol feminino. Maurine, uma das maiores jogadoras que já passou pelas Sereias, não teve oportunidade de voltar ao clube que serviu por tantos anos, onde conquistou tudo – e o Santos nem faz esforço de oferecer a despedida que ela merecia do futebol. Ao voltar para o Brasil, a jogadora anunciou a aposentadoria do futebol. E o Santos fingindo que não tem nada a ver com isso.

Isso sem contar com o desmonte da base santista, que já foi uma das mais fortes do país, e perdeu diversas jogadoras para rivais diretos nos campeonatos de formação. A diretoria insiste em tratar como “reformulação”.

Ninguém aparece para dar as caras ou qualquer informação sobre o futebol feminino. É constrangedor. É um time que já foi a maior referência do país na modalidade e, hoje, parece que, pela diretoria, só existe para cumprir tabela.

Mesmo vendo esse filme de terror acontecendo, a diretoria do Santos não fez o mínimo, que seria colocar uma pessoa competente para cuidar da categoria. Um time de futebol e sua comissão técnica precisam de estrutura, de cuidados específicos, de alguém que se importe com o elenco dentro e fora de campo. E o Santos não tem dado isso.

Em nada me surpreenderia se diversas jogadoras deixassem o Santos para a próxima temporada – e se depender de Amauri Nascimento e da diretoria do Santos, é capaz de nem mesmo reporem as peças.

Não adianta argumentar que a diretoria precisa pensar no masculino, que ainda não se livrou do rebaixamento. O CG pode terceirizar as responsabilidades, desde que contratem alguém que saiba o que está fazendo no cargo. Em dois jogos, a torcida já sente como fez diferença ter Edu Dracena no clube, por que a diretoria não pode pensar no mesmo caminho para o feminino? Se essa derrota humilhante servir pra isso, já terá sido positiva de alguma forma.

As Sereias da Vila estão ficando pra trás, graças ao descaso dos dirigentes do Santos, não só essa gestão, mas as passadas também – todos homens, curiosamente.