Edu Dracena e Andres Rueda em apresentação (Crédito: Ivan Storti/ SantosFC)

O Santos está sem um executivo de futebol desde agosto, após a passagem frustrada e relâmpago de Newton Drummond, o Chumbinho, e o presidemnte Andres Rueda, em entrevista ao podcast Hoje sim, do GE, explicou a demora para a contratação de um profisisonal para a área por desconhecer qual seria a função dele.

Mais do que explicar ao presidente a função, vou dar exemplos de como a atuação de um executivo de futebol durante a sua gestão poderia ter impactado de forma positiva no Santos.

Suporte ao técnico Ariel Holan

Andres Rueda fez uma boa aposta na contratação do argentino Ariel Holan, que teve sucesso anterior no Independiente, na U. Católica, e, após sair do Santos, no León. No Santos durou apenas 12 jogos e saiu após ser pressionado por torcedores depois da derrota no clássico contra o Corinthians.

Rueda declarou algumas vezes que deu total autonomia ao treinador. Erro total. O treinador não conhecia o futebol brasileiro e suas particularidades. Mal conhecia o elenco. E não teve qualquer tipo de suporte. Foram quatro decisões ou omissões em dez dias que provocaram a saída do treinador.

No dia 9 de abril, Holan encerrou a preparação para o jogo contra o Botafogo com Madson na equipe titular. Ele foi relacionado para o jogo e o treinador foi dormir com um cenário na cabeça. No sábado, acordou e foi informado que, por um erro do departamento de futebol, Madson não havia sido inscrito e não poderia jogar no sábado. Mudou todo o cenário para a partida e o Peixe ficou no empate em 0 a 0, na Vila, contra o time de Ribeirão.

No dia 13 de abril, Marinho reclamou publicamente ao ser substituído no jogo contra o San Lorenzo, que confirmou a classificação do Santos para a Copa Libertadores. Nenhum dirigente se manifestou com punição ou cobrança ao jogador. E é por isso, Rueda, que muitos jogadores não gostam de executivos. Holan, mais uma vez, ficou sozinho.

Na mesma semana, o Santos atuou na sexta-feira, dia 15, contra o Novorizontino, em Novo Horizonte, e ninguém questionou o treinador por levar o time titular para uma viagem desgastante para o interior dois dias antes do clássico contra o Corinthians na Vila Belmiro. O Santos perdeu para o Novorizontino por 1 a 0 e, no domingo, com reservas em campo, perdeu para o Corinthians na Vila por 2 a 0, o resultado que provocou a ira dos torcedores e as consequentes manifestações que culminaram com a saída do técnico.

Cobranças ao técnico Fernando Diniz

O papel do executivo de futebol é dar todas as condições ao treinador para que ele desenvolva o seu trabalho, mas também é dialogar sobre decisões, cobrar melhor desempenho e alternativas. Fernando Diniz começou muito bem o seu trabalho no Santos e alguns dos melhores jogos do Peixe na gestão Rueda foram com o treinador, como as vitórias por 2 a 0 sobre São Paulo e Atlético-MG no Brasileiro e a vitória sobre o Independiente na Sul-Americana.

No entanto, especialmente após as saídas de Luan Peres e Kaio Jorge, o Santos não conseguiu se reencontrar e os relatos de bastidores dão conta de que o técnico seguia achando que o time estava jogando bem. Não estava e alguém com conhecimento de futebol deveria tentar mostrar ao treinador que algo precisaria ser mudado (darei um exemplo de cobrança no próximo tópico).

Impacto da chegada de Dracena

Como citado acima, o papel de um executivo de futebol também é cobrar técnico e jogadores. Até a chegada de Edu Dracena, o técnico Fábio Carille tinha uma vitória, quatro empates e quatro derrotas no comando do Santos. Depois da chegada do ex-zagueiro, o Peixe engrenou e terminou o Brasileiro na 10ª colocação.

Sabidamente, a relação entre Dracena e Carille não era boa. Isso forçava o técnico a sempre atuar fora da zona de conforto e buscar as melhores decisões e boas alternativas. Técnico e executivo não precisam se amar, mas precisam se respeitar e trabalhar de forma profissional. A sequência da dupla não deu certo justamente porque faltou profissionalismo em 2022.

O impacto da chegada de Dracena ao Santos (e eu nem sei se a ideia foi dele, mas é papel também do executivo) também pode ser lembrado por intervenções feitas com o elenco, como no caso da palestra do ex-capitão do Bope antes do jogo contra o Fluminense. Esses tipos de intervenções devem ser frequentes e a responsabilidade por pensar em ações dessa natureza é do executivo.

Porta-voz do clube

O executivo do futebol também é, não exclusivamentem, um porta-voz do clube. Nos últimos dois anos, em diversos momentos, os torcedores sentiram falta de alguém para defender o clube, seja de ações de atletas, empresários, adversários, acontecimentos em campo. Todo clube precisa de uma voz ativa e faz parte do trabalho do executivo dar explicações aos torcedores e a toda a comunidade.

E as contratações?

Se vocês chegaram até aqui perceberam que nenhum dos argumentos citados acima tem relação com aquela que é apontada por muita gente como a principal função do executivo, as contratações. Até por isso, a declaração de que o executivo é um “empresário frustrado” faz menos sentido ainda.

Rueda delegou as contratações ao departamento de mercado e scout (formado hoje por uma pessoa) por considerar que o “scout” hoje é do clube e não do executivo. Qual o sentido disso?

Executivo e scout são profissionais contratados pelo clube. Até pelo posicionamento no organograma, a teoria diz que o executivo é um profissional com mais valências do que o scout, certo? O scout deveria dar informações da sua área para o executivo somar com informações de outras áreas e tomar a melhor decisão.

Em um cenário ideal, scout, técnico e executivo estariam alinhados dentro de uma filosofia do clube e as indicações tenderiam a ser convergentes.

O trabalho é muito mais amplo, mas usei esse espaço apenas para mostrar um pouco da utilidade do executivo de futebol para um clube de futebol. Espero que o Rueda reveja seus conceitos.