Rueda tem um desafio no último ano de mandato (Crédito: Pedro Ernesto Guerra Azevedo/Santos FC)

Franklin Foer escreveu um livro chamado “Como o futebol explica o mundo”. Nele, o autor apresenta diversos casos em que o futebol reflete a sociedade do país, como na Escócia, onde um time, o Celtic, representava os católicos, enquanto outro, o Rangers, era a representação dos protestantes.

No Brasil, Franklin Foer fez um paralelo entre a corrupção na política e no futebol, lembrando o caso do investimento da ISL, por exemplo. Foi lançado em 2004.

Atualmente, vejo no Santos um semelhança com o cenário do país. Temos “Gabinete do ódio”, que dissemina fake news nos grupos de whats app e redes sociais. Temos pedidos de renúncia do presidente Andres Rueda. Temos descrédito da instituição. Temos promessas não cumpridas. Impeachment? Já tivemos no Santos (se a memória não me falha, só no Santos entre os grandes de São Paulo).

O Santos é o clube mais democrática do Estado. É o único em que o sócio vota diretamente no presidente. Nas últimas eleições, foi o clube em que mais “eleitores” compareceram para votar.

Andres Rueda foi eleito por uma ampla maioria. Qualquer tentativa de tirá-lo do cargo é golpe (opa, algo que também já tivemos no país).

Não existe qualquer indício ou prova de que Andres Rueda desviou dinheiro do clube, fez contratos nebulosos, tirou benefício próprio do cargo. Se alguém aparecer com algo nessa linha, eu serei o primeiro a cobrar um processo de impeachment.

No entanto, achar que é errado pedir a renúncia de Rueda é bem diferente de achar que ele não deve ser cobrado.

Ele deve. E muito.

O aplicativo, uma das principais propostas da campanha, não saiu. O CT da base não vai sair. A Arena caminha a passos lentos. As lojas físicas não saem do papel. A distribuição dos poucos produtos oficiais segue péssima.

No futebol, uma decisão errada atrás da outra. Duas lutas contra o rebaixamento no Paulistão e duas das cinco piores campanhas no Brasileirão na Era dos Pontos corridos, iniciada em 2003.

Rueda avisou que não entendia de futebol. E, de verdade, nem acho que o presidente precisa ser um expert em futebol (aliás, poucos são). Ele deveria, no entanto, se cercar de pessoas que estivessem acostumadas ao ambiente de futebol, com uma certa malícia, com uma boa leitura do que acontece nos bastidores. E isso nunca aconteceu.

Disse certa vez que o presidente parecia uma freira em uma casa de entretenimento para o público masculino maior de 18 anos.

No futebol, você não tem de fazer malandragem, mas precisa ser “malandro”.

Com o tempo, as rusgas e o discurso de que só ele é honesto no futebol (o que está longe de ser uma verdade), a sensação que passa é que ele acabou se isolando demais. O CG, muito antes da mudança do Estatuto, estava esfarelado. Os problemas com Dracena e Chumbinho criaram um ranço com a figura do executivo de futebol, que provocou mais uma entrevista atrapalhada.

Rueda passou a ser mais centralizador. Não sei se foi um mecanismo de defesa ou a efeito daquela picada da mosca do poder, que transforma muitos líderes.

Nesse cenário, a pessoa passa a da ouvidos apenas a quem o bajula, não a quem o critica.

É um erro.

O Santos está atrasado. Nãm tem executivo, não tem técnico, não tem reforço contratado.

Rueda precisa entender que cautela é diferente de demora.

Presidente, não fique esperando o dinheiro da Liga para tomar as decisões. Acho até que um dia ela vai sair, mas não tão rápido como muitos acreditam.

Não é preciso sair gastando já esse dinheiro, como São Paulo e Corinthians fizeram esse ano, mas é trabalhar rápido com o orçamento já garantido. Se sair a Liga, você melhora algo já bem projetado (e investe em estrutura para melhorar o cenário futuro).

Bandeira de Mello foi muito criticado nos seus anos de gestão no Flamengo. O tempo mudou a percepção sobre o trabalho do ex-presidente.

Será que o tempo vai mudar a percepção sobre a gestão Rueda?

Acredito que vai depender de 2023.

E o próximo ano está, mais uma vez, começando errado.