Rueda e Falcão precisam encontrar ao menos sete reforços para o Santos (Crédito: Santos FC)

Nunca gostei da expressão “a base sempre salva” no Santos. Quando algo precisa ser salvo, é sinal de que as coisas não andam bem. Eu sempre defendi que a base deveria ser o diferencial competitivo do Santos. Em um contexto de um time maduro, bom, a entrada dos jogadores das categorias menores poderia ser “o pulo do gato”, como dizia o Mestre Cilinho, para o Santos superar os rivais.

Esse time bom nós não temos desde 2020. Desde o vice da Libertadores, praticamente todas as trocas feitas na “reformulação” do elenco foram ruins. Saíram Lucas Veríssimo e Luan Peres e hoje não temos uma dupla de zaga de confiança. Saiu o Pituca e até hoje não conseguimos encontrar um segundo volante. Marinho saiu e jamais tivemos alguém tão agudo como ele foi um dia.

Nossas escolhas não tiveram critérios técnicos, mas financeiros. Como o próprio presidente Andres Rueda reconheceu na renovação do Camacho, ao citar que o salário dele era baixo. O salário do William Maranhão também era baixo e hoje ele treina isolado aguardando uma proposta que não chega.

Como eu sempre digo, o Santos não está assim por não ter dinheiro, está assim por gastar muito mal o pouco dinheiro que tem. Com Nathan, Carabajal, João Lucas, Mendoza e Messias, por exemplo, o Santos gastou perto de R$ 25 milhões. Com Zanocelo mais uns R$ 10 milhões. Foram as contratações possíveis no carnê da Casas Bahia.

Poucos (ou nenhum) jogadores do elenco do Santos tem título na carreira. Não existe cobrança entre eles e sobre eles. O time é mudo em campo. O mantra da atual gestão é prezar pelo bom ambiente. Apenas isso.

Eu sempre falei para os jogadores com os quais trabalhei uma frase que ouvia da minha mãe e da minha avó: “é só venha a nós, nada do vosso reino”.

O elenco do Santos recebe muito mais do que entrega. Não tem salário atrasado (o básico na teoria, mas raro na prática). Jogador com salário em dia e contrato em vigor pede para ser liberado e é atendido. E você substitui ele por um jogador de qualidade pior. Já teve reclamação por horário de treino. Para brigar corretamente pelo “pão com opa” todo mundo briga, para brigar com os adversários o time é uma mãe. Mãe não, avó, porque mãe ainda dá umas broncas de vez em quando e com avó pode tudo.

O nível técnico dos treinos do Santos é muito baixo porque todo o elenco é limitado. Tailson se destacou nesses treinos no final do ano passado e teve até chance na reta final do Brasileiro. Hoje está encostado, sem proposta porque já foi emprestado duas vezes e não rendeu. No treino de segunda o “destaque” foi uma jogada entre Gabriel Pirani e Camacho. Existe um abismo entre o nível do treino e do jogo.

O Santos perdeu o maior tempo de preparação para uma temporada em décadas. Foram 30 dias de férias e 30 dias de pré-temporada. Jogados no lixo porque o presidente Andres Rueda, que não entende de futebol (não só porque ele disse esse frase em um contexto deturpado), foi o “executivo de futebol” no segundo semestre de 2022. Chegaram Falcão e Odair Hellmann e pediram tempo para avaliar os jogadores da base e os que voltavam de empréstimo. Onde estava alguém do clube para explicar que não precisaria de tempo?

Gabriel Pirani não jogou no Cuiabá, que lutou contra o rebaixamento até as últimas rodadas do Brasileirão. Vai voltar e jogar no Santos?

Nessa de avaliar o elenco, o melhor tempo de pré-temporada foi jogado no lixo. Porque, como todo mundo sabia, precisamos de ao menos uns sete reforços. Alguns para o time titular, outros para qualificar o elenco (e o treino).

Ah, mas “o time da Copinha está nas quartas e a base vai salvar o Santos”.

Não vai.

Do elenco listado pelo Santos para o Paulistão, 17 jogadores passaram pelas categorias de base. A base já tem de salvar o Santos da própria base.

Cadu, Balão, Ivonei, Miguelito, Deivid não vão salvar o Santos.

Se subirem agora, serão mais jogadores queimados em um clube sem um projeto esportivo, em um clube que se apequena a cada dia pela mentalidade de quem o dirige.