Marcelo Fernandes comanda o Santos contra o Vasco (Crédito: Raul Baretta/ Santos FC)

Vou escrever algumas coisas nas próximas linhas que não são segredo algum para qualquer torcedor do Santos. O “time do mundo” é um dos poucos (ou único) que tem a sua maior torcida distante de sua sede física. Isso é um ponto numérico, inquestionável. E não venham com essa de que o Real Madrid tem mais torcida fora da Espanha porque não é desse tipo de torcedor que estou falando.

Tal situação gera um “conflito de identidade”. Na minha ótica (e posso estar errado), essa situação foi amplificada na eleição de 2009, quando Luiz Alvaro de Oliveira Ribeiro venceu Marcelo Teixeira. Embora LAOR tenha nascido em Santos, ele construiu sua vida profissional em São Paulo e teve a primeira grande vitória na eleição santista de um “Faria Limer”.

Apesar de a maior torcida do Peixe estar em São Paulo, a vida política do clube sempre aconteceu majoritariamente em Santos. Desde a eleição de 2009 (ou mais após a eleição de 2009), vivemos a disputa entre o “Santos é de Santos” e o “Vem pra Sampa, Peixão”.

A nova “vítima” dessa dualidade é o técnico interino Marcelo Fernandes, que assumiu a equipe na vitória por 2 a 1 sobre o Bahia na última segunda-feira, pela 24ª rodada do Campeonato Brasileiro. O próprio ex-presidente Marcelo Teixeira foi às redes sociais para enaltecer a vitória santista e destacar a volta das “raízes” (veja abaixo).

Nas redes sociais, é impossível não perceber como Marcelo Fernandes tem o apoio majoritário dos santistas de Santos e recebe mais críticas daqueles mais distantes. Na minha opinião (e, de novo, posso estar errado) isso tem um pouco de provincianismo e um pouco de preconceito. E é bom deixar claro que nem todo torcedor de Santos é provinciano e nem todo torcedor de outros lugares é preconceituoso.

Marcelo Fernandes fez um grande trabalho contra o Bahia. Colocou jogadores importantes nas funções em que eles rendem (como Jean Lucas), apostou na improvisação de Dodô e ele foi bem, deu oportunidade a Kevyson, que correspondeu. Também foi abraçado pelo elenco, que não esconde a boa relação com o profissional. O Santos ganhou do Bahia porque foi melhor taticamente e porque os jogadores demonstraram mais vontade do que nos últimos jogos, especialmente contra o Cruzeiro.

A manutenção de Marcelo Fernandes no comando do Santos não deveria passar por ele ter “raízes” santistas, assim como a decisão pela não efetivação por ele não ter a aura de moderno que tantos sonham ou por ter as “raízes” santistas. Ele não pode sofrer com preconceito por ser de Santos.

A decisão deveria passar pela convicção de quem comanda o clube de que ele é a melhor opção para evitar o desastre do rebaixamento. A visão de quem está dentro do clube sempre deve ser melhor do que a visão de quem está fora. Fora temos em torno de 20% de informação sobre os bastidores, o dia o dia, etc.

Meu ponto sobre o Marcelo Fernandes é de a carreira dele não pode se limitar a estar no Santos ou não. Desde a primeira vez que entrou no clube há mais de 10 anos, ele só teve uma campanha regular na Portuguesa santista, emprestado pelo Santos, e outra ruim como auxiliar técnico do Sub-23 do Corinthians. Ele também precisa decidir se ele quer ser um técnico de futebol profissional ou se ele quer ser um eterno auxiliar do Santos. E aqui é uma decisão pessoal. Não acho que caiba julgamentos.

Nunca escondi minha preferência por treinadores estrangeiros. Na média, acredito que eles sejam melhores por N fatores, que já discuti em Lives no Canal do Diário. Os últimos que passaram pelo Santos não foram bem (assim como os brasileiros). Como o Gallo não é fã dos técnicos de outros países, as opções para o Peixe são a efetivação do Marcelo Fernandes ou a contratação de outro brasileiro.

A minha opinião: nessas condições (sem estrangeiros), se for para trazer outro técnico brasileiro que não conhece o clube e vai precisar criar uma sintonia com o elenco e com o atual interino, eu deixaria o Marcelo Fernandes até o final do ano.

Para finalizar, outra questão que precisa ficar clara: o torcedor de Santos não é mais santista de que o torcedor de São Paulo, de Campinas, do norte do Paraná, de Cuiabá ou de qualquer outro lugar que seja.