Ângelo não vive bom momento no Santos (Crédito: Ivan Storti/ Santos FC)

A primeira matéria do DIÁRIO DO PEIXE sobre o atacante Ângelo foi delicada. Em 2019, após defender a Seleção Brasileira Sub-15 em amistosos no Rio de Janeiro, o atacante reclamou de dores de cabeça, os médicos tiveram dificuldade para encontrar um diagnóstico e ele chegou a ficar alguns dias internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo (veja aqui).

Desde aquela época, Ângelo chamava a atenção pela qualidade técnica. Formava um trio de ouro no ataque da Seleção Sub-15 com Savinho, então no Atlético-MG e hoje no PSV, e Matheus Nascimento, do Botafogo. O trio foi titular na conquista do Brasil no Sul-Americano da categoria em 2019.

Neste final de semana, o trio esteve novamente em campo. No sábado, Savinho e Matheus Nascimento foram titulares na vitória da Seleção Brasileira Sub-20 sobre o Uzbequistão, em amistoso na Espanha. No domingo, Ângelo foi titular do Santos no empate contra o Atlético-MG, não teve uma boa atuação, saiu vaiado por torcedores e sofreu uma enxurrada de críticas nas redes sociais.

Acho que o cenário do final de semana mostra como o Santos agiu mal com Ângelo. Promovido ao time profissional por Cuca apenas para bater recordes de precocidade, o atacante teve seu processo de formação atrapalhado. Foi jogado aos holofotes como novo “raio” do Santos, ganhou a camisa do craque Neymar e criou uma expectativa sobre ele muito difícil de ser atingida.

Voltando ao trio da Seleção, Savinho tem apenas 53 jogos como profissional e quatro gols como profissional, sendo dois pelo PSV II, que defende no momento. Matheus Nascimento tem 75 jogos, mas quase sempre como um coadjuvante. No Brasileirão de 2022, por exemplo, teve apenas quatro jogos como titular. Tem oito gols como profissional, sendo sete deles no Campeonato Carioca. Nenhum no Brasileiro.

Nenhum deles é tratado como “bagre”.

Ângelo já completou 113 jogos com a camisa do Santos. Tem três gols, um no Brasileirão, uma na Copa do Brasil e um na Copa Libertadores. No ano passado, foi o maior driblador e o maior assistente do Campeonato Brasileiro. Veja posts abaixo. E mesmo assim segue sendo um dos principais alvos dos torcedores.

A melhor sequência de Ângelo em assistências e gols no Brasileirão de 2022 aconteceu na reta final, com o Santos sob o comando de Orlando Ribeiro, técnico acostumado a trabalhar com jogadores de categorias de base. O único gol saiu na vitória sobre o Red Bull Bragantino, mas ele deu um assistência na vitória sobre o Juventude, duas contra o Atlético-GO, por exemplo.

Neste ano, com Odair Hellmann, o futebol de Ângelo sumiu, assim como o de quase todos os jogadores da equipe. Nenhum atleta do Santos evoluiu de 2022 para 2023, especialmente os atacantes. Soteldo está mal, Marcos Leonardo está muito mal. O estilo de jogo e a desorganização da equipe dificultam o desempenho do trio.

Existe uma regra muito clara no futebol de que o coletivo potencializa o individual, nunca o contrário. O Santos não tem qualquer trabalho coletivo do meio-campo para o ataque.

Ângelo provavelmente não será o novo Neymar. Desde aquela matéria lá atrás sobre a joia do Santos internada no Einstein, cobro dele um maior número de gols. Na Seleção, ele sempre foi menos goleador do que Savinho e Matheus Nascimento. No Campeonato Paulista Sub-15, fez apenas cinco gols e foi o quarto artilheiro do clube, atrás de dois jogadores que nem estão mais no Santos e de um volante (Hyan).

Além do número baixo de gols, ele toma muitas decisões erradas na hora de driblar, de prender a bola e de soltar. Não fosse a corrida pela precocidade com o Cuca, ele teria ficado mais uns dois anos corrigindo esses problemas na base, longe das vaias e pressão de 11 mil torcedores na Vila Belmiro e de outros milhões que acompanham os jogos pela TV e com o celular na mão com o dedo nervoso para disparar hate nas redes sociais.

Agora não tem mais volta. Ele vai ser vendido na janela do meio do ano por um valor substancial porque observadores de grandes clubes europeus olham mais para o desempenho em seleções de base do que para o Campeonato Paulista, olham mais para o potencial do que para as atuações em times completamente desorganizados. Sabem que ele não será comandado por Hellmanns e Liscas da vida.

Até o meio do ano, veremos mais críticas do que elogios, mais dribles na hora errada do que assistências, mas finalizações sem sentido do que gols. E é uma pena que seja assim.

Que ao menos isso sirva de lição.

Para ele, que entrou na “onda” do novo raio, surfou com a fama e muitas vezes passou a impressão de que tudo é uma grande brincadeira, que vai resolver todos os problemas com alguma dancinha ou com o cabelo novo. A vida não é assim.

Para o clube, que adora promover os Meninos da Vila, abandona processos e contrata treinadores incapazes de lapidar as pedras brutas que chegam ao profissional pulando etapas.