Presidente Andres Rueda, do Santos Crédito: Raul Baretta/Santos FC))

Antes de começar esse texto, preciso deixar claro algo óbvio. Elaborar um planejamento para um clube, uma empresa ou uma entidade pública (Prefeitura, por exemplo) é muito mais fácil do que executar esse planejamento. Quem já esteve em uma posição de liderança de alguma dessas instituições sabe bem como funciona, mas o simples torcedor não tem obrigação alguma de saber.

Dito isso, o presidente Andres Rueda falhou em sua proposta para o Santos. Não que tenha falhado na totalidade, mas o principal ponto da sua campanha, o seu grande desejo desde a eleição perdida pela “Santástica União” para José Carlos Peres e Orlando Rollo era a “União pelo Santos”, nome até da sua chapa para 2020. Chapa essa que ganhou a disputa com ampla maioria dos votos e teve a totalidade dos conselheiros eleitos para o triênio.

O Santos de junho de 2023 está muito longe de estar “unido”. Com o desempenho esportivo definhando, com inúmeras quebras de marcas negativas, com fracasso atrás de fracasso, o clube hoje está desunido e “menor” do que aquele que o dirigente pegou em janeiro de 2021.

A desunião começa pelo próprio Comitê de Gestão, que perdeu membros (José Renato Quaresma, Walter Schalka, Ricardo Campanário, José Berenguer e Vitor Sion) por motivos não totalmente ligados aos rumos do clube, mas com alguma insatisfação com a situação santista.

O CG inicial de Andres Rueda. Se esteve pronto algum dia, não está mais unido (Crédito: Divulgação)

Passa também pelo Conselho Deliberativo, que demonstra sua insatisfação reunião após reunião.

Sei que muitos torcedores cobram uma posição mais enérgica dos conselheiros, mas democraticamente nenhum clube, cidade ou até mesmo o país tem mecanismos para tirar um “governante” eleito apenas pelo fato dele ser incompetente para o que se propôs a fazer.

O voto é um cheque em branco.

Rueda falhou por não entender qual a essência de um clube de futebol.

Gosto muito de cinema e vou fazer um paralelo com o filme “Gladiador”, sucesso de bilheteria.

“O coração pulsante de Roma não é o mármore do Senado, é a areia do Coliseu”, disse o senador Graco.

O coração do Santos não está no salão de mármore ou no ar condicionado das salas do Estádio Urbano Caldeira, mas nas arquibancadas da Vila Belmiro (aliás, tenho sérias dúvidas se Andres Rueda algum dia colocou o bumbum em uma arquibancada quente de estádio).

O Santos é do seu torcedor.

Com diz o amigo Diogo Kotscho, um clube de futebol não existe para dar lucro, existe para ganhar.

De nada adianta planilhas bonitas (que nem são tão bonitas assim) e um futebol medonho, com a marca registrada de um técnico como Odair Hellmann.

Além de ter falhado na proposta “macro”, Andres Rueda falhou em outras ideias. O novo CT não saiu, a Arena ainda não saiu, a Copa Pelé (lembram?) não saiu. Os alardeados “ótimos números do marketing” apenas acompanharam o inflacionamento do mercado pela explosão das Casas de Apostas (de acordo com relatório da EY, o Santos teve apenas a 9ª receita comercial em 2023).

Uma das “novidades” para a gestão seria o aplicativo, que demorou para sair e pouca gente sabe como (e se) funciona. Encontrei até no Twitter da União pelo Santos uma imagem ilustrativa simbólica, mas quase atual.

O app do Santos está no ar, mas é pouco explorado (Crédito: Reprodução)

Alguém entrou no app para votar se o Santos deve ou não comprar o Soteldo?

Rueda tem mais seis meses e três trunfos para salvar o mandato: QSI, Arena e Liga.

O futebol, com seus responsáveis e equipe, não deve mudar muito.

Agora acho errado que Andres Rueda é o pior presidente da história do Santos, mas talvez seja a maior decepção.

Tinha todas as ferramentas para ser um transformador, mas se esqueceu que união é feita com boa gestão.

Especialmente no campo.