“Se você está se referindo às práticas de futebol que existem hoje, eu diria que não entendo, não quero entender e tenho raiva de quem entende”.

A frase dita pelo presidente, Andres Rueda, em resposta a Miltinho Teixeira em um debate antes da eleição para a presidência do Santos em 2020 virou meme e reaparece a todo vexame (e são muitos) do time na temporada.

Presidente de um clube de futebol não precisa necessariamente entender de futebol. Não vejo problema algum nessa parte da frase. Para ficar no exemplo do Santos, dois dos melhores presidentes da história recente do clube não eram “entendidos” de esquemas táticos e movimentações do jogo, casos de Samir Abdul-Hak e Luís Álvaro de Oliveira Ribeiro.

A terceira parte da frase sempre foi um problema e deveria ser mais discutida durante a própria campanha. Um presidente de um clube de futebol não pode ter raiva de quem entende de futebol. Nem que seja de quem entende das práticas atuais do futebol, que era o sentido da frase do Rueda no debate.

Ele assumiu a presidência querendo mudar essas práticas, mas para mudar ele precisaria conhecer de fato. Ou trabalhar com quem entendia muito bem do cenário. Como aprendi com um grande amigo, que trabalha com o futebol há mais de 25 anos, você não vai conseguir mudar o mundo sozinho. Você precisa ser hábil em negociar com ele.

O Santos nunca teve alguém que entendesse de futebol ao lado do presidente para negociar com o futebol que ele (Rueda) tinha tanta raiva. Em diversas vezes, faltou “networking” ao clube.

A segunda parte da frase se tornou problemática no meio da metade para o fim da gestão. Em um determinado momento, acredito que após a saída do executivo Edu Dracena, Andres Rueda passou a querer “entender de futebol”. Mais do que isso, passou a achar que realmente entendia de futebol.

Com a contratação de Paulo Roberto Falcão para o cargo de coordenador de futebol (veja bem, ele não foi contratado para ser o executivo de futebol do Santos), Andres Rueda seguiu fazendo o papel que teve desde o segundo semestre de 2022, o de responsável pelo departamento de futebol do Santos. Transferiu a maior parte da sua rotina da Vila Belmiro para o CT Rei Pelé.

Nesse período, se aproximou de antigos desafetos (empresários) e se afastou de pessoas que o ajudaram na campanha. Se perdeu no comando do clube e não se encontrou no comando do futebol.

O Santos hoje está acéfalo.

Tem um coordenador de futebol que não erra o nome de alguns jogadores, se confunde sobre a carreira de outros, passa a semana fora em plena janela de transferência, assiste a um jogo de tênis minutos antes de um clássico, desconhece negociações que estão em fase final e está desconectado da realidade do clube na tabela de classificação.

Tem um técnico que está na primeira grande experiência solo na carreira (e foi muito mal nas primeiras experiências pequenas), não tem o menor tato para liderar pessoas e um conhecimento tático discutível.

Tem um elenco ruim, acomodado, sem títulos, com jogadores que não deveriam estar ali e que parecem jogar apenas para receber o salário no mês seguinte. Faltam ambição, tesão, paixão, entrega, comprometimento, entre outras coisas.

Sem comando, o clube sofre com vazamentos de todos os lados e os personagens mandam indiretas nas redes sociais.

É o caso clássico da casa em que falta o pão.

Todo mundo grita e ninguém tem razão.