Andres Rueda é um dos líderes da Libra (Crédito: Ivan Storti/Santos FC)

O Santos está do lado errado na disputa entre os dois grupos formados na tentativa de criação de uma Liga para o futebol brasileiro. O presidente Andres Rueda é um dos líderes da Libra, grupo que conta com Flamengo, Palmeiras, Corinthians, São Paulo, entre outros. O outro grupo, o Futebol Forte, tem clubes como Atlético-MG, Athletico-PR, Internacional e Fluminense.

Nas últimas semanas, os dois grupos divulgaram uma projeção de receita para os clubes. Na Libra, as projeções variaram entre R$ 2 bilhões de receitas totais e R$ 4 bilhões de receitas. No cenário mais pessimista, o Flamengo, primeiro do ranking, receberia R$ 236 milhões enquanto o Santos, 0 12º na lista, receberia R$ 86 milhões. No cenário mais otimista, com R$ 4 bi de arrecadação, o clube carioca receberia R$ 375 milhões enquanto o Peixe ficaria com R$ 194 milhões.

É preciso deixar claro que as projeções foram baseadas no desempenho esportivo dos últimos anos e, como sabemos, o Santos fez dois péssimos campeonatos, mas a fórmula deixa claro que, quanto maior a arrecadação, maior será a distância dos primeiros para os intermediários e últimos. No cenário dos R$ 2 bilhões, a diferença entre Flamengo e Santos era de R$ 150 milhões. Na projeção de R$ 4 bilhões, a diferença saltou para R$ 194 milhões.

É mantida a lógica burra que acabou com o Clube dos 13. Andrés Sanchez, então presidente do Corinthians, implodiu o grupo em nome das negociações individuais com TV. Todos os outros clubes ficaram felizes porque passaram a ganhar mais, mas não perceberam que a diferença entre eles e o Corinthians aumentou. Os números não são exatamente esses, mas o Corinthians faturava algo como R$ 120 milhões e passou a faturar R$ 200 mi. O Santos faturava R$ 60 milhões e passou a faturar R$ 90. Ficou feliz porque aumentou o rendimento em 50%, mas a diferença para o Corinthians era de R$ 60 milhões e passou a ser de R$ 110 mi.

Me parece claro que a Libra tem um maior poder comercial e o seu investidor, o fundo árabe Mubadala, um potencial econômico maior, mas essa diferença entre os clubes não pode ser tão grande e nem a tal regra de transição, que dá uma garantia a Flamengo e Corinthians, pode ser tão longa. Na projeção da Libra, a diferença entre a receita do primeiro e do último colocado nunca ficaria abaixo de 3,4 vezes. Na Premier League, que deveria ser usada como benchmarking, a diferença entre o primeiro e o último é de 1,6 vezes.

O Futebol Forte fez uma projeção sobre uma receita de R$ 4,8 bilhões. Nesse caso, o Flamengo, primeiro colocado, receberia R$ 225 milhões, o Santos R$ 214 milhões e a diferença entre o primeiro e o último seria de 1,9 vezes.

A Libra me parece disposta a garantir os privilégios de Flamengo e Corinthians porque todos os clubes estão com o pires na mão e só pensam na hora de terem os milhões das Luvas do contrato. O Santos não deveria aceitar essas condições, não pode abaixar a cabeça para esses times.

O dinheiro que pode mudar o futebol brasileiro não está aqui, está fora do país (nos direitos de TV internacionais, por exemplo). E nesse novo mundo, nenhum clube é tão reconhecido e valorizado como o Santos.

E para não dizer que não falei das flores, sigo sem acreditar em uma Liga de fato no Brasil. A maioria dos clubes não quer uma Liga, quer dinheiro. Liga prevê decisões conjuntas sobre assuntos do interesse de todos, aqui só sabemos olhar para o próprio umbigo. Não queremos discutir Fiar Play Financeiro, profissionalização da arbitragem, padronização dos patrocínios em uniforme (nas ligas americanas, por exemplo, os espaços são limitados para ninguém jogar de abadá), estrutura de estádios, qualidade dos gramados, etc.

A Liga (ou as Ligas) vai sair, mas pelos motivos errados.

Tenho dúvidas se vai durar.